Gabriela López Elas têm uma rotina cansativa.
Como diz a música da novela que popularizou o apelido de “empreguetes” para as empregadas domésticas, acordam cedo, moram longe do emprego, pegam ônibus lotados, ganham pouco.
A recompensa é a esperança de uma vida melhor.
Um cotidiano que representa o de muitos brasileiros.
Por isso, ninguém melhor do que elas para falar das mudanças que desejam no Recife após as eleições de outubro.
A partir desta segunda-feira (15), o Blog de Jamildo conta a vida, as inquietações e os desejos de mudança na cidade das empregadas domésticas dos candidatos à Prefeitura da capital pernambucana.
Começando por dona Alda, que trabalha na casa do postulante do PSDB, Daniel Coelho.
Na terça (16), é a vez de dona Cira, funcionária do senador petista Humberto Costa.
Foto: BlogImagem Todo dia é a mesma agonia.
Aos 57 anos, Alda Correia dos Santos acorda todos os dias às 5h e enfrenta a maratona de pegar um metrô e um ônibus para ir ao prédio do deputado estadual e candidato à Prefeitura do Recife, Daniel Coelho, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, para quem trabalha como empregada doméstica.
Na volta para casa, o sufoco é o mesmo. “Pego um metrô para o Terminal de Joana Bezerra e de lá pego um ônibus.
Vou e volto em pé.
O povo corre para entrar no ônibus, passa na frente dos outros, já fiquei no meio de uma briga, perdi o sapato. É um horror”, reclama sentada ao lado dos ouvidos atentos da esposa de Daniel, Rebeca Coelho, que corre para pegar um papel e anotar a queixa. “Terminal de Joana Bezerra, né?
Vou falar para ele incluir no programa de governo”, explica a dona da casa.
Das amigas que mora no Recife, dona Alda escuta queixas sobre áreas de risco nos morros. “Quando vou na casa delas fico imaginando como alguém mora ali, daquele jeito.
Ali não é lugar para morar”.
Para dona Alda, pior do que a deficiência no transporte público e o perigo nos morros do Recife só mesmo a constante falta de água no bairro onde mora: Vista Alegre, em Jaboatão dos Guararapes, município do Grande Recife vizinho à capital pernambucana. “Fico 10 dias seguidos sem água.
Sem contar os buracos.
Tem buraco em todas as ruas, até na avenida principal”, critica. “O problema de lá é um prefeito que trabalhe mesmo”.
Ela ainda não escolheu em quem vai votar para prefeito, precisa conhecer os nomes e as propostas.
Mas o vereador está decidido: Abelardo Filho (PCdoB). “Meu filho trabalha com ele”, justifica.
Além do filho mais velho, Dênis, de 32 anos, dona Alda tem João Paulo, 31.
Para sustentar a família, antes de ser empregada doméstica, arrumou emprego em uma fábrica de saco de supermercado.
Há uns quatro anos, saiu da empresa e começou a trabalhar em casas de família.
Após alguns bicos, acabou na família de Daniel Coelho.
Nunca tinha trabalhado para uma pessoa pública e garante que foi bem recebida.
Desde que entrou na residência do prefeiturável, há cerca de três meses, ela interessou-se mais por política. “Eu abro o jornal e só procuro a página que ele está.
Quando passa na televisão lá de casa, chamo todo mundo pra ver”, conta deixando transparecer o orgulho. “Às vezes, minhas amigas do Ibura dizem “vi teu patrão na TV”. É engraçado.
E eu digo para votarem nele, viu?
Faço a propaganda mesmo”, brinca, lamentando em seguida que seu domicílio eleitoral é em Jaboatão.
Nas horas vagas, católica desde sempre, vai à Igreja, já que faz parte de um grupo de oração.
Também gosta de ficar em casa no descanso.
No sofá, entre um sono e outro, uma novela e outra, sonha acordada com a aposentadoria, ver os filhos encaminhados na vida e a mesa do almoço cheia de gente.