Elas têm uma rotina cansativa.
Como diz a música da novela que popularizou o apelido de “empreguetes” para as empregadas domésticas, acordam cedo, moram longe do emprego, pegam ônibus lotados, ganham pouco.
A recompensa é a esperança de uma vida melhor.
Um cotidiano que representa o de muitos brasileiros.
Por isso, ninguém melhor do que elas para falar das mudanças que desejam no Recife após as eleições de outubro.
Seguindo a série que conta a vida, as inquietações e os desejos de mudança na cidade das empregadas domésticas dos candidatos à Prefeitura da capital pernambucana, o Blog de Jamildo apresenta Emília, que trabalha na casa do candidato do DEM, Mendonça Filho.
O prefeiturável pelo PSB, Geraldo Júlio, não atendeu às solicitações de entrevista.
Transporte público ruim e falta de água são as queixas de Alda, empregada doméstica de Daniel Coelho Dona Sira: tímida, orgulhosa e petista Emília na bicicleata de Mendonça, ao lado da esposa do democrata, Taciana / Foto: arquivo pessoal Ana Emília da Silva, de 31 anos, é daquelas que veste a camisa mesmo.
Aliás, literalmente.
Para receber a reportagem, ela botou a blusa da campanha do candidato à Prefeitura do Recife pelo DEM, Mendonça Filho, para quem trabalha como empregada doméstica há quatro anos.
Foi a mesma roupa que usou na semana passada para pedalar 14 quilômetros na bicicleata que marcou um dos primeiros atos da corrida do democrata rumo às urnas em outubro.
Fez questão de fazer o trajeto todo. “Eles são muito bons para mim.
Faço propaganda dele no Facebook.
Gosto de participar, porque quero que ele ganhe.
Andei a bicicleata todinha.
Sou magra, mas sou fraca, não”, brinca.
Em seguida, saiu correndo para pegar o notebook e mostrar as fotos do evento.
Ela lamenta não votar no Recife.
O domicílio eleitoral é em Passira, Agreste do Estado, onde nasceu e sua família mora.
Lá, ainda não tem um candidato. “Vou votar em quem meu pai votar”, diz.
Ao todo, mais de dez parentes dela trabalham na casa do prefeiturável ou de parentes dele.
A relação entre as família beira os 20 anos.
Por isso, Emília é tratada como integrante da família.
Vai a festas com os patrões, tem liberdade para opinar e participa das campanhas políticas do chefe.
Ela mora na casa de Mendonça, em Boa Viagem, Zona Sul da cidade, e divide os trabalhos domésticos com sua prima, Alexandra.
Três dias por semana visita a família.
Gosta do Recife, mas o coração sempre fica na cidade do Agreste, onde as duas filhas - Ana Cecília, de 2 anos, e Ana Luiza, 4 - vivem aos cuidados dos avós.
Ao falar das filhas, mostra as fotos orgulhosa.
Na capital, faz curso de culinária e cabeleireiro, pagos pelos patrões.
Adora cozinhar, principalmente salgados, tanto que costuma procurar receitas na internet para testar.
Nas horas de descanso, gosta de ir ao shopping e à praia.
Uma das principais queixas é em relação à saúde. “Tenho plano de saúde [benefício dado pelos patrões], mas mesmo assim o atendimento é ruim.
Falta médico e as consultas demoram para ser marcadas”, critica, sem perder o bom humor que tomou toda a entrevista.
Também participou da conversa a assessora de imprensa de Mendonça, Nádia Ferreira.
Ela também reclama do transporte público e da falta de segurança na cidade. “Tem lugar que é um problema para pegar ônibus, não tem muitas opções.
As ruas também são esburacas.
Sem contar que várias amigas minhas já foram assaltadas.
Eu nunca fui, graças a Deus, mas não me sinto segura nas paradas”.
Após as eleições, Emília espera dos políticos ações mais eficazes para combater o abuso sexual contra crianças e adolescentes.
Também recrimina benefícios como o Bolsa Família. “Gostei do governo de Lula, mas não concordo com essas bolsas.
Ajuda quem ganha pouco, mas estimula as pessoas a não trabalhar.
Conheço muita gente lá de Passira que não trabalha porque ganha R$ 300, R$ 400 do governo.
Isso é errado”.
Por não quer se acomodar, Emília trabalha longe de casa, faz cursos, manda dinheiro para a família e, toda semana, enfrenta quatro horas de estrada para visitar os pais e as filhas em Passira.
Faz tudo sorrindo. “Eu sou assim mesmo”, afirma com seu humor e simplicidade.