Por Otávio Luiz Machado, especial para o Blog de Jamildo Ninguém está aqui para brincadeira e vamos vencer.

Foi com tais palavras que o senador Humberto Costa refletiu sobre a então pré-candidatura de Maurício Rands que se iniciava.

Se a política é a arte do possível, então dentro dos limites impostos por esse grupo que agora se consagra oficialmente como de fato o vencedor e condutor do processo eleitoral em Recife pelo PT, é fundamental perceber que a então nova candidatura de João da Costa já estava morta e enterrada por esses setores do partido, faltando consagrar isso com alguma justificativa forte.

A possível derrota dele já vinha sendo observada desde o primeiro momento que o assunto eleições 2012 começou a ser tratada com atenção, porque as principais lideranças percebiam os riscos reais de iminente perda do mandato pela prefeitura de Recife diante das condições existentes, logo ousaram trocar os motores do avião com ele funcionando em pleno ar, o que até agora foi conseguido mesmo com um certo atraso.

Eis alguns erros de João da Costa que pesaram contra si: 1) Faltou o tempo todo diálogo com seus próprios companheiros do PT e dos principais partidos aliados, o que seria fundamental para o tão esperado consenso; 2) Uma administração pública não é só um amontoado de cargos e funções, mas é uma orquestra com maestro, sinfonia e sintonia.

Houve improvisação demais na gestão João da Costa, que não soube colocar as pessoas certas nos lugares certos e queimou 50% de todo o seu capital político no primeiro ano de mandato pela incapacidade administrativa e política; 3) Uma gestão eficiente não se realiza sem uma comunicação institucional que agregue a alma do todo.

Faltou uma marca forte, porque se repetiu ou se reciclou tudo ao mesmo tempo sem o mínimo de tato para a apresentação de novidades e de avanços; 4) A cidade é a menor unidade política, cuja intersecção com os demais entes precisa ser estabelecido para sua própria sobrevivência.

Faltou percepção e ações de integração da cidade com o resto do Estado, do País e do mundo; 5) O ser humano é complexo.

Não se soube tratar a pessoa humana e formou-se poços de ódios nas relações estabelecidas com os companheiros, criando um ambiente entre “nós” e “os outros”.

O prefeito construiu um poço para si mesmo e vai pagar muito caro por isso politicamente; 6) A estratégia eleitoral do prefeito durante as prévias pecou em não se começar do ponto zero.

Sem perceber que não bastaria ficar impondo o prefeito como candidato como se isso fosse o suficiente, arrotou-se arrogância o tempo todo, tendo o assunto reeleição tratado apenas na base do fisiologismo ou da troca de favores; 7) Na política em inúmeros momentos é preciso dar dois passos para trás para que um seja dado adiante.

A visão ultrapassada de gestão centralizadora não descolou os principais pontos do projeto político do PT para a efetividade; 8) A voz rouca das ruas faltou ser ouvida.

A falta de respostas diante dos inúmeros problemas da cidade que precisam ser respondidos é gritante; 9) Tentar o impossível para se chegar ao possível.

A ousadia, a capacidade de surpreender, a criatividade e a visão de futuro não foram marcas da gestão.

Faltou projetar uma cidade melhor na cabeça do recifense.

Faltou muito a empolgação para fazer o cidadão sonhar alto; 10) A cidade ganhou um gerente e não uma liderança.

O prefeito deixou de ser estratégico e competitivo ao não apostar na política de ir para as ruas dialogar diretamente com o povo.

Fechou-se no seu gabinete.

A candidatura de Humberto Costa será muito complicada, porque se começa do zero a poucos meses da eleição, que já é cercada de questionamentos e com muitas inconstâncias que estão por vir.

A vantagem de Humberto é que ele soube aprender com os seus próprios erros a superar as dificuldades e se saindo bem.

Sabe que não pode errar e não hesitará nisso. É a maior liderança popular do PT em Pernambuco (no Recife divide esse título com João Paulo), é uma pessoa aberta e carrega uma biografia invejável desde os tempos de movimento estudantil.

Ele saberá conversar direito com o agora somente prefeito e não mais candidato João da Costa nessa nova missão, porque foi em Brasília quem mais ajudou o prefeito a encontrar o caminho das pedras do financiamento federal.

Ele vai precisar começar daí a sua campanha, neutralizando qualquer tentativa do grupo de João da Costa de sufocar sua candidatura.

Os demais pontos vão se conseguindo na luta diária. É o que vejo para o momento.

Educador, pesquisador, escritor e documentarista