Por Roberto Numeriano, especial para o Blog de Jamildo Os recifenses vivem a mais de um mês o debate vazio de PT x PT. É um debate vazio porque a discussão se dá em torno de nomes, jamais a respeito de idéias ou projetos governamentais.
Vê-se apenas o conflito em torno de projetos de poder de grupos políticos.
Na Frente Popular ou internamente ao PT, digladiam-se todos sobre os interesses e lances táticos de cada grupo partidário.
Interesses cujo horizonte maior está restrito aos projetos de poder para a eleição de 2014.
Não nos surpreende que esse vazio não seja aproveitado politicamente pela oposição de direita à Frente Popular e ao PT.
E não é aproveitado porque, em termos práticos e conceituais, no que concerne à gestão governamental, o PT faz exatamente o que essa oposição de direita faria.
Um discurso oposicionista, para se diferenciar, necessariamente teria de romper, já a partir dos conceitos de gestão, com o paradigma ou padrão dominante da chamada governabilidade: a gestão privada da coisa pública.
Sob esse aspecto, as gestões petistas em nada se diferenciam das gestões municipais de PSDB ou DEM, PMDB ou PSB.
Isso ocorre pelo fato de que as políticas públicas (de saneamento, transporte público, saúde e educação, por exemplo) são capturadas pela visão privatista do que deve ser uma cidade, seus espaços e usos comuns pela cidadania.
A captura da coisa pública pelos grupos privados (empresas comerciais e de serviços, além de indústrias) implica no isolamento do cidadão, que só é lembrado como sujeito passivo nessa relação política autoritária.
Talvez o maior exemplo dessa captura seja a imposição, aos recifenses, do uso exclusivo de ônibus para o transporte público de massa.
Há, é claro, como exceção, uns pouco quilômetros de linhas de metrô e alguns trens urbanos circulando entre alguns municípios da região metropolitana.
As ruas e avenidas recifenses não suportam a quantidade e o ritmo do fluxo de veículos (e não apenas nas horas de “pico”, pois já é comum ver, em certos bairros da cidade, fluxo lento de veículos em horas tardias).
No entanto, a proposta (mistificadora) é criar os “corredores exclusivos” de ônibus - como se o aumento da velocidade média no deslocamento fosse reduzir o número de ônibus ou sua dimensão no espaço.
No mínimo, o corredor irá aumentar o número de viagens em demanda do centro, pois vai propiciar mais lucro aos donos de empresa.
Ou seja, a proposta (que nem PMDB ou DEM questionam) atende ao paradigma do transporte público de massa operado apenas pelo setor privado.
Ora, se em 2020 teremos cerca de 1 milhão e 90 mil veículos circulando pela região metropolitana (temos, hoje, cerca de 600 mil), está claro que qualquer proposta que privilegia o transporte público por meio de ônibus é socialmente irresponsável e politicamente subordinada.
Mesmo com a criação dos corredores fluviais (via Capibaribe), tal quantidade de veículos irá estrangular a cidade, como vemos hoje em São Paulo.
Não há solução para esse problema de mobilidade urbana se não adotarmos agora propostas como a do metrô subterrâneo (viável e possível) e a do veículo leve sobre trilhos (VLT).
O Recife precisa começar agora a discutir, aprovar e planejar tais alternativas.
Há quadros técnicos qualificados e com espírito público para a tarefa, como engenheiros, arquitetos e urbanistas.
São projetos caros e de médio e longo prazos, mas são os únicos possíveis para evitar os prejuízos sociais, econômicos e ambientais que advirão se não adotados e executados sob iniciativa, controle e fiscalização do poder público.
Se os gestores de Pernambuco e do Recife estão mobilizados 24 horas para fazer obras viárias sob a batuta da pressão da FIFA, imaginemos os mesmos sob a pressão popular consciente e ativa.
Roberto Numeriano é membro do Comitê Central do PCB e pré-candidato à Prefeitura da Cidade do Recife.