Foto: Bernardo Soares/JC Imagem Gabriela López A ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campelo, esteve no Recife para um evento do Movimento Pró-Criança nessa sexta-feira (28).
Em entrevista exclusiva ao Blog de Jamildo, ela falou sobre o Programa Brasil Carinhoso.
Lançado em junho deste ano, o programa visa crianças com idade entre 0 e 6 anos.
A meta é tirar este público da extrema pobreza, fazendo com que a renda da família supere R$ 70 por membro.
LEIA TAMBÉM: Ministra de Dilma diz que quer participar da campanha de Humberto no Recife BLOG DE JAMILDO – Qual é a meta do Brasil Carinhoso em Pernambuco?
TEREZA CAMPELO – O Brasil Carinhoso é um programa dentro do Brasil Sem Miséria que atende crianças com idade entre 0 e 6 anos.
Nossa grande preocupação é que a maior parte dos extremamente pobres são jovens, crianças, e observamos que, entre este público, não só há muitos pobres como há muita gente fora da escola, sem acesso a merenda escolar nem estímulo.
Consideramos em extrema pobreza quem ganha abaixo de R$ 70, então queremos fazer todo mundo ganhar acima disso.
Como o pagamento começou em junho, podemos dizer que já tiramos 69% das crianças da extrema pobreza e, como ao tirar a criança, tiramos também a família, 43% da população do Estado em extrema pobreza saiu desta situação.
Isto no que diz respeito à renda, porque extrema pobreza envolve outras coisas, como assistência odontológica.
BLOG – Há críticas de que programas de transferência de renda, como o Brasil Carinhoso, são assistencialistas, não há políticas públicas estruturadoras.
TEREZA – Não achamos assistencialista.
O Brasil Carinhoso está dentro do Brasil Sem Miséria e este tem várias medidas estruturadoras, como oferta de cursos de qualificação profissional, são 198 tipos de atividade.
Em Pernambuco, oferecemos 18 mil vagas para este ano.
Agora, precisamos desmistificar algumas coisas.
As pessoas acham que quem tem o Bolsa Família não trabalha e isto não é verdade.
Cinquenta e seis por cento das pessoas do Bolsa Família têm menos de 18 anos de idade, então elas não podem trabalhar, seria trabalho infantil.
Entre os adultos, 72% trabalham, mas, às vezes, a pessoa não tem renda suficiente para sair da pobreza.
Aqui em Pernambuco, por exemplo, muitos trabalham na colheita da cana e só recebem quatro meses de salário.
Outro exemplo: tem gente que ganha um salário mínimo, mas tem oito filhos, então vive na extrema pobreza.
No Nordeste, os lugares onde mais cresceu o número de emprego são os que mais têm cobertura do Bolsa Família.
Também diziam que as pessoas iam ter mais filhos.
Hoje sabemos que a taxa de fecundidade diminuiu no Brasil.
Terceiro: diziam que as pessoas não iriam saber gastar o dinheiro, mas hoje sabemos que o dinheiro é usado para comprar alimentos e produtos de higiene.
BLOG– Pernambuco está em quinto lugar no ranking dos dez Estados com maior concentração de extrema pobreza.
Como é este cenário aqui comparado com os outros estados?
TEREZA – Pernambuco tem 1,38 milhão de pessoas na extrema pobreza.
Isto é o estoque dos 500 anos de Brasil e não dos últimos dez anos.
Houve épocas em que o Brasil esteve estagnado economicamente e outras em que o desenvolvimento era concentrado no Sul e Sudeste.
As taxas de crescimento do Nordeste crescem acima das outras regiões hoje, mas, até igualar o número de desigualdade, vai demorar um tempo.
A parcela da população adulta, idosa, em situação de analfabetismo, por exemplo, é difícil de mudar.
Na parte do que estamos fazendo, dos serviços que estamos oferecendo, a Região Nordeste é disparada a que recebe mais esforços nossos, porque precisa mais.
Exemplo: no Brasil de modo geral, o número de escolas que tem mais de 50% de alunos integrando o Bolsa Família cresceu 53% entre 2011 e 2012.
Em Pernambuco especificamente, este aumento salta para 72%.
Estamos fazendo todo um esforço de ampliação no Nordeste.
O Bolsa Família representa só 0,46% do PIB brasileiro.
Ou seja, o gasto com o programa é quase nenhum, porque há um retorno.
Quando as pessoas compram alimentos com o dinheiro do Bolsa Família estimulam o comércio.
Por outro lado, o governo federal repassa para Pernambuco R$ 1,7 bilhão, que é 1,76% do PIB do Estado. É um investimento significativo.
BLOG – Qual é a garantia de continuidade do programa?
Por exemplo, se mudar de governo, corre o risco de alguém querer acabar com o programa.
TEREZA – O Bolsa Família e o Brasil Carinhoso são lei.
Eu acho difícil depois do governo Dilma alguém ter coragem de acabar com eles.
Ninguém vai fazer isso.
Está comprovada a eficácia do Bolsa Família.
O mundo todo vem nos copiar e nós vamos acabar?
BLOG – Também acusaram o Brasil Carinhoso de ter caráter eleitoral, já que foi lançado em ano de eleição.
TEREZA – Disseram isto no Bolsa Família também.
O que tenho a falar é: atinge todos o municípios, não depende de partido do prefeito, não depende de nada.
Além disso, ninguém precisa pedir para entrar no Brasil Carinhoso.
Todas as famílias que ganham o Bolsa Família e têm pelo menos um filho com até 6 anos recebem automaticamente.
Se tivesse que pedir para entrar, aí alguém ainda podia dizer “não, eu te dou e em troca você faz isso ou aquilo”, mas não precisa.
Também não depende de pleito, é um benefício impessoal.
Então, a pergunta que fazemos é: uma criança mal alimentada deveria esperar as eleições passarem?
O Brasil deve parar seis meses e as crianças continuarem na extrema pobreza só porque é eleição?