Por Otávio Luiz Machado* A greve das universidades e dos institutos federais chegaram ao seu limite, mas não em função da luta dos estudantes, professores e funcionários, mas pela forma truculenta, hostil, indiferente e demagógica que o Ministério da Educação (MEC) age até o momento, que vem sendo copiada por outros ministérios para tentar barrar o movimento justo e pacífico das mais diversas categorias.
O argumento inicial de sempre é “não temos recursos”.
Quando não conseguem enrolar com esse argumento e encontram movimentos fortes e unificados dispostos a enfrentar o poder central, então o argumento seguinte é o “só vamos negociar com o fim da greve”.
Como esse é um argumento clássico para desmobilizar os movimentos e isso obviamente nem entrou na pauta dos servidores, logo o governo vem com a intimidação do “vamos cortar o ponto dos grevistas”.
Mas como nem isso está funcionando, a desmoralização das greves e dos grevistas com largo apoio das mídias vem com o argumento de que eles estão “prejudicando a sociedade”. É isso que vemos no momento e não se sabe ao certo o que virá em seguida.
Só falta agora jogar a culpa dos erros do próprio governo aos grevistas, como não conseguir atingir nem 10% do plano estabelecido pelo PAC 1 para a área de saneamento básico (prejudicando milhares de famílias que são as que mais precisam), como construir uma refinaria cujo valor final será quase vinte vezes maior que o valor inicial estipulado, como deixar obras para a copa do mundo para a última hora e elevando assim o seu valor e utilizando-se da dispensa de licitação, como as grandes obras paradas Brasil afora ou que estão em andamento com aditivos financeiros bem questionáveis e tantos outros péssimos exemplos por aí.
Mas quem está hoje no governo cuidando da educação não são militares, não são membros das oligarquias e muito menos nomes que podemos considerar a serviço das forças imperialistas de ontem e de hoje, mas nomes que foram forjados durante as lutas sociais dos anos 1970 e puderam assumir cargos no executivo a partir dos anos 2000, como é o caso do Ministro Mercadante, que escrevia, palestrava e discursava por todo e qualquer canto na defesa do direito à greve, da legitimidade dessas lutas, etc.
Mas que hoje é contra o que defendia lá atrás.
Mas Mercadante não está nisso sozinho, como é o caso do seu braço-direito Amaro Lins (Secretário de Educação Superior da SESU-MEC), ou até de Reitores das federais, como o da UFPE Anísio Brasileiro, que considera que a proposta formulada pelo governo vai atender plenamente as reivindicações das comunidades universitárias.
Como bons representantes da geração 1970, mesmo numa época que eram “lisos”, não tinham poder e nem cargos, Anísio e Amaro anos depois puderam administrar a universidade, mas não conseguiram atender minimamente os estudantes nas suas reivindicações mínimas, puderam ser alvo de protestos de estudantes da UFPE que não aceitam mais as péssimas condições dos prédios, a péssima assistência estudantil e a falta de gestão nos mais diversos espaços da universidade.
Aqui um estudante faz um desabafo contra as péssimas condições de permanência no campus: O que se sabe é que recursos para a educação serão os primeiros a ter cortes em qualquer eventualidade, o que vai atingir mais a péssima gestão que vemos em várias universidades. É preciso ouvir mais os estudantes, que são aqueles que possuem maior compreensão da vida universitária, como é o caso da manifestação ocorrida não tem um ano na Reitoria da UFPE: Mas pode parecer que a Presidenta Dilma tem um grande problema em suas mãos, mas diria que na verdade ela está com chance única de dar um salto na educação brasileira.
Bem ou mal Getúlio Vargas e JK puderam criar um sistema universitário ou ampliá-lo com a criação de tantas outras instituições na área de ensino e pesquisa fortes até hoje.
Os militares cuidaram da expansão ao mesmo tempo em que esmagava, expulsava, torturava ou assassinava jovens estudantes ou professores talentosos e idealistas.
Se soubessem direcionar a energia e a vontade de mudar e de crescer daqueles estudantes e professores o salto e o saldo ao País seriam enormes.
Mas se é fato que as universidades caíram num emaranhado burocratizante e que os insatisfeitos de ontem tornaram-se os burocratas de plantão que não sabem resolver os problemas universitários sem se aterem às práticas autoritárias, o que vemos nessa greve é um momento único em que o movimento grevista trata de princípios fundamentais de uma universidade ampliada e voltada ao futuro melhor do País, considerando que os desafios de democratização do acesso, de ampliação das pós-graduações, de aproveitamento real dos benefícios gerados no sistema nos últimos dez anos e a consolidação de um projeto de universidade que tem sido sonhado nas últimas décadas por setores engajados da sociedade. É a chance de Dilma ser a Presidenta da Educação.
Caso escolha esse caminho.
Se não, como está sendo colocado aí nas mídias sociais, a única forma de protesto efetivo para o momento seria uma radicalização sem violência: tod@s @as grevistas fariam uma campanha nacional chamando a população a não votar nos candidatos da Presidenta Dilma nas próximas eleições caso ela não continue a negociar e a se negar a enfrentar os desafios com energia e coragem. @s grevistas querem e podem somar no salto que o País ainda precisa dar na área da educação. *Otávio Luiz Machado é educador, pesquisador, escritor e documentarista.