O Partido Comunista Brasileiro (PCB), que no Recife está aliado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), formando a Frente de Esquerda, emitiu nota em resposta à nota enviada durante esta semana pelo PSTU, que acusou a aliança PCB-PSOL de estar a serviço do PT.
Os partidos vivem conflito desde abril, trocando constantes farpas, remetendo a uma frase atribuída ao escritor de direita Nelson Rodrigues: “a esquerda só se une na prisão”.
Veja a nota emitida pelo PSTU: PSTU diz que aliança entre PCB e PSOL é uma frente populista a serviço do PT “NOTA DO PCB EM RESPOSTA AOS EQUÍVOCOS DOS DIRIGENTES DO PSTU-PE Lamentamos profundamente a nota assinada pelo PSTU, que em vez de atirar contra os representantes dos inimigos de classe, fala meias verdades que, a princípio, até pelo baixo nível, não merecia resposta.
Porém, para esclarecer a sociedade pernambucana decidimos, por respeito à verdade e a história política do PCB, respondê-la.
O fato é que tomamos a iniciativa de buscar o diálogo com os dois partidos (PSOL e PSTU) que estão mais próximos de nossas teses, conforme definido em nossa “Conferência Política Nacional sobre Tática”.
Se a Frente de Esquerda não se constituiu por inteiro, com os três partidos, foi, sobretudo, devido à postura do próprio PSTU, que ao se intrometer nas disputas internas do PSOL, criou um clima de animosidade que impediu um debate político sereno, e resultou em um veto do PSOL ao PSTU.
Equivoca-se, porque não acreditamos que tenha havido má fé do PSTU, quando disse que estávamos aguardando a posição do pré-candidato do PDT à prefeitura do Recife, deputado Paulo Rubem.
Assim que soubemos, por um site de comunicação, que o referido deputado estava a alegar que estaria em conversa com o PCB, tratamos de enviar para o mesmo blog de notícias um desmentido formal (que foi publicado), reafirmando que só tínhamos interesse em compor com o PSOL e o PSTU, de acordo com a linha política do partido.
O PSTU comete mais um equívoco em sua lamentável nota quando insinua que a aliança eleitoral em Paulista seria fruto da ação de dirigentes, contrariamente à vontade da base.
A aliança em Paulista foi inicialmente discutida e aprovada pela base do partido em Paulista antes de ser avaliada pela Direção Estadual e, depois, pelo nosso Comitê Central.
Justificativas para a aliança realizada em Paulista podem ser encontradas em documento elaborado recentemente pelo PSTU para justificar sua aliança cm o PCdoB (PcdoB do Código Florestal, do apoio à privatização da saúde, dos aeroportos e coisas do gênero) em Belém do Pará.
Neste documento cita Lênin (“máxima flexibilidade tática, absoluta rigidez nos princípios”) e defende que “Os acordos são um fato da tradição revolucionária.
Não há como negá-los.
Para marxistas, os acordos em si não são nem bons, nem ruins.
Depende da situação concreta que se apresenta em cada caso e, mais do que tudo, da política adotada e dos objetivos que o partido revolucionário persegue ao fechar esses acordos.
Concluímos, portanto que, a tática revolucionária não é apenas flexível: é extremamente flexível”.
A questão crucial passa a ser quais são os limites desta flexibilidade.
O PSTU cita, no documento sobre a aliança com o PcdoB, basicamente a independência política, que se manifesta na liberdade de ação e em não se furtar em esclarecer os trabalhadores das contradições de seus aliados.
Não é mera coincidência!
Quando fechamos a aliança em Paulista, foi sob condição de independência política.
A primeira de todas foi informar ao PT que não deixaríamos de combater os governos Dilma e Eduardo Campos, que não deixaríamos de fazer nossas críticas ao PT, inclusive de fazer oposição ao PT no Recife.
Informamos também que, no caso de vitória eleitoral, do candidato a prefeito e do nosso vereador, manteríamos uma postura independente na Câmara, em consonância com nosso programa, não aceitando ser da “bancada governista”.
Quando o PSDB procurou o PT para formalizar a aliança, deixamos claro que seriam ou eles ou nós, de maneira que o candidato do PT foi a público explicar que não colocaria o PSDB na coligação para preservar a aliança com o PCB.
Mas, para Nós, isso não basta. É preciso também que a candidatura tenha significado para o avanço político.
E é aqui que, mais uma vez, o PSTU não faz uma “análise concreta de uma realidade concreta”.
Paulista não é uma capital de Estado.
Existe, ainda, um baixo nível de organização social e popular, e o que existe tem no PT a referência política.
O próprio PSTU não existe em Paulista, e o PSOL está surgindo.
Enquanto no Recife PT representa o atraso, após três gestões, em Paulista representa um avanço relativo, para o nível de consciência e organização política existente, e para a história política do município.
Nós do PCB não lutamos para apenas “aparecer bem na foto”, com o viés messiânico em que o PSTU escorrega com certa freqüência.
A aliança com o PT em Paulista nos permite acesso ao debate político com o que há de mais avançado naquela cidade, além de contribuir efetivamente para um maior avanço.
Neste debate, dizemos o mesmo que pregamos a nível nacional, na oposição ao Governo Dilma e a todos os governos estaduais (já que não há nenhum de esquerda), assim como enfrentamos a contradição da aliança em Paulista, sobre o prisma da especificidade do atraso político ali existente, e do potencial de diálogo com os movimentos sociais a partir de tal aliança.
Em caso de vitória eleitoral, se o PT cumprir com o programa prometido, de orçamentos participativos, de gestão participativa, de transparência administrativa, compromisso com a educação e saúde pública, com o apoio à organização dos movimentos sociais, entre outros itens, manteremos nossa aliança.
Se não cumprir, romperemos, denunciando os fatos.
Em relação a Jaboatão, tão logo tomamos conhecimento que membros da comissão provisória do PCB haviam assumido, publicamente, a aliança com o candidato à reeleição pelo PSDB, reunimos, imediatamente a Comissão Executiva Estadual, divulgamos uma nota pública e expulsamos do Partido esses oportunistas e fisiológicos.
Por isso lamentamos que os dirigentes do PSTU em vez de estarem preocupados com seus assuntos internos, com o enfrentamento político às forças de direita e conservadoras, até travestidas de falsos nomes que as intitulam de socialistas e comunistas do B, mas que defendem na sua ação cotidiana no movimento sindical e no parlamento as propostas mais reacionárias e vinculadas aos interesses da classe burguesa do campo e da cidade, ficam tentando usar de meias verdades contra os que têm como sua atividade cotidiana e histórica, a ação revolucionária como fundamento de suas/nossas vidas.
A construção de uma Frente de Esquerda completa, com os três partidos, exige mais do que declarações de desejos, exige também respeito entre as partes, seja pela não ingerência nas questões internas uns dos outros, seja pela não realização de acusações levianas, que poderiam ser evitadas se buscassem um pouco mais de informação, e se prestassem atenção em seu próprio discurso para justificar as suas próprias alianças.
Lamentamos, enfim, pelas inverdades da nota do PSTU, e mais uma vez convocamos esses dirigentes a saírem do gueto, do isolamento, de uma postura quase messiânica, do pensar sozinho e achar que o mundo gravita em torno de si, e a vir compartilhar conosco da construção de uma proposta revolucionária para a sociedade brasileira, que passa pela luta anti-imperialista, anticapitalista e construção da sociedade socialista.
Comissão Executiva do PCB-PE.”