Por Letícia Lins, especial para o Blog de Jamildo Nesse tempo de campanha eleitoral, como cidadã, tudo que preciso é que apareça um gestor que acabe com o pandemônio de som que se transformou essa cidade.

Aliás, de som só não, de poluição sonora.

Hoje, não se tem mais direito, sequer, de ouvir o barulho das ondas do mar na praia de Boa Viagem.

Porque os carrinhos de CD pirata apostam para ver quem bota o som mais alto. “As vezes, há três juntos,cada uma com o som mais absurdo.

Conheço um casal estrangeiro que adorou a praia, mas disse que jamais colocará de novo os pés em Recife.

Não suportou o barulho.

Alô, alô, Dircon cadê você?

Agora é no bairro de Apipucos.

A Fundação Joaquim Nabuco, que é uma entidade formada por intelectuais (ou deveria ser) tem uma sede recreativa onde aos domingos - das duas às 21h - coloca um som que as paredes das casas estremecem.

Falei hoje com duas idosas residentes na vizinhança, que estão com taquicardia devido ao barulho.

Mas nós, que amamos o silêncio, que amamos o respeito, que amamos gente civilizada, que gostaríamos de amar o zelo dos órgãos públicos pelo bem estar da comunidade não temos a quem apelar.

Sim, teoricamente até temos.

Mas só podemos manifestar essa sensação: em terra de ninguém, todos se sentem donos, fazem o que querem, ninguém respeita o vizinho nem o direito do outro, e tudo se agrava diante da omisão do poder público.

Ou seja, tudo que é errado está virando normal.

As pessoas parecem que não mais se incomodam, estão se habituando “a barbárie,“a falta de civilidade, “a poluição sonora absurda, ao lixo na praia. É tudo… normal….

Meu Deus, o que é isso?…..

Liga-se para o 190, para o Ministério Público, para a Dircon.

Por acaso acontece alguma coisa? É por essa e outras que Recife vira terra de ninguém: é lixo jogado na praia e isso é normal. É som alto em toda calçada, na beira da praia, nos bairros residenciais…

Ninguém faz nada. É moto e bicicleta andando nas calçadas, no lugar dos pedestres, ninguém faz nada.

Um dia desses quase que eu era atropelada na calçada, em frente ao colégio das Damas.

E era um militar fardado que pilotava, que teoricamente deveria ser um agente da lei.

E´carro estacionado em cima da calçada, passa o carro da CTTU, olha, e acha bonito.

Não faz nada.

E´por essas e outras que essa cidade virou terra de ninguém, e vai continuar sendo, enquanto o poder público permanecer omisso, sem impor limites, sem impor a ordem.Vai lá na praia de Boa Viagem e dá uma olhadinha.

Tem barraqueiro tão consciente, que não deixa você jogar uma casca de camarão no chão.

Por acaso ele recebe algum reconhecimento do poder público?

Em compensação, tem uns - e são sempre os mesmos - que jogam plástico, lixo, as embalagens das bebidas, as garrafas pet, as latinhas, tudo no chão.

Será que a prefeitura não vê isso não?

Será que não percebeu que as lixeiras são insuficientes e distantes uma da outra?

Isso é tão difícil de ser resolvido?

Do jeito que está, sinceramente, não sei onde Recife vai parar. É uma pena.

Uma cidade linda como esta, com a melhor praia urbana do Brasil (apesar dos tubarões…), bairros outrora aprazíveis mas que carecem e, muito, de disciplina, da presença do poder público, de campanhas permanentes pró civilidade.

A sensação que tenho, como cidadã, como recifense, como gente que ama a sua terra, é que estamos órfãos.

Não há a quem apelar, e é por isso que esta capital não tem mais limites para o que está precisando de conserto.

Eu, hein? É difícil manter uma praia limpa? É difícil multar carro em cima da calçada ou mesmo rebocar? É difícil controlar o som explosivo que tem em toda esquina e que está transformando o Recife em um inferno?

Adianta se fazer propaganda lá fora que o turismo aqui é o máximo e que Pernambuco é um exemplo de sustentabilidade se nem praia limpa existe?

Se o rio Capibaribe é um esgoto?

Se a coleta de lixo é totalmente desordenada (cadê a reciclagem?) Se todo mundo se sente no direito de incomodar o vizinho? (Agora são até as lojas, inclusive sofisticadas, botam caixa de som na calçada.

Alô Dircon, passa na rua Leonardo Cavalcanti……).Será que o CDL não vê isso não?

Porque não orienta os seus lojistas, para campanhas mais civilizadas de venda?

Como é que se entende que uma entidade como a Fundaj abra espaço para um som selvagem que acaba com os domingos do bairro?

E como é que se entende que todo mundo que ligou para a Dircon, para o 190 e para o MPPE ficou na mesma?

Sabem por que?

Porque tirando o 190 que atendeu e prometeu enviar uma viatura (embora haja um quartel junto ao local da festa) nenhum telefone atendeu nesse domingo.

Então, a quem reclamar?

A ninguém.

E a cidade, a civilidade, o direito, e o imposto que o cidadão paga servem para quê?

Sei não….

Mas daqui a pouco não seremos nós, a comunidade, que se sente órfã. É a própria cidade, que vem sendo violentada.

O que é uma pena.

Nem ela nem nós merecemos isso…

Letícia Lins é jornalista (das boas) e moradora do bairro de Casa Forte