Vice-prefeito do Recife é o caso mais emblemático, já que apoia a candidatura de Geraldo Julio (PSB) / Foto: BlogImagem Deu no Jornal do Commercio deste domingo (26) Carolina Albuquerque Não tem estatuto partidário que inclua, em linhas oficiais, a seguinte qualidade de político: aquele que está, ao mesmo tempo, na situação e na oposição.

O jogo do lá e cá é a realidade de importantes colégios eleitorais de Pernambuco neste ano.

No Recife, o caso mais emblemático.

Mesmo exercendo o cargo de vice-prefeito da Capital, Milton Coelho (PSB) vê-se obrigado a somar forças do outro lado, apoiando o candidato do seu partido, Geraldo Julio, adversário de Humberto Costa (PT).

Em outro município do Grande Recife, o vice-prefeito de Paulista, Duffles Pires (PSDB), subiu no palanque do petista Sérgio Leite, cujo partido é adversário histórico dos tucanos, contra o candidato do atual prefeito Yves Ribeiro (PSB), o socialista Júnior Matuto.

Na outra ponta do Estado, o atual prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), candidato à reeleição, perdeu o apoio do próprio vice, Domingos Sávio (PSDB).

Cada um deles tem lá os seus motivos para, à revelia do script, ter tomado caminhos opostos.

Uns permanecem discretos, outros batem o pé para marcar a oposição.

Na metade da campanha, o atual vice e integrante da Executiva nacional do PSB, Milton Coelho, só tem dado sua presença em eventos de peso da campanha socialista, como na inauguração do comitê de Geraldo ou em outras agendas mais reservadas.

A discrição é tamanha que encontrá-lo no gabinete ou por telefone é tarefa difícil até para os seus assessores.

O JC tentou por duas semanas contato, sem sucesso.

Em Paulista, o presidente municipal do PSDB e atual vice, Duffles Pires, diz que rompeu com o candidato do prefeito, Júnior Matuto, porque este não cumpriu com o acordo de “contemplar o PSDB como deveria na campanha”. “Matuto é o candidato do governador.

Foi uma imposição, e eu não me senti nem um pouco satisfeito.” A reviravolta produziu uma parceria inédita: PT e PSDB, históricos opositores, dividindo o palanque.

Pela resolução nacional do PSDB, é proibida a coligação com o PT.

Mas como a posição não é oficial, Duffles segue fazendo campanha, participando de comício, caminhadas e levando o apoio dos vereadores e de entidades para Sérgio Leite. “O apoio é completo”, afirma.

Também vê com tranquilidade o fato de estar no palanque que representa uma “nova gestão” e faz críticas à atual. “Não posso proibir Sérgio de criticar.

Mas Júnior também não faz a defesa: ataca a gestão nas comunidades”, alfineta.

Foi por meio de uma longa carta ao presidente estadual do PSDB, Evandro Avelar, que o atual vice de Petrolina, Domingos Sávio (PSDB), anunciou que iria se licenciar do partido e explicou o rompimento com a campanha de reeleição do prefeito Júlio Lóssio (PMDB), que o trocou pelo ex-prefeito Guilherme Coelho (PSDB), formando nova chapa.

Domingos alega “quebra de compromisso com o PSDB”. “O prefeito tinha o compromisso de participação do partido no governo, mas o tamanho não foi o que foi combinado.

Eu não acredito que ele tenha reais compromissos com o meu partido”, diz.

Ele acrescenta que dos cinco delegados da comissão provisória, apenas dois estiveram presentes para homologar a candidatura. “O PSDB ficou na coligação, mas dividido".

O descompasso entre Domingos e Lóssio vem desde a condução da gestão. “Se ele tivesse maior vontade de parceria, a população não teria sofrido tanto.

Foram quatro anos de desencontros, mas você sabe das limitações do cargo de vice.

Não digo que foi ruim do ponto administrativo, a gestão tem boa avaliação.

Mas podia ter feito muito mais, com outro estilo administrativo”, justifica.

Ele garante ainda que não ficou nenhuma hostilidade com as lideranças do PSDB. “Tenho relações sólidas e identificação com os fundamentos do partido.

Isso irá balizar a minha atuação daqui pra frente”, diz. “Mas continuo entusiasmado com a política, vou analisar as outras três propostas.

Não compactuo da omissão.

Se disse o que não quero, tenho condições de apontar o outro caminho”, afirma.