Por Giliate C.

Coelho Neto A escolha da Executiva Nacional do PT em anunciar Humberto Costa candidato à prefeitura do Recife foi um gesto de lucidez diante do festival de radicalização inconsequente que o partido atravessou nesses últimos dois meses. É um claro recado para todos os petistas do Brasil: uma disputa política, por mais dura que seja, não autoriza ninguém a submeter o partido a um vexame público de tal proporções e a tratar companheiros com tão pouco grau de solidariedade como seu viu nestas últimas prévias.

Humberto terá a difícil missão pela frente de conduzir a recomposição da direção política neste processo, além de atuar na limpeza das manchas de sangue petista espalhadas pela cidade.

Todo espírito crítico e língua afiada dos militantes foram direcionados aos supostos “inimigos” internos, e são naturalmente inúmeras as mágoas.

Mais do que adjetivos, foram construídas e disseminadas certas teses – tal qual a do “direito natural à reeleição”- que continuarão soando durante um bom tempo no ouvido das pessoas.

Todos sabem que qualquer um dos escolhidos teria de enfrentar o rancor e desestímulo de todos os outros.

Todavia, o acerto da Executiva Nacional reside na percepção de que Humberto Costa, mesmo que não sane as feridas, é o quadro político que detém – de longe – as melhores condições de rearticular um certo projeto do PT que nos idos de 2000 encantava o Recife com novas ideias e formas de enfrentar os problemas da cidade.

Foi na saúde, ainda na primeira gestão de João Paulo, que o então secretário Humberto agregou os melhores quadros técnicos da saúde pública e implantou políticas que mais tarde viriam a se espalhar por todo o Brasil.

O SAMU, por exemplo, é a política de saúde mais reconhecida pela população no país inteiro – 96% citam o SAMU quando perguntados sobre uma ação positiva do governo federal na saúde.

A Academia da Cidade, em estudo recente da Organização Mundial de Saúde, foi reconhecida com uma das melhores políticas de promoção à saúde do mundo e que, de fato, consegue ter impacto no controle de doenças como hipertensão e diabetes – muitas vezes mais do que os remédios que nós, médicos, prescrevemos.

O Programa de Volta Pra Casa, que incentiva os familiares a resgatarem seus parentes abandonados há anos num hospício, é uma grande referência para centenas de cidades brasileiras.

Tudo isso começou lá em 2001, no Recife.

A mais importante qualidade de Humberto é conseguir agregar ao seu lado pessoas com sensibilidade social e ao mesmo tempo capacidade técnica de pensar e executar soluções para os problemas colocados no caminho.

A Executiva Nacional, experimentada que é nas questões municipais, sabe que o PT precisa formular urgentemente saídas para os graves problemas urbanos que afligem as cidades brasileiras.

Lideranças como Humberto Costa são fundamentais nessa renovação de ideias.

Mais do que uma aposta, um ato de lucidez que tenta resgatar o que o PT tem de melhor.

Petista, médico de família e comunidade concursado da Prefeitura do Recife e atualmente Diretor de Programa da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde.

Foi vice-presidente estadual do PT-PE em 2011/2012