Clemilson Campos/JCImagem Por Sérgio Montenegro Filho, no JC deste domingo Escalado pelo governador Eduardo Campos (PSB) para representar o PSB na disputa pela Prefeitura do Recife, o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Geraldo Júlio, 41 anos, não nega sua condição de técnico, mas rejeita de pronto a classificação de “poste”, a mesma com que a oposição rotulava o atual prefeito João da Costa (PT), em 2008.

Formado em administração com especialização em gestão pública, casado e pai de três filhos, Geraldo Júlio promete se mostrar candidato tão aguerrido na campanha este ano quanto tem sido como militante da Frente Popular desde a disputa de 1986, quando ajudou a eleger Miguel Arraes governador.

Contrastando com seu semblante tranquilo, ele faz críticas à gestão petista da capital, mas em vez do ataque frontal aos ex-aliados prefere insistir na tese de que o Recife precisa mudar para entrar no mesmo ritmo de desenvolvimento impresso pelos socialistas ao Estado.

Esse será o principal mote do seu discurso nos próximos 90 dias quando pretende “consolidar a unidade do palanque, olhar para o futuro e não reagir a ataques”.

O candidato recebeu repórteres do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (entre eles, o repórter Jamildo Melo, editor do Blog de Jamildo, e a repórter Gabriela López, deste Blog) em seu escritório, no bairro de Parnamirim, na sexta-feira.

Falou sobre sua preocupação de controlar o peso com dieta e caminhadas diárias.

Assim pretende garantir a saúde na campanha que, mesmo apoiada pelo governador e um sólido bloco de 16 partidos, ele acredita que será bastante dura.

SJCC – O senhor diz que vem militando na política desde 1986, na campanha que elegeu Miguel Arraes governador.

Esse engajamento é suficiente para credenciá-lo como candidato a prefeito do Recife?

GERALDO JÚLIO – Para se governar a cidade é preciso ter um conjunto de habilidades.

Alguns acumulam mais experiência em uma área e outros, em outras áreas.

Tem gente que têm uma vida toda na política e faz um bom governo, outras têm dificuldade de governar.

E tem gente com mais experiência no campo técnico e, às vezes, tem condições de fazer um bom governo e, às vezes, não.

Eu me sinto tranquilo.

Acho que acumulei durante todos esses anos um conjunto de experiências tanto na militância política como no desempenho de funções públicas desde que entrei no Tribunal de Contas do Estado – sou concursado lá desde 1992 – e já desempenhei várias funções no serviço público, além da experiência de cinco anos e meio no governo do Estado me deixam preparado para assumir essa função. É mais um desafio que se coloca a minha frente.

SJCC – Como está sendo sua preparação para tentar seu primeiro cargo eletivo?

GERALDO –O acompanhamento que vocês (imprensa) têm feito nos últimos anos mostra que essa é uma situação que estava posta na minha vida já há algum tempo.

Se formos rever de 2006, 2007 para cá, vai ver que se falou nisso em várias oportunidades.

Eu sabia que isso em determinado momento iria acontecer e vinha me preparando. É uma experiência nova que aconteceu na vida de muitas pessoas, de entrar numa disputa eleitoral pela primeira vez já numa eleição majoritária.

Temos prefeitos de capitais, governadores e a própria presidente Dilma, todos governando com sucesso. É um novo aprendizado, um desafio, e estamos preparados para ele.

SJCC – O governador disse que a campanha será dividida em duas: antes e depois do início do guia eleitoral.

Como será essa primeira etapa, sem a TV e o rádio?

GERALDO – A campanha com guia eleitoral é diferente.

No período que antecede o guia as atividades precisam ser voltadas para as conversas com as pessoas, participar de reuniões e plenárias, dialogar com a população.

No segundo momento, com o guia eleitoral, é também importante pelo papel que ele exerce na campanha.

Mas antes vamos andar pelo Recife, fazer reuniões com as comunidades e lideranças, com os candidatos a vereador.

Depois que o guia começar a gente vai continuar indo aos bairros conversando com as pessoas e colhendo opiniões.

SJCC – O senhor tem dito que quer levar o modelo de gestão do governo do Estado para a prefeitura.

Por que isso não foi feito antes, já que o PSB tem o atual vice-prefeito na PCR?

Não houve espaço?

GERALDO – O PSB governa Pernambuco e outros Estados com sucesso, e as duas capitais com a melhor avaliação nas pesquisas são governadas por nós.

Uma coisa que precisa ficar claro é que quem governa o Recife há 12 anos é o PT, com o apoio da Frente Popular.

Chegou um momento em que essa ampla frente de 16 partidos entendeu que o PSB deveria liderar esse projeto por conta de fatos que aconteceram e que todo mundo viu – a gente não precisa ficar relatando.

A frente entendeu que o PSB reuniu condições, por tudo que construiu no governo do Estado, de fazer essa gestão, fazer mais com menos, em menos tempo, melhorar a vida das pessoas e fazer o Recife crescer no ritmo de crescimento de Pernambuco.

SJCC – O que vai diferenciar seu discurso do discurso do PT, agora que estão em palanques separados?

GERALDO –O PT tem a forma dele de governar, que está aí colocada, teve avanços, conquistas populares.

Mas, a forma do PSB governar é a mesma do governo do Estado.

Com ampla frente. É assim que vai acontecer na prefeitura.

Fazer mais com menos e em menos tempo, cuidar dos que mais precisam, ter metas, foco, alcançar resultados, aplicar a meritocracia.

SJCC – Já existe um plano de governo ou ações que o senhor considera prioritárias para a capital?

GERALDO – Nós já temos algumas ideias, algumas propostas para o Recife.

O governo do Estado já vem realizando ações aqui e a gente conhece muito bem a situação da cidade hoje.

Mas, como sempre fizemos no governo do Estado, vamos construir um programa de governo.

Em 2006, quando foi candidato, o governador Eduardo Campos apresentou um programa e quando disputou a reeleição em 2010 apresentou novamente, sempre discutido com a sociedade.

A partir de quarta-feira vamos realizar reuniões para a elaboração desse programa de governo escutando as pessoas, os partidos da Frente, especialistas, pessoas dos bairros e das comunidades para fazer um programa que tenha compromissos com a população.

Nossa palavra dada na campanha será a palavra cumprida no governo.

Teremos uma campanha histórica e esperamos ser eleitos.

Por isso, não vamos jogar palavras ao vento.

SJCC – O prefeito João da Costa foi chamado de “poste” durante a campanha, por não ter experiência política.

O senhor não teme que a oposição também o chame de “poste” pelo mesmo motivo?

GERALDO – A população não quer discutir quem é “poste” e quem não é “poste”.

Quer discutir a melhoria da qualidade de vida, o futuro da cidade.

Esse debate de “poste” não interessa ao povo nem à cidade.

Interessa mudar o ritmo, entrar no ritmo do Estado.

Interessa às pessoas ter uma vida melhor.

SJCC – O senhor não teme que o excesso de afinação de seu discurso com o de Eduardo Campos leve a oposição a chamá-lo de candidato inventado, de boneco de ventríloquo, de marionete do governador e outros apelidos que se costuma colocar?

GERALDO –Pretendo fazer um governo muito alinhado com o da presidente Dilma e que tenha ações integradas também com o governo do Estado no qual venho trabalhando nos últimos cinco anos e meio.

Mas vamos construir um governo para o Recife.

O debate que as pessoas querem é sobre compromissos assumidos para mudar realmente o Recife, transformá-la numa cidade que orgulhe sua população.

SJCC – O senhor tem apenas três meses para se tornar conhecido e apresentar suas propostas.

Não é pouco tempo diante desse quadro adverso de racha na Frente Popular?

GERALDO – Todas as campanhas eleitorais duram três meses.

Em algumas oportunidades as pessoas fazem pré-campanhas longas, mas em outras fazem exatamente no período da campanha.

Vamos trabalhar muito nesses 90 dias.

Seremos os primeiros a acordar e os últimos a dormir.

Toda a Frente Popular, não só o candidato.

Vamos ouvir a população, deixar o recifense nos dizer o que espera, apresentar nossas propostas e assumir compromissos.

SJCC – Como houve esse tensionamento, há possibilidade de os cargos do PT no governo do Estado serem entregues?

Seria correto o PT manter os cargos que ocupa mesmo durante uma campanha eleitoral?

GERALDO – Essa questão é municipal.

Somos aliados da presidente Dilma e continuaremos sendo.

Ela é uma pessoa honrada, séria e tem feito um governo aprovado pela maioria dos brasileiros.

Mas essa questão que tratamos aqui é municipal.

Uma ampla frente, hoje com 16 partidos, entendeu que o partido que está governando perdeu as condições de liderar essa frente e escolheu o PSB para liderar.

Ontem (quinta-feira) foi dito pelo próprio governador que o caminho correto é que essas pessoas (do PT) continuem nos ajudando no Estado, porque eles têm pastas importantes e devem continuar ajudando a melhorar a vida dos pernambucanos.

Aqui é uma discussão municipal.

SJCC – O senhor fala de um tema que o governador também cita muito, o da paz política, de deixar as intrigas de lado em favor do Estado.

Mas se o senhor for atacado pelos opositores não vai reagir?

GERALDO – A população não quer escutar ataques.

Não está interessada em agressões.

Quer saber o que é que cada candidato propõe para a cidade e nosso tempo vai ser dedicado a isso.

Não vamos perder tempo com brigas.

As brigas não fizeram bem à cidade.

O que faz bem é construir e executar propostas mudando a cidade.

Vamos utilizar nosso tempo inteiro nisso sem nos meter em brigas e agressões.

SJCC – O prefeito João da Costa ficou muito magoado com o PT e se cogita que ele dê uma ajuda à sua campanha.

O senhor espera receber esse apoio?

GERALDO – João é uma pessoa que tem meu respeito.

Ele é de um partido e foi muito agredido ultimamente.

Ele vai fazer as reflexões dele e se posicionar com tranquilidade e maturidade.

Com certeza ele vai saber se posicionar.

Prefiro falar da minha candidatura do que do posicionamento que João vai tomar.

Isso diz respeito a ele.

SJCC – Se ele vier a sair do PT haverá espaço no PSB para ele?

GERALDO – Quem tem que imaginar se vai sair ou não do partido é ele.

A gente viu todo o processo que aconteceu e quer respeitar o posicionamento dele.

Essa questão não diz respeito a minha candidatura.

Ele é do PT há 30 anos.

Tem a militância dele.

SJCC – Há espaço também para o PPS em seu palanque?

GERALDO – A gente está discutindo com o objetivo de fazer uma ampla unidade com aqueles que querem que o Recife tenha um futuro melhor.

Vários partidos conversaram conosco durante esse tempo e estão conversando.

Até o prazo final das convenções ainda podem acontecer mudanças nesse quadro.

SJCC – A Constituição Federal tirou muito da autonomia financeira dos municípios.

O senhor não teme chegar na prefeitura com tantos projetos e se frustrar com as dificuldades de alocar recursos e atrair investimentos?

GERALDO – Nosso programa de governo vai ser construído com responsabilidade.

Nós temos a exata dimensão do que é a capacidade de investimentos do governo municipal e do potencial de crescimento que isso tem.

Nós conseguimos ampliar em mais de cinco vezes a capacidade de investimentos do governo do Estado e temos condições de fazer isso no Recife em parceria com o governo Dilma e o governo do Estado.

São propostas que vamos pactuar com a sociedade e serão realizadas.

Dificuldade de alocar recursos existe na iniciativa privada e no setor público em todas as esferas.

A gente conseguiu provar no governo do Estado que é possível fazer mais com menos e em menos tempo.

Vamos levar isso para a prefeitura.

SJCC – Se eleito, o senhor será o prefeito do Recife durante a Copa do Mundo.

A cidade está se preparando bem ou o senhor terá que agilizar o processo?

GERALDO – São 13 obras viárias já licitadas e boa parte já em andamento.

Vamos cuidar disso com prioridade, porque os prazos são curtos.

Saindo vencedor dessa campanha vou priorizar as ações.

Recife terá orgulho de vivenciar a Copa do Mundo.

SJCC – Alguns aliados seus têm uma posição bem mais crítica que a sua diante da gestão do PT, e de o Recife não vir acompanhando o crescimento do Estado.

Vai dar para nivelar esse crescimento com o Recife em quatro anos?

GERALDO – Esse é o objetivo da unidade da frente.

Colocar o Recife no ritmo de Pernambuco, usando o modelo de governar que a frente usa no Estado.

O governador fez as coisas acontecerem logo nos primeiros anos do mandato, numa velocidade diferente da que estávamos acostumados a ver.

Leia mais sobre Geraldo Júlio ainda hoje no Blog de Jamildo