Por Ayrton Maciel Filósofos falaram sobre os homens e as suas circunstâncias.
Historiadores escreveram sobre homens e seus feitos, sobre líderes que levaram nações a guerras, sobre impérios e queda de impérios, sobre redentores que submeteram povos a hecatombes históricas.
Tudo em sua época e em suas circunstâncias.
No século XX, ditadores - por ideologia, fanatismo ou demência coletiva - também levaram seus povos à decadência econômica e moral.
Outros, reduziram seus países a ditaduras políticas, oprimiram, aterrorizaram e deixaram traumas como heranças para as gerações de jovens.
A humanidade nunca tomou o mal como exemplo a não ser repetido.
Em alguns períodos históricos, há casos de soluções messiânicas para a afliação dos povos.
Líderes prometeram redimir seus povos das humilhações e da decadência deixadas por guerras anteriores ou libertá-los da opressão de outros povos e impérios.
Nunca haverá época exata, mas haverá sempre tempo - levado pelas circunstâncias - para que personagens políticos ascendam na vida dos povos como salvadores de países decadentes na economia, atados pela corrução de seus dirigentes, desacreditados pelo próprio povo em sua perspectiva histórica.
A verdade é que o País está postado diante do Supremo Tribunal Federal (STF), na expectativa de que a política vai ser posta a limpo.
Pode ser, pode não ser.
Certo é que o Brasil não vai começar do zero se a “moral política” nacional for restabelecida com a aplicação da Justiça, nem se entregará ao “caos moral” se ela deixar de ser aplicada em sua plenitude.
Se a Justiça não for satisfatória ao clamor popular, o que o País não pode repetir é a crença de que um novo redentor há de vir em meio ao desencanto, ao descrédito, à negação da política e da democracia.
Não se deve esperar um novo salvador, aquele que mudará práticas e nos levará a um País moralizado.
Esta é uma obra coletiva e de formação de gerações, na qual a escola será o instrumento.
Se punição não houver, se as sentenças do STF não nos satisfizerem, que os olhos desafiadores de um outro redentor não contemplem a desesperança dos que descreiem na possibilidade moral da política.
Que o País não arisque em candidatos a novo condutor de uma nova política, não aposte no discurso fácil de moralidade.
Que os olhos não hipnotizem, que o discurso não cative.
Há pouco mais de duas décadas, o Brasil viveu uma experiência traumática.
Recém saído de uma didatura, sob um governo que levou ao fracasso dois planos econômicos, envolvido em denúncias de corrupção, fraco em autoridade, que havia perdido a legitimidade popular e afundado em uma irremediável inflação, surgiu no País um discurso de moralidade que fugia à preservação das instituições.
Um arauto contra a corrupção dos políticos, os privilégios no Judiciário, a incompetência dos governantes e a burguesia acomodada.
Assim ascendeu Fernando Collor de Mello, no final dos anos 80.
Da pequena Alagoas, ergue a voz contra os “marajás” da Justiça, a ineficiência do Estado brasileiro, as benesses estatais para o poder econômico que fugia da competitividade.
Argumentos politicamente corretos.
Em 1989, torna-se a última muralha das elites contra o mal maior da esquerda radical.
Com um discurso moralizador, redentor, a serpente estava armada.
Tinha a palavra como arma e o poder como meta.
O resultado já é história.
Vinte e dois anos depois, assitimos ao julgamento jurídico e político e de uma novo processo de decadência da moralidade pública.
O exemplo do passado não inspirou o presente.
Os “mensaleiros” estão no banco dos réus.
O julgamento moral já ocorreu.
Do julgamento jurídico, a expectativa popular é que os culpados sejam punidos.
Não se espera que a Justiça falte, mas também se deve querer que a Justiça seja feita numa dimensão além da lei.
Se as penas vierem aquém do que deve ser justo, na forma da lei, o que o Brasil não pode admitir é que novos candidatos a caçador de marajá, a condutor da moralidade pública, sejam protagonistas na política brasileira.
Obstinados, nunca mais.
Messianismo, nunca.
Vem aí 2014, mas a continuidade da vida política deve estar lastreada nos princípios democráticos e no respeito às instituições, sua indepedência e harmonia.
Moralidade pública é uma missão coletiva.
O País segue, o povo segue.
Virão 2018, 2022, todas as eleições para substituírmos os maus sem sobressaltos.
Na democracia, a decadência moral da política não se combate com protagonismo.
A missão é coletiva, porque o mal na política nunca será só registro da história.
Ayrton Maciel é jornalista e bacharel em Sociologia.
Reside no Recife.