Em fevereiro, Noélia e Edílson andavam abraçados.

Em paralelo ao imbróglio petista no Recife, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) vem travando uma briga interna também pela candidatura ao cargo máximo do Executivo Municipal.

De um lado, o presidente Estadual da legenda, Edílson Silva; De outro, a (ex?) pré-candidata do partido à Prefeitura.

Desconhecida da maioria da população recifense, a Procuradora-Geral da Prefeitura do Recife Noélia Brito teve seu nome lançado no dia 20 de março deste ano, em evento que contou com a presença de Heloísa Helena (PSOL-AL) e membros do Partido Pirata - sigla a ser oficializada como partido no próximo mês de julho.

PSOL entra na disputa do Recife com a ajuda dos “piratas” Partido Pirata do Brasil será lançado este ano A candidatura - De acordo com Noélia, durante o 3º Congresso Nacional do PSOL, Esdras Peixoto, o favorito à candidatura à prefeito, sugeriu o nome de Noélia Brito por ser “o mais adequado”, já que ele é pastor da Igreja Batista e não poderia defender publicamente algumas bandeiras da legenda, como os direitos LGBT e a legalização do aborto.

O presidente estadual do PSOL, Edílson Silva, aprovou o nome da procuradora e fez o convite, que foi aceito.

No início de janeiro Noélia já participava do Ciclo de Debates, da Rádio CBN Recife como pré-candidata.

Mas já em fevereiro começaram a surgir desentendimentos ideológicos entre Noélia e Edílson.

Traição? - “Ele e o grupo dele estavam em uma movimentação de construção de um partido dentro do nosso partido, em prol de Marina Silva (ex-PV).

Ele quer utilizar a nossa legenda para se eleger [vereador] e depois vai sair para o [ainda a ser fundado] partido de Marina [Silva].

Quando se cria um novo partido, não se considera infidelidade partidária, então não se perde o mandato.

E é isso o que ele quer fazer”, diz Noélia. “Achei uma traição comigo e com o PSOL.

Deixei claro que meu compromisso é com o partido e não com ele” [que ela considera centralizador].

A procuradora diz ainda que Edílson estaria participando de encontros em São Paulo de um movimento pró-Marina Silva, cuja orientação política, de acordo com Noélia, é neoliberal e ecocapitalista. “Ele queria vincular a imagem de Marina à minha candidatura, mas eu neguei.

Não me identifico com a orientação de Marina e nem o meu partido se identifica.

Seria falta de ética da minha parte, que não votei, não voto e nem votarei em Marina.

Seria uma destruição política para mim.” A prévia - No último sábado (2), 60 militantes do PSOL se reuniram na Sociedade Pernambucana de Medicina, na Praça Oswaldo Cruz, Boa Vista, para uma conferência que, a princípio, estava marcada para discutir alianças e confirmar os pré-candidatos a vereador.

Mas o surgimento, há pouco tempo, de uma nova chapa encabeçada pela jornalista Albanise Pires, apoiada pelo grupo de Edílson (e isso significa a maioria do partido), transformou a “conferência” numa espécie de prévia.

Curioso é que o vice na chapa de Albanise é o pastor da Igreja Batista Esdras Peixoto, aquele mesmo que teria sugerido o nome de Noélia, ainda em dezembro.

O tesoureiro da Direção Nacional, Leandro Recife, sai na defesa de Noélia. “A candidatura de Albanise é irregular.

A resolução do Congresso Nacional do PSOL estabeleceu que no dia 20 de janeiro se encerrava o prazo de inscrição para uma possível prévia.

Não teria mais prazo para as prévias.

Ela é a única candidata.” A procuradora concorda. “O procedimento para uma prévia é: descrição da pré-candidatura, inscrição na data correta, debates e votação.

Mas uma série de irregularidades foram cometidas visando a candidatura de Albanise, que na verdade será só uma “laranja” para Edílson utilizar o guia eleitoral para se promover.

A candidatura dela surgiu faz só 15 dias!

Essas coisas estão prejudicando o partido.

O PCB, o PSTU e os Piratas já se afastaram”, reclama Noélia.

Briga no PSOL continua.

Direção retira nome de Noélia e candidata agora é Albanise A votação - “A votação não foi secreta, foi “levantando o crachá””, denuncia a procuradora.

Na contagem de votos, unanimidade. 60 crachás pró-Albanise, nenhum pró-Noélia.

Mas, de acordo com a pré-candidata, “é uma armação” de Edílson. “Ele desfilia quem não apoia as ideias dele, a partir daí qualquer resultado fica sob suspeita.

Para completar, ele intimida.

Havia “capangas” armados no local.

Tivemos que chamar a polícia para retirá-los”, afirma. “No sábado fomos lá só para registrar, obedecendo o nosso advogado.

Filmamos para mostrar que não houve nenhuma formalidade do que constiui uma prévia, conforme foi acordado no 3º Encontro Nacional.” PSOL Recife também vive novela para definição do candidato à Prefeitura Justiça - Noélia disse que até a próxima sexta-feira (8) deve entrar na justiça para anular o processo.

A procuradora diz que sua pré-candidatura é a única regular, mas ela tem um problemão pela frente, já que tem contra si mais da metade dos membros do partido.

Mas Noélia ainda tem esperança de tê-los a seu lado e disse estar preparando um “dossiê contra Edílson”.

A procuradora diz ter provas de forte ligação entre o presidente Estadual do PSOL com membros do alto escalão do PT e pessoas envolvidas com corrupção na Prefeitura do Recife. “Quando Rands entrou na disputa, eu passei a atacar [via judicial] a atuação da CNB [corrente petista] na PCR.

Isso incomodou Edílson, que tem é amigo pessoal de pessoas da Corrente.

Ele não vê o PSOL, só sua candidatura a vereador.” Noélia agrava as críticas a Edílson, acusando ele e seu grupo de desfiliarem militantes que não concordam com as opiniões políticas dele. “Ele desfilia arbitrariamente os membros do partido. É crime eletrônico desfiliação sem que o filiado tenha solicitado.

E nós já conseguimos provas contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).”, avisou.

Fabiana Honório, uma das 17 dirigentes estaduais da sigla, defende a postulação da procuradora como um “relocamento do PSOL de volta para a esquerda” e que Edílson e Albanise estariam de malas prontas para o partido de Marina.

A dirigente também critica a política estadual da sigla, que não estaria em consonância com a política nacional.

Ela ainda tem esperança numa intervenção da Direção Nacional. “Ele está tentando alianças com o PT em vários municípios, a exemplo do Cabo de Santo Agostinho, onde quer se aliar com Fernando Ferro.

O PSOL nacional já está a par do que está acontecendo aqui, por isso Edílson é muito censurado nacionalmente.

Mas localmente está difícil vencer o grupo dele, porque Albanise é da Comissão Provisória do PSOL Recife e Edílson é presidente Estadual do partido.” No Cabo, PT, PV e PSOL lançarão nome conjunto em junho “É uma briga ideológica.

Ele está há 9 anos na legenda e criou um formato para que ele e seu grupo estivessem sempre no controle.

Os sete nomes que estão obitando na Executiva Estadual são os mesmos desde 2005, só trocando de cargos. É verdade que Edílson tem a maioria do partido, mas isso não reflete o esforço político dele. É apenas uma jogada que ele comanda hoje.

Todos sabemos que temos problemas com filiação, que Edílson só filia quem quer e que desfilia arbitrariamente.

Por isso não conseguimos crescer.

O PSOL Pernambuco serve a um prqueno grupo de parasitas que agora estão vendo que o PSOL inviabiliza seus planos políticos de direita e estão se preparando para se mudarem para o partido de Marina.” Raul Jungmann e Edílson Silva almoçam com Daniel Coelho Quem saiu na defesa de Edílson e da candidatura de Albanise Pires foi Zé Gomes Neto, integrante da Direção Nacional do PSOL e Secretário de Comunicação do PSOL Recife.

Zé Gomes relembrou que houve consenso em torno do nome de Noélia, no início do ano, em detrimento de alguns outros nomes que queriam se lançar.

Mas, para ter sua dandidatura homologada, Noélia precisaria chegar a um consenso partidário, algo que não conseguiu. “Houve uma exposição do nome dela na mídia, mas ela não conseguiu um consenso dos filiados.

Nomes anteriores voltaram a ser discutidos e, em consenso com a Executiva Nacional e Estadual, o PSOL Recife fez uma prévia, vencida por Albanise com esmagadora maioria.“mmm Zé Carlos também disse que Noélia não pode, agora, querer se opor a um processo o qual ela mesma se submeteu e que foi aprovado pelas direções Municipal, Estadual e Nacional. “Ela se inscreveu para a prévia.

Ela participou, inclusive apontando a data na qual lhe era mais conveniente ser realizada.

Estavam presentes as direções de todas as instâncias: Municipal, Estadual e Nacional.

O processo foi legítimo e tem a participação dela.

Ela pleitear isso na justiça não tem o menor amparo.

O partido tem seus fóruns e instâncias internas.” A reportagem do Blog de Jamildo entrou em contato com o presidente Estadual do PSOL, que ficou ciente de todas as acusações que estavam sendo feitas contra ele.

Edílson Silva concedeu entrevista por cerca de uma hora ao Blog e rebateu, com declarações contundentes, tudo o que Noélia disse.

Mas, infelizmente, ao fim da conversa Edílson solicitou que não publicássemos nada do que ele disse. “Não quero me trocar com ela”, disse.

Em seguida, a Direção Municipal do PSOL enviou uma nota ao Blog.

Segue: “Nota da Direção Municipal do PSOL Recife Em relação às suposições que nos chegaram através de jornalista do Blog do Jamildo, oriundas de alguns filiados do PSOL, temos a esclarecer o seguinte: 1 - O PSOL Recife realizou no dia 02 de junho, sábado último, sua Conferência Eleitoral, fórum soberano e legitimado pelas instâncias municipal, estadual e nacional do partido, em que a última palavra sobre a tática eleitoral é dada pela base partidária, que decidiu democraticamente, por unanimidade, aprovar a pré-candidatura de Albanise Pires à prefeitura; 2 - Lamentavelmente, um grupo interno muito minoritário, sem alcançar as maiorias indispensáveis nos processos democráticos, não se conformou com a decisão soberana da base partidária e busca criar factóides que depreciem as instâncias legítimas do partido e ao mesmo tempo justificar a incapacidade de aglutinar maiorias saudáveis em torno de seus discursos; 3 - As eventuais acusações e denúncias feitas por este grupo, tão fartas quanto inacreditáveis, como associar o PSOL aos interesses do PT no Recife e ao que este grupo chama de “direita tradicional”, são um atentado à inteligência de nossa militância e da sociedade em geral, que vê no PSOL muito mais intransigência em sua oposição à gestão petista no Recife, do que qualquer ato de conciliação.

Acusações de natureza moral, ética ou criminal, como manda o estado democrático de direito, podem e devem ser remetidas às instâncias judiciais.

Neste aspecto, cabe ressaltar que as instâncias do PSOL em Pernambuco já ingressaram com pedido de Comissão de Ética em nível nacional contra o que julgamos ser calúnias inadmissíveis; 4 - Sobre as relações de membros do PSOL com a ex-ministra Marina Silva, é do conhecimento da sociedade que o PSOL em Pernambuco, na figura de muitos de seus dirigentes, busca uma relação de diálogo com atores externos ao partido, no sentido da construção de frentes de ação, nas lutas sociais, nas mobilizações populares e também nos processos eleitorais.

Não é só a ex-ministra Marina Silva que merece do PSOL uma relação de respeito e busca de unidade, mas também outros, como o senador Cristovão Buarque, a deputada Erundina e o deputado Paulo Rubem, o senador Suplicy e outros espalhados pelo país, e que mesmo com contradições em alguns pontos com o PSOL, conseguimos visualizar importantes pontos de contato e unidade.

Interpretar esta visão como abandono do PSOL é uma visão estreita e dogmática, que felizmente não é majoritária em nosso partido.

Direção Municipal PSOL - Recife” “A virtude não está nos extremos”, por Edílson Silva Edílson Silva explica proximidade com tucana Aline Mariano Frente confusão dentro da sigla, o até então único aliado dos socialistas no pleito do Recife, o Partido Pirata do Brasil, declarou via Facebook que só apoiará uma candidatura se for a de Noélia Brito.

A aliança com o PSTU, proposta recentemente pelo partido, também deve minguar, já que Edílson Silva tem conflitos com o partido.

Com o risco de não sair candidata, Noélia já estuda participar do guia eleitoral do PSTU afirmando que vai “desmascarar a farsa do PSOL”.

PSTU e membros do PSOL enfrentam Edílson Silva e propõem união de forças para o pleito municipal Ao que tudo indica, o grupo pró-Noélia tentará vencer o entrave até as convenções do partido (que acontecerão até o dia 30), onde o principal argumento será a falta de fidelidade ideológica do grupo adversário.

Já o grupo pró-Albanise tentará homologar o resultado da convenção realizada no último dia 20, e tem a seu favor a grande maioria dos filiados da sigla.

A briga também pode ir parar na Justiça Eleitoral.