Por Luciano Siqueira O ponto de partida é o posicionamento político.
Quando se inicia uma campanha em posição incômoda, vale o ditado popular: pau que nasce torto morre torto, pois é muito difícil apagar tudo e recomeçar.
Na disputa de postos executivos – prefeito, governador, presidente da República – o desarranjo congênito é fatal.
Isto porque tudo o que se coloca como decorrência – a proposta programática, a orientação tática, o discurso, o trato de aliados e adversários, a propaganda nas diversas mídias – termina por se revelar confuso e descolado da realidade.
Um traço característico do posicionamento político incômodo e frágil é a incoerência do discurso.
O que vale para si não vale para os concorrentes.
Aplicam-se a situações semelhantes dois pesos e muitas medidas, conforme a própria conveniência.
Um partido político, no dizer dos seus porta-vozes, dá-se ao direito de concertar alianças várias e heterogêneas onde lhe for necessário, mas condena veementemente (sic) igual postura tática se praticada por adversários. “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, passa a ser a regra.
No Brasil dos nossos dias o fato é conhecido em tempo real, quanto mais agora que a internet se coloca ao alcance de todos.
Por isso não fica bem a uma agremiação partidária exaltar sua largueza de visão e sua generosidade política ao incorporar apoios de adversários ferrenhos de outrora numa grande cidade, por exemplo; e descarregar ira inquisicionista sobre adversários que se movem pela mesma conduta tática em outra cidade de igual porte.
A incoerência se revela à luz do dia, aos olhos de todos.
Quando se trata de gente calejada, cujo aprendizado tático a vida lhe ofereceu de modo magnânimo, pois coroado por vitórias marcantes, tamanha incoerência só pode ser fruto de um posicionamento equivocado e incômodo.
Nessas circunstâncias tudo parece valer a pena, mesmo que alma se faça pequena.
E ao crivo político se sobrepõe uma falsa “moral” que confunde propósitos programáticos e bases ideológicas com aliança táticas, subtraindo da análise a experiência histórica brasileira e de outras gentes, que confirma a imperiosa necessidade de ampla conjugação de forças para vencer.
Seja em luta eleitoral, seja em processo de ruptura revolucionária.
Um exemplo emblemático é a Insurreição Pernambucana, que nos permitiu expulsar em definitivo os holandeses de nossa terra, a partir de heterogênea aliança firmada em 15 de maio de 1645, no Engenho Novo, por dezoito facções insurretas sob a liderança de André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Felipe Camarão e Henrique Dias – reunindo contraditórios interesses de senhores de engenho, comerciantes, trabalhadores rurais, índios e negros, em favor do objetivo maior.
Forças díspares se uniram e venceram.
Na luta por uma cidade mais humana, com desenvolvimento social e ambientalmente sustentável, vale reunir hoje larga composição de forças – no Recife e onde for possível, sob a liderança da corrente que melhor se posicione para a empreitada.