A mesmice sem fim por Angelo Castelo No momento em que se realizam campanhas eleitorais para gerentes das grandes cidades brasileiras não seria demasiado lembrar que essas disputas coroam um formidável equívoco nacional.
Em nenhuma delas, incluindo os cenários das disputas mais acirradas, os urbanistas de renome do Brasil e de outras regiões do mundo estão sendo convocados para dar suporte a planos exequíveis.
O que se percebe são discussões estéreis no entorno de atoleiros ideológicos onde emergem suplicantes de votos, ou, quando não, nos limites pouco recomendáveis das ambições pessoais.
Discutem-se perfumarias enquanto as cidades mergulham cada vez mais no fosso das inviabilidades assaltadas pela imobilidade, pela ocupação desordenada do solo, pelos equívocos de prioridades, pela ausência do estado e pelo gigantismo das deformações urbanas.
A primeira advertência nesse sentido foi pontificada em 1947 pelo padre francês Joseph Lebret, diretor do Centre National de la Recherche Scientifique e doutor honoris causa da Universidade de São Paulo, autor de estudos e de conferencias onde exaltava o humanismo como base de todas as políticas públicas.
Ele viajou por varias cidades da América Latina e esteve inclusive no Recife onde percebeu que a grande saída econômica de Pernambuco estava no seu litoral Sul, em Suape, onde, 70 anos depois, a sua visão está sendo confirmada com a magnitude de um emergente pólo industrial.
A topografía do grande Recife seria ideal para o transporte de massa sobre trilhos, apenas timidamente realizado quando comparado com as reais necesidades da população.
Em 1971, Jaime Lerner, duas vezes biônico e depois eleito pelo voto popular, transformou Curitiba num paradigma de avanços em urbanismo, mas seu modelo não seria adotado, como era de se esperar, em outras regiões.
Nasceu , cresceu e amadureceu em Curitiba onde mantém elevados pontos de aprovação.
As nossas discusões eleitorais não contemplam uma visão técnica de planejamento urbano, quando esse fundamental ítem deveria estar nafront page de todas as peças publicitárias, nos vídeos, nos áudios e nos debates que enchem a paciencia do eleitor pela mesmice sem fim.
Um enorme equívoco.