Por Edilson Silva, presidente do PSOL-PE e candidato a vereador no Recife Estive esta semana em debate promovido pelo FERU – Fórum Estadual de Reforma Urbana, com os candidatos à prefeitura do Recife.

Importante debate.

O candidato do PT, Humberto Costa, não pôde comparecer, sendo representado então pelo seu vice, deputado João Paulo.

Chamou-me a atenção o discurso resignado e acomodado da candidatura petista.

Gosto de João Paulo e sempre que conversamos, em debates, em Brasília ou em algum mercado da cidade, protagonizamos agradáveis e amigáveis conversas.

Mas seus argumentos para justificar a sua falta de energia transformadora nos debates sobre a cidade é quase um desrespeito às origens de seu partido, o PT, que nasceu exatamente contra a resignação do outrora MDB.

Segundo a candidatura petista, não se tem na cidade “correlação de forças” para atender a várias demandas populares, logo, tem-se que governar dentro dos limites impostos por supostas forças que circundam o poder.

O discurso é antes de tudo – desculpem a força da palavra, covarde, e se só isto fosse já seria péssimo.

O problema ainda maior é que é incoerente e contraditório com a realidade que vivemos no Recife.

Será que uma prefeitura não tem força política, legitimidade e amparo legal para evitar que uma determinada faculdade ocupe desordenadamente as áreas centrais da cidade?

Será que uma prefeitura não tem condições de regulamentar um transporte alternativo – ao menos para o capitalismo nos transportes públicos funcionar com um mínimo de concorrência -, para contrabalancear o monopólio das grandes empresas?

Será que a prefeitura não tem capacidade de dizer não às descaradas parcerias com empresas, como aquelas que favorecem, ao arrepio do interesse público, a construção de um grande shopping na zona sul da cidade?

Poderíamos desfilar aqui um sem número de exemplos de como nestes 12 anos a gestão do PT (com todos os partidos que estão na coligação do PSB agora, com exceção do PMDB) se entregou deliciosamente às parcerias com as forças que disputam com o interesse público.

A gestão petista no Recife começou saudavelmente rebelde e transformadora, domesticou-se rapidamente, resignou-se, acovardou-se e em seguida incorporou-se sem meias palavras ao capitalismo sem riscos dos mandachuvas da cidade.

Hoje a prefeitura do Recife não consegue sequer enquadrar estes gestores “fantasmas” privados de nossa cidade nos limites da lei.

As torres gêmeas no Cais de Santa Rita são um monumento à desconstrução de nossa já rala polis republicana.

Apesar de não concordar e me indignar com o discurso da candidatura petista, entendo-o.

Há nele um esforço de coerência, de aproximar a retórica da prática social real.

O resultado é esta síntese que se apresenta inevitavelmente como o realismo fúnebre dos que já se consideram impotentes ou vencidos.

Nossa cidade não merece isto.

O Recife precisa, quer e pode ser uma cidade mais equilibrada.

Não se trata de oferecer à população o melhor dos mundos, incorrendo no vício do extremo oposto do otimismo infantil e das facilidades sem fim. É urgente desprivatizarmos a prefeitura, torna-la gestão pública e serviço público, colocar rédeas e marcos regulatórios democráticos no capitalismo da cidade para se realizar justiça social.

O discurso do querido João Paulo já deu mostras de que a candidatura do PT abdicou desta missão.

A Frente de Esquerda do Recife, formada pelo PSOL e pelo PCB, e que apresenta a candidatura de Roberto Numeriano à prefeitura, não abdicou e continua acreditando na força transformadora da mobilização social, pois a história da civilização e da construção de direitos nunca foi feita pelos resignados.