Eduardo Machado, do Jornal do Commercio Em uma sessão fechada realizada na tarde dessa quarta-feira (15), a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara ouviu seu principal depoimento até agora.
O ex-major da Polícia Militar de Pernambuco José Ferreira dos Anjos falou por mais de quatro horas aos membros da comissão e se comprometeu a participar de uma audiência pública na próxima quinta (23), em local ainda a definir.
O ex-major Ferreira falou sobre o atentado ao estudante Cândido Pinto, sobre o assassinato do padre Henrique e ainda deu nomes de militares pernambucanos que foram recrutados pelo DOI-CODI nas décadas de 60 e 70.
Quatro membros da comissão estiveram presentes à sessão: os advogados Pedro Eurico, Humberto Vieira de Melo e Roberto Franca e a historiadora Socorro Ferraz.
O ex-militar negou participação nos crimes, mas assegurou que sabe quem praticou tanto a tentativa de homicídio contra Cândido Pinto, quanto a execução do padre Henrique.
José Ferreira chegou a ser acusado pelo atentado contra Cândido, mas acabou não sendo denunciado por falta de provas.
Oficial de destaque da PM de Pernambuco nos anos 60 e 70, o ex-major foi um dos condenados em 1983 pelo assassinato do procurador da República Pedro Jorge Melo e Silva.
O procurador investigava um esquema de fraude em empréstimos no Banco do Brasil de Floresta, no Sertão.
Após a condenação, Ferreira conseguiu fugir do Batalhão de Cavalaria, onde estava preso e desapareceu.
Ele permaneceu foragido por 12 anos até ser encontrado em uma fazenda em Barreiras, na Bahia, em 1995.
O ex-militar cumpriu sua pena e ganhou a liberdade em 2003.
Desde então luta para ser reintegrado à PM, de onde teria sido expulso em processo sumário.
A Comissão da Verdade realiza a sua segunda sessão pública nesta quinta (16), a partir das 9h, no Auditório da OAB-PE.
Os integrantes da comissão vão ouvir o padre José Ernanne Pinheiro, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Em 1969, quando o padre Henrique foi assassinado, José Ernanne era vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife.
A intenção da Comissão estadual da Verdade é esclarecer de que maneira Estado e Igreja se relacionavam nos primeiros anos da ditadura militar no Brasil.
José Ernanne também era amigo do padre Henrique e um dos principais assessores do arcebispo dom Helder Câmara. “O sequestro, tortura e morte do padre Henrique foi o ápice de uma série de ataques sofridos pela Igreja Católica em Pernambuco no final da década de 60.
O depoimento do padre Ernanne vai ajudar a comissão a entender o momento político e a repercussão do homicídio principalmente para dom Helder e os padres mais próximos a ele”, explicou o relator do caso padre Henrique e membro da Comissão da Verdade, o advogado e ex-deputado estadual Pedro Eurico.