Mensalão: A história passada a limpo Por Paulo Rubem Santiago - deputado federal PDT-PE, especial para o Blog de Jamildo As primeiras condenações do processo conhecido como “Mensalão” me trazem à lembrança momentos difíceis que vivi nos primeiros anos do governo Lula, ao lado de 21 deputados federais eleitos em 2002.

Mal começava o governo e um vídeo não muito antigo aparecia em rede nacional mostrando, já naquele momento, um então assessor do então Ministro José Dirceu solicitando ao empresário de jogos e loterias Carlos Cachoeira uma comissão sobre contribuição de campanha.

De pronto defendi a investigação do fato para que, no nascedouro, pudéssemos separar o joio do trigo.

Fomos então atacados por outros parlamentares que nos acusavam de jogar para a oposição e de por em risco o “nosso projeto“.

Meses depois, ainda no primeiro mandato de Lula, revelações de um surpreendido Roberto Jefferson, então Presidente Nacional do PTB, falando de um tal “Mensalão”, trariam de volta suspeitas de corrupção na gestão de recursos públicos e de seu possível uso para a satisfação dos interesses de partidos da base aliada ao governo.

Segundo o dirigente petebista “vocês ainda vão ouvir falar muito de um carequinha chamado Marcos Valério”.

Novamente, ao lado de outros parlamentares do PT, propus a convocação de uma CPI.

Como antes, a maioria dos deputados petistas nos atacou e o partido ampliou a discriminação que vínhamos sofrendo em todas as instâncias e esferas partidárias.

Aqui, o boicote mais explícito se deu na falta de apoio político e financeiro para as eleições municipais de 2004 quando disputei pela segunda vez a Prefeitura de Jaboatão, pleito para o qual havia sido convidado pelo partido em 1999, para concorrer, pela primeira vez, em 2000, em função das investigações e denúncias de corrupção que havia feito, como Deputado Estadual, contra a gestão do ex-prefeito Newton Carneiro.

De lá para cá a história do “Mensalão” foi acompanhada por milhões de brasileiros.

Agora, com as primeiras condenações pelo STF, fica evidente a legitimidade da defesa que fizemos pela investigação das denúncias de Roberto Jefferson.

Casos como esse, com arquiteturas similares, espalham-se, ainda sem julgamento, nas gavetas dos Tribunais de Justiça dos Estados, fruto de Ações Penas e Civis Públicas por Improbidade elaboradas pelo Ministério Público.

Além disso, nos preocupa a omissão de centenas de Câmaras Municipais que, após meses e até anos, não julgam os pareceres dos Tribunais de Contas, TCEs, pela rejeição das mesmas em várias gestões municipais.

Com isso os TREs estão liberando candidatos com fichas sujas para que disputem novamente esse ano, sob o argumento de que os legislativos municipais não analisaram os pareceres dos TCEs.

O interesse público, ancorado na presunção da culpabilidade concluída em várias instâncias, vai para a lata do lixo.

Para piorar o cenário, as relações entre a gestão pública e os interesses privados ficam, a partir das campanhas, cada dia mais reféns e expostas à criminalidade.

A primeira prestação de contas da arrecadação das eleições de 2012 mostrou essa semana, em todo o Brasil, a liderança das empresas de construção civil como os principais doadores.

Embora legais tais doações reforçam a dúvida sobre os reais interesses contidos nessa parceria.

Ermínia Maricato, Prof.

Titular da USP e ex-Secretária Nacional das Cidades no primeiro governo Lula, afirmou recentemente que tal costume vem viciando as escolhas dos gestores eleitos nas cidades quanto à natureza dos investimentos que farão, revelando-se que, em muitas ocasiões, são privilegiadas as obras apontadas pelos grandes doadores.

Lastimável.

Um risco à democracia.

As decisões do STF agora em curso reforçam o combate à corrupção como dever de estado e da sociedade, para que as atuais e futuras gerações vejam a política, sim, como o caminho ético pela produção do bem comum e não como uma saída esperta, impune, para se obter fortuna e poder à custa do patrimônio de todos.