Por Edilson Silva Querida Albinha, permita-me chamá-la assim publicamente.

Escrevo esta carta aberta para que mais pessoas possam compartilhar desta nossa conversa.

Logo após a conferência que lhe consagrou de forma unânime como pré-candidata oficial do PSOL à prefeitura do Recife, você me ligou e confidenciou os medos de compatibilizar as tarefas de ser ao mesmo tempo mãe e compor uma chapa majoritária de uma capital tão importante como Recife.

Você sabe que seu nome sempre foi uma preferência dentro do nosso partido, por sua biografia de coerência e abnegação: militante desde o movimento estudantil na Poli, onde se formou em engenharia eletrônica; lutadora da esquerda socialista, sendo militante das correntes mais à esquerda do PT desde a década de 80; servidora concursada do Ministério Público da União há 18 anos, sindicalista atuante em sua categoria em nível local e nacional; fundadora do PSOL, dirigente desde os primeiros momentos, hoje membro dos diretórios municipal, estadual e nacional do partido.

Para além disto, você sempre foi companheira, no sentido da solidariedade, de quem compartilha o pão.

Mas nós falhamos com você, Albinha.

Quando nos disse lá atrás que você era uma mãe e que seu filho era um dos principais impedimentos para você ser a nossa pré-candidata, nós permitimos que o mesmo machismo que lhe cerca fora dos limites de nosso partido, também norteasse a nossa resignação diante da “sua impossibilidade”.

Devemos desculpas a você por isso.

Nossa resignação reproduziu, de alguma forma, também um certo machismo, ao colocar exclusivamente sobre você, mãe, a carga de responsabilidade pelos cuidados com o pequeno Pedro, hoje com três aninhos.

Felizmente, a Conferência Eleitoral do PSOL nos fez corrigir o equívoco.

Você foi ovacionada, aclamada por um plenário majoritariamente masculino, como o que de melhor nosso partido tem a oferecer como opção de voto aos recifenses.

Mas após seu telefonema, percebi sua preocupação ainda presente, compreensível, e é por isto que lhe escrevo esta carta aberta.

Em minha opinião, a mãe Albanise não deve adaptar-se à campanha massacrante, das jornadas diárias infindáveis.

Pelo contrário, é a campanha que deverá adaptar-se à mãe Albanise.

As agendas de entrevistas e outros eventos não poderão mais ser por sorteio, pois existe uma mãe na disputa, e esta deverá ter prioridade.

Os estúdios e espaços deverão também adaptar-se a esta realidade, como aconteceu hoje, em entrevista a uma WebTV, em que tivemos que construir um “grande acordo” para Pedrinho decidir sair da poltrona do entrevistador e deixar o estúdio livre de seu comportamento naturalmente contestador e libertário.

Quando for ao vivo, talvez Pedrinho brilhe na telinha ou nas ondas do rádio.

Consequências de uma mãe candidata que não abre mão de ser mãe.

Mas não é só isso, Albinha.

Quero agradecer nesta carta por você ter inserido em nossa pré-campanha o tema da maternidade.

Estávamos aqui debatendo calorosamente a corrupção, a mobilidade urbana, as obras da Copa, debatendo também muitos outros temas caros à esquerda socialista, mas precisamos admitir: não estávamos debatendo, no devido patamar, a questão das creches na cidade do Recife.

Foi você, Albinha, ao telefone, dividindo sua atenção entre a nossa conversa e os cuidados com Pedro (sempre danado!), que nos fez perceber que os viadutos da Agamenom Magalhães são um tema importantíssimo, que as obras no Cais José Estelita também, que os alagamentos na cidade e a mobilidade urbana da mesma forma são importantes, a questão da participação popular e do combate à corrupção e tantos outros temas são muito importantes, mas nada é mais inadiável que o cuidado com nossas crianças.

O Recife precisa e pode se notabilizar pelo cuidado com suas crianças, com uma ampla rede de creches públicas, que não precisam ser necessariamente uma rede estatal que reproduza os depósitos de bebês em que se converteram as creches de mercado.

Pode e deve ser uma construção popular, solidária, em que as mães mesmas sejam protagonistas.

Então, queria te propor um pacto.

Você continua sendo esta mãe intransigente no seu direito a cuidar e ficar com seu filho, inclusive resistindo às pressões que talvez eu mesmo faça para que você se “masculinize” no processo eleitoral.

Resista!

Da parte do PSOL, vamos debater com todos que temos que dar o exemplo da solidariedade e do cuidado coletivo com nossas crianças.

Vamos buscar dar um exemplo, construindo um ambiente coletivo de acolhimento, com as famílias do PSOL “adotando” a tarefa do cuidado com o pequeno Pedro, construindo em nossa sede um espaço permanente de brinquedoteca e outras medidas possíveis para que não haja qualquer situação que lhe deixe arrependida de ter assumido a tarefa de se meter nesta candidatura.

Eu sei que o Zé, pai de Pedro, é sempre presente e solidário, mas na campanha, na boa, sabemos que a tarefa será titânica.

Conte conosco!

Presidente do PSOL-PE