Por Jamildo Melo Se no primeiro debate da televisão, na TV Tribuna, no começo da semana, imperou a polarização dos candidatos contra o socialista Geraldo Julio, do PSB, o primeiro debate ao vivo pela internet com os candidatos do Recife, realizado agora há pouco, pelo portal NE10, nos estúdios da TV Jornal, acabou sendo marcado pela exposição pública do racha definitivo entre as chamadas forças de esquerda.

O petista Humberto Costa e o socialista Geraldo Júlio partiram para um confronto direto e franco, ajudando o leitor a conhecer a nova realidade da cena partidária local, após 12 anos de casamento.

O acirramento entre os dois palanques situacionistas deve crescer ainda mais, nas próximas semanas, caso continue a tendência de redução da diferença entre o candidato do PT e o candidato do PSB.

Se se confirmar, haverá assim uma inédita disputa de governo contra governo, nunca antes vista na história do Recife.

A paz que o socialista Geraldo Júlio pregava, pelo menos até esta quinta-feira, foi memso para o espaço sideral.

O embate do Recife é emblemático porque é uma espécie de antecipação da disputa ao governo do Estado em 2014, onde se especula que o governador dará as cartas, tendo igualmente os petistas como adversários.

Neste sentido, para o senador Humberto Costa e o deputado federal João Paulo, trata-se da eleição da vida, de modo a não entrarem em 2014 descredenciados por uma derrota.

Ao Blog de Jamildo, no debate, Humberto Costa disse que o PT não iria fazer oposição a Eduardo Campos.

De olho na liderança dos votos, depois de já ter ultrapassado os candidatos de oposição, o candidato socialista voltou a atacar diretamente o petista e repetiu a estratégia de desconstruir a imagem de Humberto Costa pelo flanco da saúde, onde se apresenta como especialista, tendo sido ministro de Lula.

Nas pesquisa de opinião no Recife, trata-se de um dos temas mais recorrentes.

Nas suas propostas, o socialista está prometendo novos hospitais e Upinhas, como fez Eduardo Campos na campanha ao governo do Estado.

Geraldo Julio acusou Humberto de ter sido “o pior secretário de Saúde do Recife” e, como ministro, não ter trazido investimentos para a capital. “Como secretário de Saúde do Recife, em 2001 e 2002, ele ficou em 25º lugar em 2001 e 26º em 2002.

Como ministro da Saúde, não trouxe nada”, criticou o socialista.

O ranking citado por Geraldo leva em consideração o percentual de recursos municipais aplicados na Saúde.

Em 2001, a Prefeitura investiu apenas 7,9% da sua receita e em 2002, 9,5%.

O ataque, a rigor, foi uma revide, uma vez que o petista tentou empulhar o socialista com uma pergunta fechada, técnica, sobre o que ele achava do Programa de Revitalização de Áreas Verdes do Recife (Prav) “Eu sou gestor, Humberto Costa.

Não vou ficar fazendo pegadinha aqui.

Não vou ficar no debate da esperteza.

Quero mudar sua vida, eleitor”.

Depois de outro ataque, já no terceiro bloco do programa, Humberto Costa deixou de apenas negar e apresentou argumentos. “Geraldo Julio não está sendo politicamente correto.

Ele sabe que nós administramos o primeiro ano da gestão João Paulo (PT) com o orçamento feito por Roberto Magalhães (então PFL)”, devolveu o petista. “Geraldo não está dizendo a verdade (sobre os investimentos na saúde) e está mostrando desconhecimento e despreparo para com a cidade”.

Nas suas contas, quando ministro, repassou, em três anos, R$ 247 milhões, para hospitais como HR, Agamenon, inauguração do Procape.

O melhor momento de Humberto Costa pareceu ter sido quando apresentou propostas.

Logo depois da tentativa de pegadinha, Humberto Costa apresentou a proposta de atualizar o código de meio ambiente da cidade, permitindo que a compensação para investimentos não seja feita com o uso de áreas físicas, mas também com dinheiro, a ser aplicado em um fundo específico e revertido para o meio ambiente.

Como há uma dificuldade real de áreas para novos empreendimentos no Recife, a sugestão parece bastante válida.

Em Petrolina, por exemplo, o prefeito Júlio Lóssio inovou, fez algo parecido, arrecadando mais de R$ 15 milhões por ano com a venda de terrenos públicos em leilões.

Oposição Além dos próprios dois contendores, a oposição não se furtou a apontar as contradições no palanque da situação, martelando a tese de que todos são iguais e buscam apenas o poder pelo poder.

O candidato tucano, Daniel Coelho, foi o mais eficiente nesta estratégia, com sua eloqüência no vídeo.

Daniel aproveitou uma troca de farpas entre Humberto Costa e Geraldo para laçar os dois em um único petardo. “Se Humberto Costa é ruim, como é que o governador Eduardo Campos coloca-o como secretário.

Depois, se Humberto Costa é incompetente, como é que o PSB pede votos para que ele vire senador do Estado?

Tudo isto ocorre, caro eleitor, porque não existe unidade nestas alianças, mas apenas a partilha de cargos”, alfinetou.

No debate, Daniel Coelho mostrou que tem uma boa capacidade de rebater com bons argumentos as críticas que recebe.

O jornalista Mário Neto, da rádio CBN, perguntou a razão de ter mudado de partido, entrando no PSDB, e continuar usando o verde do PV. “Se não tivesse mudado de partido, não estaria usando o verde hoje e estaria de amarelo, balançando a cabeça”, provocou, citando as cores do PSB, que tem hoje o PV na sua base de apoio.

O risco da estratégia de ataque é acabar ajudando a catapultar as intenções de voto do socialista.

Normalmente, quando batem na TV, os candidatos elevam a própria rejeição.

Daniel Coelho e agora Mendonça Filho, em empate com o socialista ou mesmo já superado, de acordo com a mais nova pesquisa da Nassau, precisam desconstruir Geraldo Júlio, de modo a tentar capitalizar com o primeiro colocado, até aqui, o petista Humberto Costa.

O bom do debate é que ele ocorreu de forma simples e fluída.

Ajudou muito contar apenas com os quatro nomes mais competitivos.

Ocorreram apenas dois pedidos de direito de resposta, não por acaso, entre o PT e o PSB, mas não foram aceitos pela equipe jurídica e OAB, também.A advogada Ana Carolina F. de Melo Brito, sócia do Trigueiro Fontes Advogados e membro do Conselho de Ética da OAB-PE, representou a OAB no debate entre os quatro candidatos à prefeitura do Recife, promovido pelo NE10, portal do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação.

Ana Carolina fez parte da Comissão de Direito de Respostas junto com outros dois representantes do Sistema JC e analisou os pedidos de resposta dos candidatos, conforme as regras do debate.

O clima era tão cordial que o candidato Mendonça Filho até aproveitou a divulgação dos últimos números da pesquisa da Maurício de Nassau (que mostram novo crescimento de Geraldo Júlio) para brincar com o petista Humberto Costa. “Ele vai te pegar, viu?”, comentou, rindo logo depois.

Na chegada aos estúdios, informado dos números pelo Blog de Jamildo, Humberto Costa não reagiu com o mesmo bom humor. “Janguiê (diretor da Nassau) entende bem de números”, ironizou.

Lula e Dilma Tanto o ex-presidente como a atual presidente não foram esquecidos.

Como são bem avaliados no Recife, todos querem colar a imagem ao lado deles.

O primeiro a fazer uma menção foi o socialista, ao afirmar que faria muitas parcerias com a presidente, se se eleger prefeito, logo no primeiro bloco.

Na mesma moeda, aliado de Dilma que entrou com ação no TRE para evitar o uso da imagem de Dilma pelo adversário socialista, também prometeu fazer parcerias com o governador Eduardo Campos.

João da Costa ausente O atual prefeito, pivô de uma grande briga entre os petistas, antes e depois das prévias, pouco foi citado pelos postulantes.

Com rejeição elevado, Humberto Costa evitou citá-lo.

Nas apresentações finais, Daniel Coelho não perdeu a oportunidade de associá-lo ao palanque das esquerdas. “Não é o caciquismo que vai decidir.

Não vamos repetir João da Costa”, alfinetou os adversários.

Mendonça Filho, que prometeu uma revolução na educação, depois de afirmar que o PT havia permitido que a educação no Recife fosse a pior do Nordeste, também observou que, pela primeira vez, há um prefeito do Recife entre os mais mal avaliados do país.

Logo na abertura do debate, o tucano já havia cravado um bom questionamento sobre a quantidade de obras que deixaram de ser feitas no Orçamento Participativo (OP) nos últimos 12 anos.

Costa tergiversou e acusou o PSDB de não ouvir a população em nenhuma administração no Pais.

Não deu os números sobre o OP no Recife, mas alegou que nem todas as obras poderiam ser cumpridas, até mesmo em função da crise econômica mundial e os efeito sobre o FPM. “O alcance do que foi feito ultrapassa em muito o que deixou de ser feito.

Vocês não tem autoridade política para nos cobrar isto”, justificou.

O tucano denunciou que 501 obras deixaram de ser feitas, nos últimos 12 anos, algumas votadas mais de uma vez. “Vamos pagar o fiado do PT”, repetiu, mais uma vez, como que querendo transformar a crítica em um bordão da campanha.

Já o democrata Mendonça Filho, martelando o resultado de 12 anos do consórcio PSB/PT), voltou a usar o bordão de que o PT é apenas bom de slogans. “O Recife tem a 26ª posição na educação do Brasil e isto é cuidar das pessoas? o PT é bom de blá, blá, blá”, alfinetou, mais umz vez.

Tema proibido O debate do NE10 revelou ainda que os políticos na disputa continuam com dificuldade de falar de problemas reais.

Isto ficou claro com a pergunta bastante objetiva de um internauta.

Ele buscava saber o que eles fariam com os flanelinhas, que ele classificou de profissionais do medo.

No mês passado, quando um flanelinha esfaqueou um motorista, na porta do Imip, o Blog de Jamildo pediu a todos os candidatos que falassem do que fariam, se estivessem na cadeira de João da Costa.

Nenhum dos candidatos respondeu.

No debate desta tarde, confrontados com os temas, Mendonça Filho e Humberto Costa, também tergiversaram. “Investir na qualificação das pessoas é melhor do que reprimir”, defendeu o petista, esquivando-se.

Pesquisa Ao final do debate, a jornalista Inês calado divulgou os números do mais novo levantamento do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau.

Geraldo foi o único a crescer: oito pontos.

Todos os outros candidatos tiveram variação negativa dentro da margem de erro: Humberto perdeu um ponto, Mendonça caiu dois e Daniel Coelho oscilou negativamente em dois décimos.

Geraldo chegou a 22,2%, abriu sete pontos de vantagem sobre Mendonça (15,1%) e agora está a apenas nove pontos de Humberto Costa (31,1%).

Daniel Coelho estacionou em quatro, com 5,7%.

O IPMN ouviu 1.080 recifenses entre os dias 20 e 21 de agosto nas seis Regiões Político-Administrativas (RPAs) da cidade.

O levantamento foi registrado sob o número 00073/2012.

Na última pesquisa IPMN, do início de agosto, Geraldo marcou 14,4% e terminou em terceiro.

Humberto obteve 32,5%.

Mendonça também caiu, de 17% para os atuais 15%.

Daniel teve 5,5%.