Foto: reprodução da internet Deu no Jornal do Commercio deste domingo (5) Ana Lúcia Andrade e Bruna Serra O presidente nacional do PT, Rui Falcão, bem que tenta minimizar o embate municipal entre PT e PSB como o prenúncio de um embate nacional entre as duas legendas no futuro.
Mas nessa entrevista concedida ao JC, por telefone, o petista deixa claro que, para o PT, a eleição do Recife “é uma disputa nacional”.
Acusa o PSB de estar crescendo “em cima do PT” no Nordeste e cobra do governador Eduardo Campos melhor explicação para ter decidido lançar candidato a prefeito no Recife.
E, sem meias palavras, avisa: “O quadro agora é completamente diferente de 2006: não vamos ter dois palanques de Lula em Pernambuco”.
JORNAL DO COMMERCIO - Qual a leitura que o senhor faz da disputa interna que dividiu o PT no Recife?
RUI FALCÃO - A candidatura do senador Humberto Costa é uma das prioridades nacionais do PT.
Nós fizemos uma avaliação de que o PT tem um peso muito grande no Nordeste, Pernambuco é um Estado importante, sobretudo Recife, onde já há uma tradição da nossa presença, da presença do Lula.
Então nada mais natural ter uma dupla como Humberto Costa e João Paulo.
Foi um processo que se concluiu com a indicação do Humberto pelo Diretório Nacional.
O partido estará unido e em pouco tempo a militância, que ainda não veio para a campanha, vai estar engajada.
JC - Mas o que temos visto, pelo menos em relação ao prefeito João da Costa, não é engajamento.
Dá para resgatar o prefeito?
FALCÃO - Dialogamos o tempo todo com o prefeito.
Acredito que a defesa que Humberto Costa vem fazendo do governo dele e os ataques que os adversários estão fazendo injustamente à administração o levarão a se integrar à campanha.
Precisamos dar um tempo, dialogar permanentemente.
Na medida em que a campanha for se desenrolando, que começarem os programas de TV, ele estará com Humberto.
JC - Mas o próprio prefeito considera difícil subir no palanque de Humberto diante das críticas que foram feitas à sua gestão, e ele como gestor, durante a prévia do PT.
FALCÃO - É, mas ele me disse também que a melhor maneira de ajudar (a campanha) seria continuar fazendo uma boa gestão, cuidando dos negócios da prefeitura.
Na medida em que obras que estão em andamento forem sendo concluídas, que o plano de governo dele vá se materializando, tudo isso contribui para a campanha.
Subir no palanque vai depender muito da agenda da campanha.
Isso aí requer tempo.
E pelo que falei com Humberto ele está permanentemente querendo dialogar com João da Costa.
JC - Já observamos uma certa polarização entre o PT e PSB em um mês de campanha.
O PSB fala em um novo Recife, o PT em mudança com continuidade.
Esse confronto pode inviabilizar o resgate da aliança PT/PSB?
FALCÃO - Primeiro, eu lamento que o PSB tenha rompido a Frente Popular no Recife.
Não é um rompimento nacional, já que o PSB continua integrando a base de apoio da presidente Dilma.
Mas houve um rompimento também por parte do PSB em Fortaleza e um rompimento de palavra por parte do prefeito de Belo Horizonte, nesse caso é um prefeito sem palavra, não é o PSB nacional.
JC - Nada no PSB acontece sem o aval do presidente nacional do partido, Eduardo Campos.
FALCÃO - No caso de Belo Horizonte, acho que não houve intenção.
Talvez não tenha havido total energia para impedir o rompimento, mas ele partiu do prefeito, que preferiu ficar com o PSDB.
O Roberto Amaral, vice presidente do PSB, dialogou comigo, disse que seria importante que o prefeito não rompesse, mas ele bateu o pé.
Na medida em que o PSB continuar integrado com o projeto da presidente Dilma e sua reeleição, essas questões pontuais desaparecerão após a eleição.
Nesse momento a nossa disputa em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte virou uma disputa nacional.
JC - Então o senhor reconhece um projeto político nacional de Eduardo Campos?
FALCÃO - O que estou dizendo é que essas três disputas viraram uma prioridade nacional para o PT.
O que vai pela cabeça do governador não consigo adivinhar agora.
Mas percebo que há uma intenção clara do PSB de crescer, o que é legítimo.
Mas no caso do Nordeste, crescer em cima do PT, em prefeituras que nós já governamos.
Isso é nítido.
JC - É postura de aliado?
FALCÃO - No caso dessas duas cidades, não: Recife e Fortaleza.
E no caso de Belo Horizonte, queríamos apoiar um aliado e ele rompeu o acordo que tinha feito conosco.
JC - A que o senhor atribui o rompimento PT-PSB no Recife?
FALCÃO - Houve uma disputa interna no PT, natural do nosso ponto de vista.
Mas que ele (Eduardo Campos) se valeu dessa disputa interna para alegar que havia risco de derrota eleitoral e que não poderia permitir uma derrota na capital do Estado dele.
Usou isso como argumento para lançar uma candidatura que fosse mais afinada com o projeto dele para o Estado.
E o que se vê, hoje, é o peso do Humberto nas pesquisas, não é um candidato que caminha para derrota.
Pelo contrário, tem grande viabilidade, conhecimento dos problemas da cidade e pode ganhar a eleição.
Então esse risco de que sem um candidato dele (de Eduardo) a oposição ganharia a Prefeitura do Recife não está claro nesse momento.
Não escolhemos um candidato que precisa crescer, que precisa se viabilizar, escolhemos um candidato que tem todas as condições de ganhar.
Montamos Humberto e João Paulo.
Essa era a alegação dele (de Eduardo Campos): dizer que o PT não se entenderia, que precisava oferecer uma alternativa para a cidade impedindo a volta da oposição.
JC - Então o argumento do governador para lançar candidato contra o PT não se sustenta?
FALCÃO - Exatamente.
Ele poderia ter outros objetivos, que são legítimos.
O PSB teria todo direito de lançar candidato, mas é preciso que fique claro que o rompimento da Frente não foi uma iniciativa do PT.
Em Fortaleza, eu disse ao governador que a manutenção do apoio ao PT dava precedência ao PSB para lançar candidato a governador em 2014.
JC - É possível restabelecer a aliança PT/PSB?
FALCÃO - Com Humberto ganhando a eleição, ele terá relações institucionais com o governador.
Acaba a eleição, tem que se estabelecer as relações políticas, os acordos em benefício da população.
O governador e o PSB continuam participando da base da presidente Dilma.
Não queremos criar nenhum clima de animosidade com ele, mas estamos numa disputa eleitoral.
Achamos que é importante que essa Frente, que foi construída ao longo desses anos, seja com a gente participando da eleição dele (de Eduardo Campos), do governo, e ele nos apoiando na prefeitura, seja mantida.
Mas queremos dar continuidade ao projeto que estamos desenvolvendo no Recife, de continuidade com mudanças.
E ele (o governador) apresenta um outro projeto que eu ainda não conheço!?
E diferente do que estamos propondo?
JC - A aliança do governador com o senador Jarbas Vasconcelos incomodou o PT?
FALCÃO - O que nos causou estranheza e cria muitas dificuldades, inclusive, é essa aliança com o Jarbas Vasconcelos.
Eu li umas declarações do candidato a vereador, que é filho dele (de Jarbas), dizendo que, na medida em que o governador e o PSB rompem com o PT, eles se sentem à vontade para se aproximar do governador.
JC - Esse é o entendimento do próprio Jarbas.
E a reaproximação só ocorreu porque ele identificou um rompimento entre PT e PSB.
FALCÃO - Exatamente.
Mas ele está na verdade querendo precipitar um rompimento e identificou na atitude do governador, de lançar um candidato no Recife, esse rompimento com o PT.
JC - Mas não foi o que ocorreu?
Na medida em que o governador acolhe Jarbas, de certa forma avaliza essa tese.
FALCÃO - Pois isso vai deixar o presidente Lula mais à vontade, já que ele (Jarbas) é seu grande opositor e da presidente Dilma, para dizer que está apenas com Humberto Costa.
O quadro agora é completamente diferente da eleição de 2006: nós não vamos ter dois palanques do Lula em Pernambuco.
JC - O senhor está dizendo que Jarbas Vasconcelos no palanque do PSB reforça a presença de Lula no Recife?
FALCÃO - Deixa mais nítido o posicionamento do presidente Lula que já se manifestou, inclusive em vídeo, no lançamento da candidatura do Humberto, dizendo que acha importante a eleição dele e conclamou a militância do PT a ficar cada dia mais unida.
O presidente Lula tirou fotos com Humberto, com João Paulo e disse que vem ao Recife.
JC - Que dificuldades políticas são essas que o senhor atribui à aliança de Eduardo com Jarbas?
FALCÃO - É estranho que o governador, que faz parte da base de apoio da presidenta Dilma, se alie com um adversário histórico nosso.
Não só nosso, dele também.
Quero lembrar que o único senador que se opôs à indicação da (ex) deputada Ana Arraes (mãe de Eduardo Campos) para o Tribunal de Contas da União, com o nosso apoio, foi o senador Jarbas Vasconcelos.
E na ocasião quem a defendeu, e nós estamos cobrando isso, foi o senador Humberto Costa.
JC - É questão de honra para o PT vencer o PSB no Recife?
FALCÃO - É uma questão de honra para nós ganhar a eleição em Recife.
Nosso objetivo hoje é crescer nacionalmente, manter a maior parte das prefeituras que temos, reconquistar algumas das que perdemos e aumentar significativamente o número de vereadores.
Esse é o nosso objetivo.
E Pernambuco, São Paulo, Fortaleza e Belo Horizonte são prioritárias.
Vamos jogar muito peso nessas campanhas.
JC - O que de fato aconteceu que resultou na saída de Maurício Rands do PT?
FALCÃO - Não sei.
Não posso concordar com as razões que ele alegou para deixar o partido: que tentava corrigir traços de autoritarismo, que houve um movimento autoritário a partir de São Paulo.
Maurício lançou seu nome às prévias quando nem tinha quadro de prévias ainda.
Estávamos dialogando com João da Costa.
Havia um prazo para avaliar as possibilidades de ele ser candidato.
Ao lançar o seu nome, Maurício teve o apoio de João Paulo e do Humberto.
Fez uma campanha com ampla divulgação.
As prévias deram vitória ao João da Costa e ele recorreu, impugnou a prévia, nós acolhemos seu recurso, reconhecendo a existência de falhas procedimentais, e convocamos nova prévia.
Portanto o clamor dele foi atendido.
Se fosse uma medida autoritária, poderíamos ter dado a vitória a João da Costa e pronto.
Convocamos nova prévia mas o clima ficou muito mais tenso, então ponderamos para que os dois abrissem mão em favor de um terceiro nome.
Num primeiro momento João da Costa se mostrou sensível, Maurício foi extremamente intransigente.
Tal foi a minha surpresa quando ele desistiu da disputa para apoiar Humberto e João da Costa querendo ser escolhido por WO.
Então se alguém poderia invocar autoritarismo é João da Costa, se a gente não tivesse dialogado com ele.
Maurício não.
E minha estranheza aumentou quando ele declarou apoio ao candidato adversário (Geraldo Julio)!.
JC - O PT pode rever o instrumento da prévia?
FALCÃO - Talvez no futuro possamos fazer o seguinte: em caso de reeleição, prévia só se ocorrerem transgressão ética e descumprimento do programa partidário.
Porque realmente essas experiências são processos que deixam sequelas.