Por Otávio Luiz Machado* Uma semana após o início do guia eleitoral nas rádios e TVs, o que se vê claramente é o enorme exagero na forma de apresentação dos candidatos a Prefeito nas propagandas veiculadas.

O Prefeito João da Costa é o grande alvo de todos, seja quando é lembrado, seja quando é ignorado e esquecido no guia eleitoral.

Na campanha de Geraldo Júlio (liderado pelo PSB) ele é colocado como uma pessoa não séria e não trabalhadora, porque o candidato Geraldo Júlio é apresentado como alguém sério e trabalhador diferentemente daquele que aí está.

Na campanha de Humberto Costa ele sequer é citado, mas o candidato deixa transparecer que é aquele que apareceu para salvar a cidade e o PT do prefeito ingrato.

O fato é que o prefeito fica numa posição muito desconfortável na campanha, porque não toma posição e nem se defende diante dos inúmeros problemas que lhe são debitados.

Nem tudo é culpa dele, mas também da omissão da Câmara dos Vereadores e de setores da sociedade civil, que deveriam ter sido mais enfáticos na pressão junto à Prefeitura.

A estratégia de terra arrasada nas diversas campanhas vai atingir a parcela da classe média para cima, que até pode compreender que o País e o Estado de Pernambuco vão bem enquanto a cidade está muito mal.

Nas classes desprivilegiadas isso não vai repercutir muito, porque gradativamente nos últimos anos a sua condição de vida vem melhorando. É óbvio que novos direitos e demandas acabaram fazendo parte desse grupo, mas como eleitores não vão se esquecer de quem começou a mudar a vida deles, nesse caso o ex-Prefeito João Paulo e o próprio ex-Presidente Lula.

Isso é nítido nas conversas com pessoas diversas por aí.

A criação das condições básicas para a melhoria da vida dessas pessoas também são associadas ao governador Eduardo Campos, mas isso não está muito nítido quando tratamos do micro.

Também não é muito verbalizado, porque o governador está muito associado a projetos que vão repercutir no futuro.

No dia a dia, no cotidiano e nas necessidades urgentes o povão não está com o governador em sua maioria nesses bairros mais populares.

Geraldo Júlio é apresentado ao mesmo como goleador, artilheiro e técnico bem-sucedido do time, como se isso fosse possível.

Ele joga, comanda o time e coordena o jogo, o que é algo humanamente impossível.

Nem Pelé, que era considerado um ser sobrenatural, conseguiu ser isso tudo ao longo de sua vida.

Também é colocado como o artífice na área da saúde, da segurança pública e na geração de empregos do Estado de Pernambuco ao mesmo tempo, como se fizesse tudo e estivesse em todos os momentos atuando de frente em tudo. É algo administrativamente impossível.

Até o fim da campanha vão colocá-lo como o governador do Estado de fato, principalmente alguém que merece governar não apenas a cidade de Recife, mas o Brasil.

Mas o fato é que ele administra o trabalho dos outros, cuja conjuntura favorável beneficia tudo que é feito.

No caso de Mendonça Filho o exagero é posto quando ele é colocado como o candidato do povo, bem como o nome que trouxe desenvolvimento econômico ao Estado de Pernambuco.

Um nome vindo da elite e que não tem tanta simpatia dos cidadãos que moram nas periferias, mas sim das áreas mais ricas da cidade.

Também quer ser o pai do desenvolvimento econômico, mas isso é fruto de um trabalho de várias gerações e que foi impulsionado nos últimos anos com decisões políticas de vários níveis de governo.

Como ficou à sombra de Jarbas Vasconcelos por muito tempo e não conseguiu debitar muitas realizações na sua conta, o que se vê agora na campanha é seus antigos aliados o colocando como uma figura do atraso, da incompetência e da falta de projetos que trouxeram um futuro à cidade.

O candidato Daniel Coelho se coloca alguém com conhecimento total da cidade e com ampla experiência administrativa, mas nem tudo que se diz é de fato.

Não basta conhecer visualmente a cidade, mas é preciso ter dados sobre ela, incluindo a sua história, as tendências econômicas, sociais, etc.

Não se tem conhecimento de nenhum destaque do candidato na área executiva, e sim na legislativa.

Também ficou difícil a ele se sustentar como o candidato do “novo”, porque ele mudou do enigmático PV para o pragmático PSDB, que por aqui não temos figuras tão ligadas ao “novo” como parece.

Humberto é colocado como parte de um celeiro de gestores eficientes do PT e usa e abusa na apresentação do ex-Presidente Lula na campanha.

Ele sim apresentou novidades nos projetos que criou e executou nos cargos de Secretário e de Ministro da Saúde, mas suas gestões não foram bem avaliadas.

Lógico que tratamos da percepção quanto à gestão em pesquisas de opinião, o que não significa que deixou de agir ou foi efetivamente parte de gestões fracassadas.

Tendo como caso a administração do PT na Prefeitura de Recife nos últimos três anos ligado à sua imagem, o que se vê é que na Prefeitura o PT ainda manteve a solidariedade e a preocupação com os cidadãos que mais precisam, mas que isso só ficou na intenção e no respeito a eles, porque nas realizações concretas isso não foi plenamente alcançado nos últimos três anos.

O ex-Presidente Lula não mora na cidade a tal ponto de dizer o que é bom para o recifense, mas a história da contribuição dele às gestões de João Paulo que beneficiaram a cidade não pode ser apagada.

Ao trazer tudo para si como resultado da eficiência na gestão pública única e exclusivamente, Geraldo Júlio “esquece” de dizer que programas ou amparos governamentais federais foram decisivos para o sucesso de várias políticas do Estado.

Sem o Pronasci na segurança pública, o aporte do BNDES nos empreendimentos econômicos ou a decisão direta do ex-Presidente Lula e da Presidenta Dilma em quase tudo que veio para Pernambuco nas mais diversas áreas isso não seria possível. É muito fácil ser competente quando os recursos e os apoios são enormes.

Mesmo assim não podemos ignorar que as chances que foram criadas ou apareceram foram muito bem aproveitadas e com competência pelo governador Eduardo Campos.

O que vejo é que as propagandas vieram para confundir o eleitor e não debater de fato a cidade, porque o ilusionismo é enorme.

Isso não vai mudar até as eleições e deve se intensificar, o que não vai ajudar.

A chance única de debater serão os debates propriamente ditos entre os candidatos.

O que se espera é que os organizadores dos mesmos disponibilizem as imagens na “internet”.

Também percebo uma certa ditadura da desinformação, porque até em debate pela “internet” (que considero como uma mera transmissão), o conteúdo não fica ali disponível após a sua realização.

Nem tod@s podem estar no horário marcado acompanhando a programação, embora tenham o direito de ter acesso a esse conteúdo.

O que passou na televisão na última semana não vai ajudar na formação de um voto consciente dos eleitores, porque os exageros, os truques de imagens e a manipulação das informações alcançaram um alto grau e ficaram como o foco principal.

Não se pode fazer propaganda política como uma propaganda de produtos, porque o debate de idéias, a formação do voto consciente do consciente do eleitor e a projeção de uma cidade que queremos precisa ser feita com uma produção que tenha responsabilidade cidadã.

E estamos muito longe de alcançar isso nessas eleições, porque o enredo das peças de campanha dos principais candidatos não informam, são ficcionais e tratam o eleitor como um ser nada inteligente.

Por isso que o tema eleições não está tão debatido nas conversas diárias de pessoas em diversos momentos e lugares.

Nem a propaganda intensa está mexendo com a cidade, porque a cidade ainda não entrou nas eleições desse ano, mas sim nomes, siglas e uma propaganda política desfocada e divorciada do que todos querem. É só andar na cidade e perceber. É só ler que esse tema não está entre os mais comentados nas matérias de jornais. *Otávio Luiz Machado é educador, pesquisador, escritor e documentarista. otaviomachado3@yahoo.com.br