Por Gustavo Krause, ex-ministro e filiado ao DEM Nas Olimpíadas da Impunidade, o Brasil é medalha de ouro.
Poderia não ser.
Agora mesmo está passando por uma prova decisiva.
Dependendo do julgamento do Mensalão, é possível ter esperança ou subir no maldito pódio da descrença institucional.
Nas Olimpíadas da Mediocridade (os resultados das Olimpíadas de Londres), o Brasil foi medalha de ouro.
Poderia não ser.
Vai depender de uma política séria e eficaz que aprimore o atleta brasileiro de alto rendimento para, em 2016, evitar vexames no solo sagrado da pátria-mãe.
Possível, porém, improvável.
Improvável por conta da negligência generalizada com a formação educacional do povo brasileiro que já deu provas suficientes de que responde aos investimentos feitos.
Viva a escola municipal São Miguel da cidade sertaneja de Quixaba!
Em se plantando dá.
Esporte é vetor na estruturação da cidadania e semeia vocações olímpicas.
Meu raro e escasso leitor, o título deste artigo é mero pretexto para homenagear o imortal Nelson Rodrigues, formalmente centenário no dia 23 de agosto, e os dois primeiros parágrafos servem para não de dizer que não falei de espinhos (sem perder a esperança nas flores).
Na matéria, sou um imprudente.
A razão é simples.
Depois do caderno especial do Jornal do Commercio (edições do dia 5 ao dia 10 de agosto) ao qual pouparei da incompletude dos adjetivos, pois, nada jornalisticamente pode ser acrescentado às homenagens ao ilustre brasileiro, em particular, por um simples leitor de Nelson Rodrigues. (Um registro: a entrevista póstuma do caderno é genial). “A vida como ela é…”, título da coluna diária de “Última Hora”, começou vencendo a disputa com o título, “Atire a primeira pedra”, preferido pelo o autor e dono do jornal, o talentoso Samuel Wainer.
Venceu muitas coisas: a objetividade dos fatos, a concisão do estilo jornalístico e consagrou a imaginação como fonte mais fecunda do que a inteligência.
O que não venceu, desafiou, espantou, chocou, escandalizou.
Em compensação, divertiu, fez pensar e admiravelmente eclético, o autor deixou um enorme acervo de obras e, como obra-prima síntese, uma insuperável produção de frases.
Assim é a obra de Nelson.
E para entender é preciso conhecer Nelson, o personagem da grande peça dramática que foi a própria vida de Nelson Rodrigues. “Eu sou um trist”, proclamava o adolescente melancólico, depressivo, premunindo uma existência marcada pela tragédia (assassinato do irmão Roberto, a morte do pai, 67 dias após, de profundo sofrimento, a miséria da família que passou fome e a inanição que o levou à tuberculose recorrente por 15 anos, a morte do irmão Joffre, vítima de tuberculose galopante, a perda parcial da visão, as sequelas da paralisia cerebral da filha Daniela, a saúde precária de um fumante compulsivo e abstêmio declarado, perseguido pela direita, pela esquerda, pela igreja, pela censura e por um odioso, ignorante moralismo e tudo mais que está primorosamente relatado em “O anjo Pornográfico”, autêntica reconstituição biográfica de Nelson Rodrigues por Ruy Castro).
E para entender Nelson, é preciso mergulhar nas circunstâncias históricas do Brasil como ele era e foi se formando, deformando, reformando, enfim, caminhando.
Entre todas as passagens de uma vida marcada por dores, talvez, a mais pungente tenha sido a entrevista de dezessete minutos que deu ao “Jornal Nacional”, no dia 25 de maio de 1979 sobre Nelson Rodrigues Filho, em que enfrentara a maior contradição de sua vida: o filho preso e torturado pelo governo militar que apoiara.
A entrevista é de uma coragem e lucidez incomparáveis. É de Carlos Heitor Cony a definição sobre Nelson: “Um homem em permanente velório por si mesmo e pelos outros”, complementada pelo biógrafo Ruy Castro para quem Nélson era também “um homem em permanente paixão”.
A rigor, foram as contradições de “A vida como ela é…” de onde Nelson Rodrigues extraiu a energia criadora de sua obra e das incontáveis frases que seguem diariamente citadas e repetidas.
Impossível eleger a melhor, mas confesso minha preferência: “Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos”.
Não dá para não botar a carapuça…