Na eleição do Recife, aparece até monstro Por Henrique Viana Brandão (HV, candidato a vereador no Recife pelo PSOL Em 1968, Caetano Veloso profetizou o que viria a ser parte de nosso futuro político enquanto nação, após ser massivamente vaiado num festival de MPB da TV Record pela juventude dita revolucionária da época, que não aturou a novidade estética trazida pela tropicália.

Caetano, em tom muito emocionado, praguejou contra a platéia: “Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos”.

O pior é que ele estava certo!

Passado o regime militar seria aquela juventude que assumiria o poder, agora velhos politicamente influentes e nada revolucionários.

Se para o pensador argentino, José Ingenieros, a velhice mediocriza os homens, para mim esse sintoma também pode acometer os jovens, tornando-os caretas.

E esse processo de encaretamento traz consequências nefastas para a sociedade. É difícil aceitar o novo.

Os mecanismos de apreensão do mundo sempre resistem às mudanças.

Esses mecanismos cognitivos são formados no choque entre os corpos e entre os campos de força que estruturam o sistema social vigente.

Como disse Marcuse, “o homem é dominado pela riqueza em expansão de seu meio econômico, social e político, e vem a esquecer que seu livre desenvolvimento é a meta final de todas essas obras; em vez disso, rende-se a seu império.

Os homens sempre procuram perpetuar uma cultura estabelecida; assim fazendo, perpetuam sua própria frustração”. É mais ou menos isso que penso quando vejo, no período eleitoral, tantos jovens se portarem politicamente como seus avós.

Acham-se revolucionários e não passam de pequenos conservadores repetindo o esquema no qual estão inseridos.

Acham-se punks anarquistas, mas não passam de yuppies capitalistas.

Todos querem propostas (mesmo que não sejam executadas ou executáveis), mas não novas idéias.

Todos têm teses; nenhum antíteses!

Será que não temos o direito de apresentar uma nova textura política para o tecido social?

Mesmo que o primeiro passo seja predominantemente estético?

Mudemos a forma agora e o conteúdo logo em seguida, posto que o limite entre a forma e o conteúdo já caiu por terra antes mesmo daquela vaia dirigida a Caetano Veloso.

Somos de uma outra geração, creio eu que mais ética e bem mais divertida.

Não queremos enricar, não precisamos de mais milionários, precisamos de justeza social e crescimento intelectual.

Queremos leveza no coração e liberdade na alma.

E só através da estética é possível romper com a ordem epistemológica estabelecida.

Só esteticamente conseguiremos sublimar essa política objetal.

Chegou a hora da catarse, meus amig@s, chegou a hora de uma nova política para os novos cidadãos que aí estão e que hão de vir.