Por Roberto Numeriano, especial para o Blog de Jamildo Os últimos eventos em torno do conflito (vazio) PT x PT expõem muito bem a fratura da política como uma teoria e uma prática cujo fundamento e fim é o bom governo da cidade (a velha polis grega).

Está sendo terrível constatar, como militante e dirigente partidário, cidadão recifense e cientista político, uma discussão infinita entre grupos de poder (seja do campo petista, do PSB ou da oposição de direita, como o DEM, PTB ou PSDB), que por mais de um mês ocupam as rádios, emissoras de TV e jornais apenas para discutir seus projetos de poder em 2012, projetando-os para 2014.

Não me importaria se esses tantos candidatos – sejam “caciques vermelhos” ou não – se digladiassem pelo poder, desde que com projetos e propostas claras e exeqüíveis para o bom governo da cidade do Recife.

Não é o caso.

O que assistimos é uma disputa política rebaixada, mesmo ao nível interno desses partidos, cujas lideranças parecem ver a cidadania recifense como uma platéia alienada de “maloqueiros” e comensais fisiológicos do banquete do poder, sedenta de pontapés e cusparadas.

Esse quadro político rebaixado e o vazio ideológico são o reflexo de um perigoso fenômeno já observado em muitos países: a transformação dos ritos eleitorais do regime democrático num espetáculo de consumo.

Hoje, como essa disputa da “Frente Popular” e do PT bem demonstram, não se debate politicamente a cidade e suas mazelas no transporte público, saneamento, segurança, educação, saúde, lazer e cultura, mobilidade e acessibilidade.

Não…

O que se debate é o índice de poder do cacique a x cacique b, ambos exibindo, como vantagens comparativas, suas curriolas à esquerda ou à direita. É como se a política estivesse reduzida ao rito eleitoral, processo para o qual seria desnecessário um projeto inspirado social e politicamente.

Ou seja, também não importa a ideologia, muito menos sua história político-ideológica.

Se para esses coronéis do asfalto não importam projetos de gestão para resgatar a cidade do Recife dessas mazelas, imaginem se eles levariam em conta princípios político-ideológicos.

Você pode fazer cauda eleitoral?

Você tem grana para bancar o projeto?

Você topa até pisar no pescoço da mãe?

Se sim, então deixai vir a mim o voto dessas criancinhas…

O Partido Comunista Brasileiro (PCB), faz a denúncia e critica, em termos éticos e políticos, essa democracia de consumo, submetida ao vale tudo dos interesses privados em articulação com grupos políticos cujo horizonte exclusivo é a medida exata da cidade do Recife: degradada, abandonada, com baixa qualidade na educação fundamental, péssima remuneração dos professores, mobilidade caótica e estrangulada, inexistência de uma política de transporte público de qualidade que contemple a massa trabalhadora.

Não há, efetivamente, uma gestão de qualidade na prefeitura do Recife, como as pesquisas de opinião demonstram. É urgente romper com essa democracia de consumo, onde o processo eleitoral é um fim em si mesmo.

Os recifenses precisam enfrentar no debate político e nas urnas essa degeneração que é uma cidade cercada pelo medo, pelo fisiologismo dos comensais do poder, pela incompetência de gestores que sonham com a Copa do Mundo em 2014, mas não sabem governar hoje nem projetam o Recife em 2020, quando teremos um 1 milhão e 90 mil veículos parando (literalmente) a cidade.

A história de luta libertária dos pernambucanos e dos recifenses em especial deve servir de inspiração para ousar lutar e ousar vencer na eleição que chega.

A esquerda socialista e revolucionária do PCB e do PSOL, a única efetivamente a formatar hoje um projeto para a gestão do Recife a partir de um eixo popular e democrático, faz uma chamamento aos recifenses que já viram esse filme desbotado de uma oposição desqualificada de direita (DEM, PPS, PSDB etc) num eterno conflito vazio com a velha ordem decadente (PT, PSB, PTB etc).

O RECIFE É DE TODOS, AVANÇAR É PRECISO.

Roberto Numeriano é pré-candidato à Prefeitura da Cidade do Recife pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).