Por Antonio Jordão, especial para o Blog de Jamildo Demorou, mas eles voltaram à luta.
A rejeição ao peleguismo pode até tardar, mas não falta.
Primeiro, foram estudantes.
Como sempre.
A seguir, servidores federais da educação, docentes, e depois os técnico-administrativos.
A Universidade dando o exemplo.
E o movimento se espalhou pela esplanada dos ministérios e outros setores também nos estados: Funasa, Ministério da Saúde , do Planejamento, do Trabalho e Emprego, da Integração Nacional, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do Desenvolvimento Agrário, da J u s t i ç a , F u n d a ç ã o Nacional do Índio (Funai), Ministério da Agricultura, Arquivo Nacional, Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e Hospital das Forças Armada (HFA).
Em Brasília, 20 mil funcionários públicos caminharam e manifestaram pelos ministérios, palácios, poderes… houve até um breve confronto com a polícia, que baforou spray de pimenta; logo contornado.
Mas, as mais altas autoridades ainda não receberam as representações dos funcionários.
Deve-se este respeito às categorias.
O velho jargão totalitarista do “não negocio com grevistas” voltou à moda.
Impressionante como os tempos mudam, mas as velhas práticas permanecem.
Incoerentemente, mediocremente.
As propostas governamentais, no melhor estilo capitalista atrasado, procuram atender a apenas uma pequena parcela dos trabalhadores.
Pagar melhor a poucos, passando a impressão de “concessão de grande reajuste” como se todos fossem contemplados.
Mas deixam de fora a grande maioria da base, que é apenas perifericamente contemplada.
Questão de contas.
Tenta-se não beneficiar adequadamente a todos, mas controlar a maioria beneficiando uns poucos (lideranças ou emblemáticos) do topo da pirâmide.
Mas os espaços para as negociatas exclusivistas estão sendo fechados.
As pessoas despertaram, e acompanham atentamente cada movimento.
Os anos de desmobilização e desvalorização deixaram ensinamentos.
Situação interessante na CHESF.
Empresa superavitária que sustenta os déficits do sistema Eletrobrás.
Ano atrasado, mudaram o estatuto da empresa nordestina que é exemplo pro país; retirando-lhe a autonomia e o dinheiro.
E seus funcionários continuam dando show de bola no setor elétrico, gerando excelentes lucros.
Naturalmente, esses resultados deveriam chegar também para os trabalhadores.
Mas, contraditoriamente, quando levaram a pauta salarial para a empresa os trabalhadores receberam um rotundo NÃO.
Aí, naturalmente engrossaram o caldo da greve, de reivindicação legítima.
Em Pernambuco, os policiais civis também acordam.
Avisam e, desconsiderados, entram em greve.
Não mais por acordinho de reposição de taxas inflacionárias falsas, mas exigindo recomposição salarial.
Reconhecendo que neste período de crescimento econômico nossa população sofreu arrocho salarial, inflação real, o custo de vida elevou-se dando a impressão – real – de que nossos salários foram reduzidos: já não dá para fechar as contas no final do Mês.
Policiais civis em greve.
Outra vez dizendo que precisam sobreviver, e lutam pelas suas famílias, e pela dignidade da carreira.
Com o seu sindicato cumprindo seu papel de organizador e porta voz da categoria.
Tendo atrás a cobrança da base.
Depois que muitos sindicatos negociaram por quatro anos; sem projetarem perdas, decomposição salarial e ócio sindical.
Mas, nunca é tarde.
Lembrando que nem com os policiais faltou a retórica autoritária e intimidatória de “não dialogamos com grevistas”.
E a ação rápida do estado, com a resposta prestimosa do poder judiciário não deixou de presenciar-se – no mesmo dia.
Interessante é se compararmos a velocidade de resposta do Judiciário às demandas geradas pelo poder executivo (prestador de serviços e patrão) com aquelas geradas pelos cidadãos e trabalhadores.
Mas este é um outro capítulo.
A recomposição do poder de compra dos salários é questão de sobrevivência.
Se no período de crescimento econômico não se reparte o bolo, imagine quando ele acabar e só restarem as vacas magras.
Antonio Jordão é médico e ex-presidente do Simepe