Atualmente a Câmara de Vareadores do Recife conta apenas com quatro oposicionistas à atual gestão.
São eles: Priscila Krause (DEM), Vera Lopes (PPS), Aline Mariano (PSDB) e Marcos Menezes (DEM).
Os quatro representam apenas 10% dos parlamentares da casa - que têm um total de 37.
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) a situação é ainda mais grave.
De um total de 49 parlamentares, apenas três fazem oposição ao governo Eduardo Campos (já que na Alepe o PSDB não faz oposição na prática).
Maviael Cavalcanti.
O deputado estadual Maviael Cavalcanti (DEM) diz, entre risos, que neste seu 8º mandato na Assembleia Legislativa tem sido oposicionista “sozinho” na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O principal motivo do enfraquecimento da oposição, de acordo com o deputado, é a busca de apoio do popular governador Eduardo Campos nas campanhas municipais pelo interior, onde normalmente os parlamentares se candidatam às prefeituras.
Líder da bancada de oposição no segundo governo Arraes (1986-90), Maviael Cavalcanti lembra saudosista que na época a Assembleia Legislativa era equilibrada, com cerca de 20 deputados oposicionistas e pouco mais de 20 governistas. “Os debates entravam pela noite e a imprensa dava total cobertura.
Hoje só dois ou três falam e ninguém se importa.
A democracia só existe no poder Executivo.
No legislativo não”.
O parlamentar explica ainda que a relação deputado-governador mudou, fazendo com que hoje o governo seja muito mais poderoso e o deputado assuma um papel bem mais discreto que antes.
A consequência é uma inversão de papeis onde o parlamentar passa a precisar do apoio do governo. “As eleições municipais deixam eles mais calmos.
E mesmo que fale, o reflexo é pequeno.
Somos poucos.
A maioria do PSDB é bem claro que não são oposição, porque são candidatos a prefeito nas cidades do interior e querem o apoio do governador.
Daniel Coelho é oposição, mas é muito suave”, lamentou. “Sou sozinho”, disse, entre risos, “mas tenho alguns outros companheiros comigo.
Só não posso dizer quem é oposição ou não, que isso não cabe a mim”. “No regime militar os governadores prestigiavam os deputados.
As obras que iam para o interior era por intermédio dos deputados.
Os parlamentares falavam com o governador quando queriam.
Mas hoje temos que tentar marcar e, quando conseguimos, é para daaqui três meses!
Isso faz com que fiquemos sem força, sem prestígio, dependente do apoio do governador para se eleger prefeito.
E aí eles ficam mansos.” Maviael lamentou ainda que a visão de oposição esteja sendo deturpada por muitos e até critica a imprensa, afirmando que a mídia também é responsável por isso.
Reclamou que a imprensa critica a oposição como se o grupo “atrapalhasse” o gestor. “Fazer oposição não é estar contra o Estado.
Não é radicalismo. É criticar coisas erradas da gestão e fazer advertências, chamar atenção para os erros.
Teoricamente, a Assembleia Legislativa tem oito oposicionistas.
São eles Antônio Moraes (PSDB), Betinho Gomes (PSDB), Carlos Santana (PSDB), Claudiano Martins Filho (PSDB), Daniel Coelho (PSDB), Edson Vieira (PSDB), Maviael Cavalcanti (DEM), Ramos (PMN) e Tony Gel (DEM).
Mas, na prática, os tucanos não são oposicionistas ao governo Eduardo Campos.
Jurandir Liberal (Foto: Vinícius Sobreira/Blog).
O presidente da Câmara na capital pernambucana, Jurandir Liberal (PT), pertence à base governista da gestão João da Costa.
Há dois anos na presidência da Casa, Jurandir lembra da situação do grupo oposicionista desde que começou atuar na Câmara, em 2000, quando João Paulo (PT) assumiu a prefeitura.
Desde lá, o vereador já está em seu terceiro mandato e avalia que o enfraquecimento da oposição diminui o calor dos debates, mas que não é algo negativo. “Lembro que em 2000 tinhamos equilíbrio.
A bancada da oposição era maior que a bancada de apoio a João Paulo.
Foram os anos mais disputados.
As discussões eram fortes, bastante acalouradas.
Mas isso não doficultada a passagem de projetos do governo.
Os oposicionistas aprovavam quando o projeto era bom para a sociedade.
O convencimento vinha por argumentos.” “O segundo mandato de João Paulo já teve uma oposição mais fraca na Câmara.
E este de João da Costa é que o grupo [oposicionista] está muito mais fraco.
Mas o parlamentar da situação também pode discordar da matéria.
Agora ele precisa se interar das questões e debater.” Maré Malta (Foto: Vinícius Sobreira/Blog).
O vereador do Recife, Maré Malta (PSD) é um dos que não faz parte da base governista.
Mas ele também não é da oposição.
Maré Malta se diz “independente” e comemora isso.
Ele pertencia aos quadros do PPS, partido de oposição no Recife, mas passou para o PSD, sigla fundada em 2011 pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
Maré, que num caso de vitória de Geraldo Júlio (PSB) passará a integrar o bloco da situação, também não vê com bons olhos o esvaziamento no bloco oposicionista e concorda que a causa pode ser a popularidade do gestor. “É preocupante [o enfraquecimento da oposição].
A pluralidade de vozes é a razão de ser da democracia, onde temos que ter lados opostos.
Mas de tempos em tempos isso acontece.
Os grandes partidos daqui [de Pernambuco], o PT e o PSB, estão no poder e governador [Eduardo Campos, do PSB] é muito popular. É difícil alguém aparecer para fazer oposição a um governante com mais de 90% de popularidade.” Priscila Krause (Foto: Vinícius Sobreira/Blog).
Diante do cenário, a líder da bancada de oposição na Câmara do Recife, a vereadora Priscila Krause (DEM) mostra preocupação, lembrando que uma oposição consistente é fundamental para um debate em que as diferentes vozes e opiniões sejam ouvidas, como deve ser em toda democracia.
E ainda lamenta a passagem do PMDB para o bloco da situação. “Fiquei surpresa.
Foi um susto, eu realmente não esperava [a mudança de lado dos peemedebistas].
Isso enfraquece a oposição, que é muito importante para a democracia.
Mas não cabe a ninguém julgar o PMDB.” Com apenas um representante na Câmara de Vereadores, o partido da vereadora almeja eleger três parlamentares para aumentar a força do partido na capital pernambucana e para engrossar o bloco oposicionista.
Priscila, então, manda recado para os oposicionistas que querem uma cadeira na Câmara. “Vai ser muita campanha na sola do sapato!
E não adianta chorar”, avisa, lembrando a disparidade financeira entre o bloco da situação e o da oposição na disputa eleitoral no Recife.
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