Túlio Velho Barreto (Foto: Tiago Calazans/JC Imagem) O cientista político Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e professor da UFPE, vê o governismo como cultura da política nacional, não apenas pernambucana.

Ele alerta que isso pode, sim, ser prejudicial para a democracia.

Mas que é algo que tende a acontecer quando há líderes políticos muito populares e carismáticos, como foi na gestão Lula (PT) na presidência da República e como tem sido na gestão Eduardo Campos no Governo de Pernambuco.

Os partidos sem ideologia ou programa partidário definidos são mais volúveis à mudança de lado. “Isso resulta de certa tradição política no Brasil e é algo até recorrente.

Quando você tem um governo muito forte, um governante com popularidade alta, há uma certa tendência de os partidos de oposição aderirem à base do governo.” “Isso acontece porque os partidos no Brasil são pouco programáticos, têm seus programas partidários muito frouxos.

Quando perdem a eleição, migram automaticamente para a base governista.

Eles [os partidos] não têm muita ideologia, não têm respeito ao programa do partido - isso quando existe definição mais clara, o que é raro.

Não é algo atípico, especial.

Eles migram em busca dos benefícios do governo.” De acordo com Túlio Velho Barreto, essas movimentações têm dois lados.

O positivo seria relacionado à gestão do executivo, que ficaria mais fácil de colocar em prática os projetos de governo.

O lado ruim seria o enfraquecimento dos debates e a fiscalização da gestão. “O aspecto positivo é em relação ao governo, que fica mais fácil conseguir aprovar e executar seus projetos, que foram colocados diante dos eleitores.” “O lado negativo é que o acompanhamento, a crítica, o debate sobre a gestão fica enfraquecido.

A fiscalização diminui.

Se temos a oposição muito fraca, quase inexpressiva, temos pouca fiscalização, acompanhamento sobre o que o prefeito ou governador está fazendo.” O cientista político alerta também para a importância da oposição numa democracia.

Nela as vozes não podem ser suprimidas, esmagadas por uma força maior.

As minorias precisam ter garantidos seu direito á voz.

E o esvaziamento da oposição tende unificar o discurso político, acabando com a representatividade de mais um grupo político, como já acontece com a extrema esquerda. “Na perspectiva de que a democracia é o contraditório, realmente é ruim para a democracia ter uma oposição fraca e desorganizada.

Num regime democrático é bom que tenham lados opostos.” Túlio avalia ainda que desde que o PT saiu da oposição e assumiu a situação - no Recife em 2000; no Brasil em 2002; e em Pernambuco, em 2006 - o bloco oposicionista foi perdendo a força até chegar a atual situação. “O fato de você ter alternância no poder não fez o PT aderir à bancada governista.

O partido cumpria bem o papel de oposição.

Mas desde que Lula assumiu o governo [da República, em 2002], esse papel se perdeu um pouco e hoje se restringe basicamente ao Democratas e ao PSDB.

O PMDB nunca contribuiu muito para formar uma oposição estável.

Sempre aderiu ao governo.” “O PSDB não causa muita surpresa. [O PSDB de Pernambuco] é originado no PSB, por um grupo que saiu para dar apoio à base Jarbista.

Se não fosse a questão nacional, o PSDB não teria nenhuma dificuldade para estar na base do governo [estadual].” Leia também: Popularidade de Eduardo é pedra no sapato da oposição