Por Fernando Castilho, do JC Negócios Especial para o Blog de Jamildo Fernando Collor era presidente da República quando entendeu de fazer corridas nos finais de semana.
Era um aperreio para os jornalistas.
Domingo de tarde, os portões da Casa da Dinda se abriam e lá vinha o “fenômeno” de short curto e sempre com uma camiseta branca com uma inscrição diferente.
Foi uma maneira que encontrou para dar respostas às criticas ao seu atabalhoado governo.
Certo domingo ele vestiu uma camiseta com a frase “O tempo é o senhor da razão”.
Estávamos no começo da investigação do escândalo que o derrubaria.
Depois da queda e, nos meses seguintes em que ficou no exílio político, Fernando Collor remoeu aquela inscrição para entender o que não a tinha entendido no momento: avaliara errado sua percepção da força do Congresso e o peitou.
Errou e com a força investigativa da mídia virou presa fácil dos congressistas.
Caiu por ter comprado irregularmente um Fiat Elba, coisa de menino se comparado aos escândalos do PT de Lula et caterva nos anos seguintes.
O movimento do senador Jarbas Vasconcelos em direção à candidatura patrocinada pelo governador Eduardo Campos pode ser entendido como a aplicação na essência do provérbio que Fernando Collor não entendeu. É que passado tanto tempo de separação os dois principais líderes políticos de Pernambuco entenderam que a banda a que cada um se juntou quando se apartaram há mais de 20 anos estava exaurida e que o adversário tinha, de novo, ficado comum e agora se chama PT.
No tempo de Arraes, essa direita era comandada por Marco Maciel, Ricardo Fiuza, José Mendonça e Roberto Magalhães, com quem Jarbas se juntou num movimento que Miguel Arraes, depois de uma bela baforada de seu charuto Cohiba, chamou de “o caminho da perdição".
Nos tempos do pós-Lula, o velho e desunido PT ficou tão sujo e desbotado que, sequer, junta Humberto Costa, Fernando Ferro e João Paulo com o prefeito João da Costa que, mesmo no cargo, teve negado seu direito de disputar a reeleição por força de uma briga de comadres iniciada na cozinha (e na churrasqueira) de criador e criatura.
Parece claro que entenderam que estava na hora de parar com a briga iniciada lá na volta de Miguel Arraes do exílio, quando o ex-governador e o novo líder da oposição no Estado entenderam de cabalar votos na “palha da cana” para ver quem era o mais votado numa luta tão feroz, que excluiu da Constituinte a voz do velho líder comunista Gregório Bezerra, certamente a liderança que mais tinha direitos naquele latifúndio eleitoral, pela sua historia de vida.
O racha de Miguel Arraes com Jarbas levou o então “garoto” Eduardo Campos a se tornar fiel escudeiro do avô e aprender com ele tudo que a política tinha ensinado ao velho líder, inclusive, a aprender a sofrer no exilio político mesmo que fosse em seu próprio país, como fez após o caso dos precatórios.
E tirar lições importantes para saber que, quando da absolvição, saber fazer uma releitura de sua carreira e ter a consciência de que poderia virar protagonista na cena política de Pernambuco até para vingar as derrotas do avô.
Foi a isso a que Eduardo se dispôs.
No outro caminho, Jarbas seguiu a sua estrada cuidando, primeiro, de esmagar eleitoralmente Arraes e de fazer com o dinheiro da venda da Celpe, um governo revolucionário com a postura moderna pela força de um arco politico que incluía toda a direita condenada por Miguel Arraes.
Até para mudar radicalmente o clima do estado em termos de imagem econômica e dar seriedade e capacidade de atração de investimentos.
Era o tempo de FHC, que via em Jarbas um de seus possíveis sucessores.
O tempo se encarregou de girar a roda e dar a Eduardo Campos a chance de se juntar com Lula, ajudá-lo como nem o PT lhe ajudou nas articulações no Congresso, na crise do Mensalão e servi-lo bem nas urnas.
Primeiro ao derrotar Mendonça Filho, o escolhido de Jarbas Vasconcelos para continuar sua obra.
Depois catapultar o pacote de investimentos em Pernambuco, chamando tanto a atenção do presidente a ponto de, esse, passar a lhe tratar como um filho.
Eduardo, por sua vez, passou a dar brilho à penca de investimentos que logo fizeram do jovem governador uma nova estrela na politica brasileira.
Especialmente pela perspectiva representada no futuro e pelo que fez na gestão do Estado em cima do que Jarbas começou ainda no Governo Lula.
A mediocridade da oposição brasileira serviu para que os dois seguissem brilhando e liderando suas bandas.
Jarbas, agora, como uma estrela solitária de um Congresso bisonho liderado por José Sarney e Renan Calheiros.
Eduardo Campos virando o queridinho da mídia nacional (e até da ONU) pela possibilidade de ser uma opção para a Presidência da República, ainda que no futuro.
Sendo assim e com carreiras tão completas, embora em caminho paralelos, os dois entenderam rápido, este ano, que os correligionários a que tinham se chegado ao longo de décadas estavam com prazo de validade vencido e sem nada mais a oferecer.
A banda que o levou, como dizia Arraes, Jarbas ao caminho da perdição, já não existia mais.
Marco Maciel não se reelegeu senador, Ricardo Fiuza e José Mendonça não estão mais entre nós.
Sérgio Guerra lidera um partido que não sabe se é Maria, João ou a Janete do Zorra Total.
Sobraram Mendonça Filho, Raul Jungmann e uma penca de gente sem voto e sem charme.
Percebeu, então, que tinham ficado sem moeda de troca politica.
Eduardo Campos leu o mesmo da sua banda.
O PT, que ajudara desde o começo e mais ainda no governo, é ruim de serviço na administração.
E o píor é que como força politica virou um ajuntamento de mágoas e brigas que, sequer, permitiram organizar uma eleição de prefeito estando no poder.
Era incompetência demais para que o ascendente Eduardo Campos, com suas planilhas disponíveis em tablets Apple, pudesse carregar por mais tempo.
A bem da verdade, o PT, para o governador, tinha virado um peso morto assim como o DEM tinha se tornado para Jarbas, que o carregou sem sucesso nas duas últimas eleições.
O que pouca gente percebeu é que no meio dessa leitura política, os dois sem trocar uma palavra (até por serem do ramo) passaram a ver o óbvio: o adversário não era mais a direita do passado que nem existe hoje, mas o incompetente PT.
E viram que, juntos, poderiam limpar o campo condenando-o a uma derrota capaz de gerar na cidade um novo modelo de gestão de classe mundial.
Claro, vão precisar combinar com o povo.
Mas estão se armando para isso.
As pessoas podem se assustar com uma reconciliação tão rápida, mas se esquecem de uma coisa que une Jarbas a Eduardo Campos, além do gosto pelo poder: estão cercados de gente com grande capacidade intelectual e capaz de apresentar projetos, produtos e resultados de forma inovadora.
Isso, de certa forma, explica a frase na nota do PMDB, que o próprio Jarbas inseriu quando diz que Eduardo Campos deu continuidade às suas melhores iniciativas.
Em alguns aspectos, deu mesmo.
E Jarbas Vasconcelos, hoje, reconhece em privado que o modelo de gestão de Eduardo ficou melhor do que teria ficado se Mendonça Filho ou Humberto Costa tivessem vencido a eleição.
Pelo que fazendários e auditores do TCU e instituições como o INDG agregaram.
Jarbas gosta de inovação, equipes motivadas e de obras de impacto.
E os dois, sem falar do tema, perceberam que estava na hora de se livrar disso.
A escolha de Geraldo Júlio é quase natural dentro do grupo de assessores, e de Jarbas Vasconcelos, pessoalmente.
O resto, o grupo de amigos comuns se encarregou de fazer para juntá-los.
Portanto, embora surpreendente, parece claro que Jarbas e Eduardo apenas retomaram os seus papéis de protagonista na cena política da cidade do Recife e de Pernambuco, colocando os demais atores na condição que sempre foram de fato: coadjuvantes.
E, talvez, Jarbas tenha visto isso enquanto revia sua carreira num obscuro gabinete do Congresso onde não é chamado para nada.
Percebeu que estava na hora de voltar para a banda liderada por Eduardo Campos.
Até porque, no passado, os dois tinham comido muito sal juntos.
E, por uma dessas ironias do destino, o mesmo Miguel Arraes que profetizou ao se juntar à direita estava indo no caminho da perdição foi, também, o mesmo que no histórico discurso da volta, lá no largo de Santo Amaro, lhe deu a senha de retorno finalizando com um conselho: “Ninguém se perde no caminho da volta”.