Por Manuela Dantas, especial para o Blog de Jamildo - Olá!

Como vai? - Eu vou indo.

E você, tudo bem? - Tudo bem!

Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E você? - Tudo bem!

Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe? - Quanto tempo! - Pois é, quanto tempo! - Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios! - Qual, não tem de quê!

Eu também só ando a cem! … (Trecho da Música Sinal Fechado de Chico Buarque e Paulinho da Viola) Desculpem-me a ausência, mas meu afastamento não foi senão efeito de uma imersão completa em um novo método de recuperação de lesão medular por meio de fisioterapia e reabilitação não convencional baseada no método Dardzinski, criado em 1999 pelo educador físico Ted Dardzisnki (fundador do Project Walk).

O método é baseado na combinação de exercícios intensivos e atividades restaurativas que estimulam o sistema nervoso em disfunção com o objetivo de reativá-lo e reorganizá-lo.

Anteriormente as minhas férias planejadas, andava meio irrequieta por permanecer fazendo as mesmas terapias, utilizando o mesmo tratamento, que mantinha meu quadro físico relativamente estável, mas não conseguia enxergar progressos mais fortes e ansiava por imergir em algo diferente, mas com resultados consistentes e estudos científicos realizados, como era o caso do Project Walk.

De fato, eu não me convenci em continuar o meu tratamento utilizando apenas a fisioterapia convencional, eu queria tentar fazer mais. É possível que outras tentativas não apresentem um resultado extraordinário, ou que até não tenha resultado algum, mas eu nunca me conformaria em não experimentar, em me frustrar por uma não tentativa, ou com o medo de mais um esperança perdida.

Como diria Paulinho da Viola: “Cego é aquele que enxerga, apenas aonde vai o horizonte…” e o fato é que sempre busco além do horizonte, muitas vezes caminho, caminho e nunca alcanço o que procuro, mas esse sonho me faz continuar andando motivada para novos desafios.

Filosofia a parte, a verdade é que o método convencional de reabilitação tem um grande e merecido mérito por manter e fortalecer todo o conjunto motor e de sensibilidade preservado pela lesão medular, de modo a ajudar que o lesionado adquira a independência perdida com a lesão.

E essa independência é fundamental para a continuidade da vida com tudo a que ela pertence, ou seja, trabalhar, estudar, namorar, divertir-se, fazer um esporte, ter um filho…

A lesão da medula espinhal é uma das mais graves complicações que causam incapacidade no ser humano, pois provoca falência de uma série de funções vitais, tais como: locomoção, sensibilidade, sexualidade, sistema urinário e intestinal e do sistema nervoso autônomo.

A medula espinhal conduz impulsos para o encéfalo e os que dele se originam, as várias vias aferentes e eferentes proporcionam um elo vital no controle do sistema nervoso central, por isso a lesão dessa estrutura irá resultar na perda parcial ou total da capacidade motora, sensibilidade, controle vasomotor, esfincteriano, e função sexual.

Considerando ainda que as principais causas de lesão medular são as traumáticas e que a maioria da população atingida é constituída por jovens com idade inferior a 40 anos, podemos observar uma grave incapacidade que os acomete de forma abrupta, com repercussões físicas e psicológicas em plena idade ativa.

Os avanços ocorridos nas últimas décadas na medicina e o consequente aumento da sobrevida de indivíduos vítimas de Traumatismo Raquimedular foram acompanhados de uma evolução no tratamento, que passou a objetivar a minimização das incapacidades e complicações e o retorno gradual dos indivíduos à sociedade.

As deficiências e incapacidades advindas do Traumatismo Raquimedular levam a tratamentos de alto custo e provocam alterações no estilo de vida dos pacientes devido às limitações funcionais.

O aumento da expectativa de vida desses indivíduos fez com que o processo de reabilitação fosse para além da prevenção dos danos causados pela lesão medular e objetivasse também a melhora da qualidade de vida e a independência funcional.

Dessa forma, o atendimento de reabilitação ao paciente com lesão medular deve ser o mais precoce possível, a fim de propiciar a aquisição de melhor desempenho em menor tempo e de forma mais apropriada.

Foi à reabilitação convencional que me proporcionou a continuar vivendo em condições, minimamente, normais após a lesão medular.

Pude voltar a trabalhar, voltar para casa, reaprender a sentar e continuar sentada para realizar as funções básicas como tomar banho, vestir-me, usar o banheiro e utilizar as ruas e logradouros públicos e privados, a depender de suas condições de acessibilidade.

Na verdade, a reabilitação é o processo destinado a restabelecer as funções do paciente prejudicadas por doenças, acidentes ou outros eventos, propiciando seu retorno ao ambiente familiar, social e de trabalho.

Isto posto, ter uma rede de reabilitação adequada é fundamental em todos os estados.

A assistência à pessoa portadora de deficiência física exige estrutura especializada e hierarquizada de Alta, Média e Baixa Complexidade, com área física adequada, profissionais habilitados e suporte de serviços auxiliares de diagnóstico e terapia.

Atualmente, Pernambuco possui 2 centros de Alta Complexidade, a AACD (que atende crianças e adultos, apenas amputados) e o IMIP (que atende crianças e adultos), possui 2 centros de Média Complexidade, o Hospital Getúlio Vargas e o MenSana em Arcoverde.

A demanda para a população do estado de Pernambuco para uma rede adequada seria de 3 centros de Alta Complexidade, 5 Centros de Média Complexidade e 56 Centros de Baixa Complexidade.

Considerando que em Pernambuco a incidência de lesões traumáticas da medula espinal vem aumentando consideravelmente nos últimos anos devido aos acidentes automobilísticos, de moto e episódios de violência, essa rede de reabilitação ganha uma importância ainda maior.

Lembro que quando cheguei a São Paulo em 2010 para a reabilitação, após a lesão medular, no Hospital Albert Einstein, continuava acompanhando o meu nome na lista de espera para a reabilitação na AACD e no Hospital Sarah Kubitscheck, quando depois de 6 meses fui finalmente chamada para avaliação médica na AACD, muitos dos que estavam lá me falaram da Rede de Reabilitação Luci Montoro exclusiva ao Estado de São Paulo, na qual a espera por atendimento era de dias e não de meses e possuía também um alto padrão de excelência no atendimento e era completamente público.

Nesse momento ambicionei muito ver em Pernambuco uma rede naquele modelo, a qual era uma ferramenta de inclusão imprescindível. É fácil verificar a necessidade de uma rede de reabilitação no nosso estado ao avaliar os dados relativos às pessoas com deficiência em Pernambuco, que apresenta os seguintes números: Pernambuco tem 1,38 milhões de pessoas com deficiência, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, 17,4% da população de Pernambuco possui algum tipo de deficiência, o que corresponde à quarta maior taxa do Brasil; 50 mil pessoas da região metropolitana de Recife têm tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente.

No estado de Pernambuco chegam a ser de 500 mil pessoas (Fonte Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência - Sead); 48,9% de deficientes possuem idade entre 20 a 59 anos, ou seja, parte da população economicamente ativa que pode retornar ao mercado de trabalho (Fonte: Pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, junho/2010); 95,9% de deficientes pertencem as classes – C, D e E - , ou seja, pessoas que não poderão ser reabilitadas em outros centros do País por não possuírem capacidade financeira para esse fim e se tornam excluídos da sociedade (Fonte: Pesquisa da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, junho/2010).

A existência de uma rede de reabilitação para deficientes está prevista e organizada com critérios e padrões de acordo com a Portaria GM/MS nº 818 de 05/06/2001 que cria mecanismo para a organização e implantação de Redes Estaduais de Assistência à Pessoa Portadora de Deficiência Física.

No processo de reabilitação o primeiro passo é a avaliação feita por um especialista na área (Fisiatra) que, em conjunto com os outros membros da equipe médica, faz o diagnóstico em relação à incapacidade do paciente e traça os objetivos de recuperação.

Ele define quais recursos materiais e humanos serão necessários.

Também indica os medicamentos para o tratamento de condições prejudiciais, como dor ou rigidez. É fundamental que o processo de reabilitação conte com a participação de uma equipe formada por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, assistente social e enfermeiro de reabilitação, dentre outros profissionais.

De certo que ter uma rede de reabilitação adequada é um direito do cidadão pernambucano e dever do estado, mais ainda quando pensamos na inclusão que pode promover uma rede dessa magnitude para oferecer a reabilitação de deficientes pertencentes às classes A, B, C, D e E da população pernambucana sem distinção e promover a reintegração na sociedade de pessoas reabilitadas, independentes, autoconfiantes e com potencial para retornar ao mercado de trabalho e a vida.

Por fim, aproveitando o momento de campanha municipal proponho aos prefeituráveis que incluam esse tema em seus projetos de gestão do Recife, com certeza a contribuição que darão a cidade e ao estado escapa da avaliação dos principais indicadores políticos, sociais e econômicos.

Rogo também a todos os nossos representantes políticos que após eleitos não sumam na poeira das ruas e que não se esqueçam de suas promessas, pois tem muita gente, que como eu está observando atenta a evolução de nossas cidades, estados e do país e que conta com esses compromissos estabelecidos em um momento posterior a um Sinal Fechado.

Quem sabe a história política do país não caminha para que os sinais permaneçam sempre abertos e os compromissos e pessoas não sejam esquecidos?

Aliás, cabe destacar que nessa nova etapa de tratamento de que participei em São Paulo, todos os pacientes e clientes do centro de reabilitação que estavam em idade ativa trabalhavam, estudavam e não estavam aposentados, o que me deu um grande alento de que a esperança permanece e que o país não aceitará, em prol de um sono tranquilo, que um quarto de sua população composta por deficientes fique a margem da sociedade e não contribua economicamente, culturalmente e socialmente para o crescimento da nossa nação. …Quanto tempo! - Pois é… Quanto tempo! - Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas… - Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança! - Por favor, telefone!

Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente… - Pra semana… - O sinal… - Eu procuro você… - Vai abrir, vai abrir… - Eu prometo, não esqueço, não esqueço… - Por favor, não esqueça, não esqueça… - Adeus! - Adeus! (Trecho da Música Sinal Fechado de Chico Buarque e Paulinho da Viola)