Giovanni Sandes, do Jornal do Commercio Maior e mais caro canal da transposição do Rio São Francisco, o Eixo Norte, praticamente parou, com o provável cancelamento do contrato com a Delta Construções, envolvida em um grande escândalo nacional.

O canal de 420 quilômetros e R$ 5,286 bilhões, pelo prazo original, já deveria beber este ano do Velho Chico, em Cabrobó, e distribuir a água em dezenas de cidades atingidas pela seca no Semiárido de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Mas só tem obras entre Cabrobó e Salgueiro, cidades vizinhas, uma construção de 65 quilômetros de canal.

O governo federal mantém o cronograma atual de entrega do Eixo Norte no final de 2015.

A transposição é composta por dois canais que somam 713 quilômetros.

Além do Eixo Norte, há o Eixo Leste, que vai de Floresta, em Pernambuco, até Monteiro, na Paraíba.

As obras da transposição começaram em 2007, por R$ 4,5 bilhões, e hoje custam R$ 8,2 bilhões.

Depois de tanto tempo e da explosão nos custos, o único trecho pronto é um de dois quilômetros e uma barragem, no início do Eixo Norte, feito pelo exército.

Dos 14 lotes em que a obra foi dividida, para serem feitos por empreiteiras, nenhum ficou pronto.

A situação não é boa no Eixo Leste.

Mas, no Norte, a coisa é pior.

A obra da Delta era a única ainda ativa no canal, após Salgueiro.

A Delta fazia a construção de 39 quilômetros de canal, no lote 6, em Mauriti (CE), trecho da obra famoso porque placas no fundo do canal quebraram antes mesmo da obra ser entregue.

O governo federal sinaliza que vai rescindir o contrato com a empresa, declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU) e envolvida no escândalo de corrupção do bicheiro Carlos Cachoeira, além de já ter sido alvo de operações da Polícia Federal.

A CGU e o Ministério da Integração Nacional CGU finalizam este mês uma auditoria conjunta no lote 6, contrato de R$ 265,3 milhões com R$ 152,9 milhões já pagos.

Mas a nota encaminhada à reportagem pelo ministério demonstra a disposição do governo em romper com a Delta.

O governo informa ter determinado à empresa a volta ao trabalho, sob ameaça de cancelamento, e ainda diz que pode incluir os serviços em uma licitação que será lançada em setembro.

Com isso, de Salgueiro em diante, toda a transposição parou.

Os lotes 3 e 4, que somavam juntos 40 quilômetros de Salgueiro a Jati (CE) estava com o consórcio de construtoras liderado pela Encalso.

O 3 parou em 42% de execução e o 4, o pior dos dois canais da transposição, em 13%.

O lote 5, que prevê alguns segmentos de canal mas, principalmente, sete barragens, na verdade nunca andou.

O mesmo consórcio da Encalso venceu a primeira licitação desse lote, feita em 2008, mas logo em seguida desistiu da empreitada, sem ter feito nada em campo.

O lote 5 atualmente está em licitação.

No lote da Delta, o 6, a execução ultrapassou pouco mais da metade.

O 7, em São José de Piranhas (PB), de 13 quilômetros de canais e dois reservatórios, teve apenas 18% das obras feitas pelo Consórcio Construtor Águas do São Francisco, formado pelas empresas Carioca, SA Paulista, e Serveng Civilsan.

Há, ainda, o lote 8, com obras tanto no Eixo Norte quanto no Leste.

Ele é o da construção das estações elevatórias, um contrato a cargo do consórcio Mendes JR./GDK.

Essas estações são necessárias porque as águas da transposição, na maior parte do tempo, vão correr por ação da gravidade, e para isso é preciso atingir alturas expressivas.

No Eixo Leste, serão 300 metros, é como se alguém empilhasse as “torres gêmeas” da Moura Dubeux, no Cais José Estelita para chegar a essa medida.

O governo prevê, até setembro, uma série de licitações para as obras do Eixo Norte e também para outras obras do Eixo Leste, que está paralisado em Floresta.

O Eixo Leste é estimado em R$ 2,9 bilhões e sua conclusão é esperada para o final de 2014.