Por Fernando Castilho, do JC Negócios.
Seu Queiroz era um desses empresários cuja identidade com a empresa era tão forte, tão forte, que o nome dele acabou se incorporando ao dela.
Ele nasceu Severino Cavalcante Queiroz, mas virou seu Queiroz da Ampla.
Mas a gente poderia dizer também seu Queiroz da Ampla da Pitú, como no interior Nordeste costuma-se tratar as pessoas pela ligação familiar. É como um sufixo de apresentação e credibilidade: José de Maria (filho), José de Maria de João (neto), ou até José de Maria de João de Pedro (bisneto).
Significa reverência à tradição de família.
Todo mundo sabe que quase 75 anos (que serão completados ano que vem) de presença no mercado da Pitú, a Ampla está há quase 40 cuidando da sua publicidade. É a mais antiga conta nas mãos de uma agência de publicidade do Norte e Nordeste.
E isso levou a um relacionamento de Severino Queiroz com o presidente do Conselho da empresa, Elmo Carneiro e seus sócios de forma tão forte que deixou de serem profissionais para virar amizade celebrada todas às terças-feiras no almoço, na mesma mesa no Restaurante Leite, no centro do Recife.
Por décadas se alguém queria falar com seu Elmo sobre publicidade da Pitú era tiro certo filar a boia no Leite.
Por que poderia sair de lá com a autorização para a Ampla já que os dois amigos almoçavam juntos há quase 50 anos.
O atendimento da conta, contava seu Queiroz, começou quando ele ainda era diretor regional da Abaeté Propaganda e o Engarrafamento Pitú Ltda. virou também o primeiro cliente da Ampla quando ele decidiu tocar seu próprio negócio.
Na verdade era modéstia de Queiroz.
Todo mundo sabia que foi seu Elmo e seu Severino Ferrer seu sócio, quem deram a maior força para o amigo Queiroz tomasse conta de seu próprio negócio depois de tantos anos na Abaeté do legendário Mário Leão.
Juvenal Teixeira, da Icopervil e João Amorim, do Açúcar Estrela completaram o kit de boas contas com quem a Ampla começou no mercado.
Queiroz dizia que a sua amizade com as famílias de Elmo Cândido e Severino Ferrer (fundadores da Pitú), seus irmãos, filhos e agora netos permitiu-lhe acompanhar um caso raro de uma sociedade comercial que já duram quase três quartos de século com uma afinidade que se conta nos dedos.
Mas, segundo o publicitário, a amizade nunca fez o cliente Pitú menos exigente com sua agência.
Depois de quase 40 anos com o cliente, ele dizia que se permitia comemorar o feito de “colocar o produto na marca”.
A marca Pitú já tinha se tornado forte quando começou a atendê-la.
Vinha da Itamaraty Propaganda, do Cesar Brasil e teve uma participação importante. “Quando a Abaeté e depois a Ampla passou a trabalhar com a marca, achei que era importante fortalecer o produto”.
Eu me orgulho de ter ajudado nisso, dizia.
Foram de Queiroz os slogans “O Aperitivo do Brasil”, a “Aguardente mais vendida do Brasil”, e “Quando pedir aguardente peça pela marca, peça Pitú”, só para citar os principais.
Também foi ele, junto com os donos da companhia, quem ajudou a mudar o conceito social da aguardente.
Hoje, brincava Queiroz, cachaça tem charme, inclusive graças ao trabalho institucional da Pitú, que é o nome oficial do produto.
Até porque como líder na exportação tinha que ser a Pitú quem tinha as condições a trabalhar institucionalmente para que a cachaça fosse reconhecida como uma bebida brasileira.
Mas não era assim no passado, advertia.
Isso hoje é fácil, dizia Queiroz, mas, há 30 anos o sentido da palavra aguardente era até pejorativo.
Foi a Pitú quem deu um upgrade social ao produto.
Isso é um mérito da empresa e da sua equipe que sempre apostou em publicidade que, felizmente era a Ampla quem cuidava da conta.
Mas seu Queiroz era muito mais que a Ampla.
Primeiro, porque foi um dos responsáveis, junto com Mário Leão e Ítalo Bianchi pela organização do negócio de publicidade em Pernambuco.
De dar credibilidade a atividade nas suas relações com o Governo e com clientes.
Depois porque sua empresa é exemplo negócio familiar bem sucedido e de sucessão no mercado.
Seu Queiroz como presidente do Conselho de Administração costumava ensinar que amizade era coisa séria e que se cuidava todo dia.
Poderia se deixar de atender a conta de uma empresa, mas nunca deixar de se relacionar com seus proprietários.
Credibilidade, nas relações pessoais, sempre foi uma de suas lições.
Ah, tinha outra coisa que pouca gente sabe.
Seu Queiroz tinha o hábito de semear moedas de baixo valor pela agência.
E quando certo diz lhe perguntei a razão: ele disse era para que o dinheiro nunca falte no caixa.
Pensando bem seu Queiroz não semeava apenas moedas.
Olhando para sua história é possível ver que, na verdade, passou a vida semeando respeito pelas relações das pessoas na vida pessoal, profissional e das empresas.
Não sei se ele pensava isso.
Só sei que agora tenho uma saudade danada de Seu Queiroz da Ampla.
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