Por Manoel S.

Moraes de Almeida As bases de uma candidatura no Recife não podem e nunca foram a conjuntura das alianças; em primeiro lugar é a política (utopia) e a estratégica (formulação) que fazem, ou forjam, uma composição de grupos e partidos.

Logo, o esgotamento da Frente Popular (se houver) não será uma responsabilidade do PT e sim da gestão da Frente.

A disputa que se instalou no PT do Recife demonstra, ao contrário do que muitos pensam, que há vitalidade no partido e que nem todos estão submetidos a uma lógica pragmática de poder.

Porque se assim fosse, o candidato seria certamente o Prefeito, representando um custo altíssimo para a esquerda.

A principal lição que podemos tirar deste momento atribulado é que apenas o cargo não é suficiente para demonstrar a fidelidade a uma ideologia, a um projeto, ou mesmo a uma frente de partidos.

O prefeito é o grande traidor de toda a arquitetura coletiva construída com muito esforço no Recife, em função de seu projeto de manutenção do poder.

Uma cidade complexa como a do Recife não pode ficar refém de pessoas e muito menos de temperamentos.

Os resultados das últimas eleições no mundo permitem analisarmos a conjuntura internacional amplamente favorável para um projeto de esquerda; a volta dos socialistas na França, a crise das economias mais ricas: tanto na zona do Euro como no dólar, podem representar uma oportunidade para que os BRICs sejam uma nova e importante força motora das transformações internacionais necessárias para o desenvolvimento civilizatório no mundo.

O Governo Dilma tem conseguido avançar politicamente, principalmente pelo desmascaramento dos modelos de corrupção que foram alvo de investigações da Policia Federal, como nos escândalos do Cachoeira e da Delta.

Isso representa a oportunidade de reescrever a relação entre o executivo e o parlamento, e até mesmo com a própria base que da sustentação ao projeto de governo democrático e popular.

Por isso, as eleições municipais são tão importantes, para não dizer basilares, de um campo de sustentação para o soerguimento de uma nova conjuntura política para a classe trabalhadora: que é defender o paradigma da gestão petista municipal como foco e fortalecimento de um campo de formulação e experimento de políticas públicas. É a necessidade do retorno do modo petista de governar em sua gênese de revolucionar ou reinventar a democracia e a política.

Nesse sentido Humberto Costa sempre reunirá as melhores condições para aglutinar um corpo técnico e social apto a querer transformar o Recife no que é sua vocação primeira: a de polo político de construção das grandes reformas/revoluções no setor da saúde, educação, segurança pública, mobilidade urbana entre outros temas.

A última pesquisa apresentada pelo Instituto Maurício de Nassau demonstra claramente que o recifense quer Humberto por conhecer o seu espírito combativo e engajado nos grandes projetos que transformaram a história do Recife, como o SAMU, a Academia das Cidades, o Saúde da Família, o Programa de Saúde Ambiental, e sobretudo na concepção da saúde como efetivação dos Direitos Humanos.

Humberto sempre representará uma nova geração da política que foca sua ação no projeto coletivo, foi assim quando saiu candidato a vereador do Recife, permitindo que o PT passasse a ser uma força efetiva na Capital; Ou mesmo quando, disciplinadamente, foi Secretário de Saúde de João Paulo, colocando-se como quadro partidário e contribuindo com o que todos reconhecemos que foi a melhor gestão que o Recife já teve, e da qual tive a oportunidade de fazer parte ao lado de Edla Soares, na Educação.

Agora temos que aproveitar o pouco tempo que temos para superar algumas ameaças: a divisão da frente popular; o desgaste dos debates públicos sobre as decisões das instâncias do PT; o desgaste com a militância do PT; e a incorporação dos quadros da gestão em Recife.

Para o primeiro desafio, a responsabilidade por uma divisão ou unidade da frente é coletiva e não individual.

O fato do governador lançar outro candidato não representa uma inflexão mas uma opção que já estava na pauta do Palácio no momento em que o Governador entende a Frente como um projeto de disputa e não como uma unidade política programática.

Digo isso porque, caso outro candidato da Frente venha a ser lançado, caberá aos trabalhadores apresentar uma pauta política e em uma plataforma histórica que só Humberto é capaz de trazer pela sua história e reconhecido papel nesse processo de fortalecimento e formulação do SUS, e portanto: contrário às UPAs no formato em que são estruturadas, à centralização de serviços de saúde na gestão estadual; ao modelo de terceirização da educação ou de virtualização da aprendizagem como se tem visto no Estado, e,em relação à segurança pública, levantar o debate de que o Recife perdeu seu protagonismo – não que a segurança pública seja uma pauta do município, responsabilidade legal do estado, mas é necessário discutir a contribuição da Cidade nesse tema.

Neste sentido, no governo João Paulo fizemos pela primeira vez um mapeamento diagnóstico da violência através de um Comitê Municipal de Direitos Humanos (tive o privilégio de participar), coordenado por Luciano Siqueira, quando construímos pela primeira vez mapas geoprocessados das carências econômicas, sociais e da violência; todas as políticas foram sendo focadas por neste modelo de gestão com foco coordenado por Lygia Falcão que tinha um papel eminentemente mobilizador das ações estratégicas que elegemos por pastas.

Na educação, por exemplo, transformamos um cativeiro em escola no bairro onde os índices de violência eram absurdos.

Pactuamos um programa de transferência social Bolsa-Escola Municipal não na base da troca de votos, mas através de um sistema de informação desenvolvido pela EMPREL que permite, até hoje, construir um parâmetro de vulnerabilidade social estabelecidos pelos dados relatados pelas famílias assistidas pelas nossas escolas.

Através desse banco de dados é possível identificar falhas até na coleta de lixo.

Tudo isso foi pioneiro no Brasil, por contarmos com colaboradores como Cândido Pinto, que teve no Recife sua última tarefa como combativo companheiro lutador da liberdade.

As gestões petistas, portanto, precisam ser esse lugar da inovação e do espelhamento da ideologia da transformação que nos dirige, dando sentido ao socialismo democrático e revolucionário. É nesse ponto que procuro abordar os desgastes internos: o candidato não é instância, logo não deve Humberto cair na armadilha que o Prefeito caiu, de ser o único interlocutor da gestão e do PT do Recife.

Humberto deve falar e responder sobre o projeto e as bases da política que implementará no dia de sua posse quando Prefeito do Recife.

Os recifenses querem um gestor que, em sintonia com o projeto Nacional e Estadual, possa colocar o Recife no eixo dos grandes debates nacionais.

Coisa que perdemos.

O prefeito síndico não faz parte do perfil que o cidadão gosta, até porque, para ser um administrador, os liberais, podem gerenciar o modelo atual com “relativa eficiência”, quando não vendendo ativos, licenças e outras vantagens aos seus grupos corporativos, em detrimento dos interesses do povo.

Um plano Municipal de Segurança Pública; ou de Direitos Humanos; de Educação entre outras áreas darão conta do quanto temos que fazer, nem de perto discutimos, nessa conturbada crise, de referências e de ética.

Em segundo lugar, a militância, precisa de um gesto de reconhecimento do seu papel e de sua força.

Essa atitude precisa ser dada pelo candidato.

Humberto deve se apresentar como parte da solução porque a outra parte depende dos petistas e não do ufanismo; o messianismo que tomou conta do espírito de alguns no PT, transformando a crítica, em contestação, e a posição política em traição.

Essas dicotomias precisam ser superadas.

Humberto tem as condições de delegar e construir acordos internos com as posições políticas que estiveram até o último momento com o atual prefeito dando prova de que são valorosos em suas convicções.

Chegado a hora final, e em nome da unidade partidária há uma mística que precisa ser retomada que se manifesta no dito: “Partido é dos trabalhadores”, só um petista consegue entender o significante desse conjunto de significados que estão por trás dessa palavra de ordem. É imperioso, diálogo com os “antagônicos” que são na verdade os petistas de amanhã.

Na gestão os valorosos técnicos e agentes políticos não podem ser responsabilizados pelo desmando do Prefeito; há uma ordem natural de hierarquia e de impermeabilidade construída em resposta da perda da legitimidade do atual gestor, que tornou o debate interno inviável.

Lembro-me de um dia memorável na PCR, na primeira gestão, quando foi apresentada uma revista (publicação) sobre os 100 primeiros dias; fizemos uma plenária no auditório da PCR e lá estávamos para discutir (Prefeito, Secretários, Segundo e Terceiro escalão) o destino do material.

As dúvidas eram por conta dos ataques que recebíamos, na época.

A imprensa colocava em dúvida a gestão de um trabalhador no poder.

O debate acumulou a necessidade de todos irmos, fora do expediente, distribuir os jornais, em um dos mais emocionantes momentos que participei, o Prefeito ao lado do seu secretariado nas ruas prestando contas e dizendo: somos o novo, em Recife.

Os carros paravam para receber o material que continha só na educação mais 21 mil crianças nas escolas que foram matriculadas até nas feiras da cidade; a construção do Cristiano Donato – Centro Profissionalizante de línguas; da criação de escolas e creches e da implementação da educação fundamental de 6 anos e da universalização do acesso ao bolsa-escola por uma polícia de reconhecimento da vulnerabilidade social e não por cotas dos vereadores ou lideranças políticas ou por região.

Portanto Humberto precisa mostrar que governará para tod@s e tod@s os petistas anistiando os descompassos e aprovando uma agenda que, na política, permita gravitar ética partidária, respeito ao projeto socialista de reformas de base e um compromisso histórico com os Direitos Humanos.

Há carências na cidade que serão pautadas pela conjuntura, mas antecipo a necessidade de agendar o tema do clima, o Recife é uma das 400 cidades do mundo que podem ser engolidas pelo mar, em função das consequências do clima: e o que estamos acumulando nesse debate?

O encontro da ONU, Rio +20, termina e a cidade parece alheia a seu futuro.

O PT no poder não pode menosprezar os efeitos dessa conjuntura e investir além dos novos binários aproveitando o Rio como transporte explorar a capacidade pedagógica do Rio, incorporando além da sua paisagem a sua dimensão de vida.

Lembro da Escola Ambiental Águas do Capibaribe, que tínhamos o projeto de ser ela parte de um complexo de uma escola base e móvel com mais dois barcos escola, formando uma pequena frota de três embarcações.

O que temos hoje?

Qual os impactos das nossas ações depois de 12 anos no poder. n Enfin a gestão petista não pode ficar refém das eleições, precisamos voltar a ter um projeto que incorpore os morros e a planície em uma gestão da utopia, focado, nas pessoas mais vulneráveis da cidade, no cuidado com a nossa gente e pautados com a história do qual fomos forjados.

Por todas estas condições é que tenho certeza que seremos vencedores, se, na politização do debate, pautarmos o Recife enquanto espaço de transformação do novo e não para o velho travestido de novo.

Se unirmos pessoas nas Universidades, nos espaços de formação política, como a sociedade civil organizada (que se quer foram recebidas pelo Prefeito há quatro anos) seremos capazes de aglutinar por gravidade outros setores da sociedade.

Basta querer um Recife onde a grande ponte é a dignidade da pessoa humana.

Manoel Moraes é Filiado ao PT há 20, sociólogo, cientista político e professor Universitário.