Por Túlio Velho Barreto, especial para o Blog de Jamildo Desde as eleições de 2008, já estava claro que a candidatura de João da Costa era uma aposta do prefeito João Paulo.

Este, para emplacar a candidatura de seu afilhado político, primeiro, teve que dobrar a resistência no interior do PT (leia-se, sobretudo, a tendência “Construindo um Novo Brasil” (CNB) e sua principal liderança estadual, o senador Humberto Costa) e, depois, a resistência dos aliados da chamada Frente Popular de Pernambuco, capitaneada pelo governador Eduardo Campos (PSB). É relevante lembrar que, para tanto, João Paulo usou da prerrogativa de ser o coordenador do processo de sucessão na Prefeitura do Recife, apesar das pré-candidaturas de Maurício Rands, Pedro Eugênio e do próprio Humberto Costa, todos da CNB.

E que, naquele momento, teve que dobrar até o então presidente Lula, que se manifestou diretamente a João Paulo favorável ao nome de Humberto Costa.

Nos dois primeiros anos de gestão, João da Costa perdeu a única âncora que o sustentava: o apoio de João Paulo.

A partir de então, ficou cada vez isolado, situação que só se agravou com a proximidade da definição da candidatura petista em 2012.

Então, deve ter se perguntado: sua gestão é ‘medíocre’ ou tal avaliação resulta de seu isolamento político?

Assim, apresentou-se como postulante à reeleição contra tudo e todos do PT local e nacional, inclusive Lula e Eduardo Campos, que parecem ter incentivado a pré-candidatura do deputado federal e secretário de Governo licenciado, Maurício Rands.

O surgimento da pré-candidatura de Maurício Rands parecia ser a “pá de cal” que faltava para supostamente enterrar as pretensões de João da Costa em se reeleger, pois unia dois adversários históricos internos do PT: Humberto Costa e João Paulo, com a bênção do ex-presidente Lula e certamente, da Executiva Nacional do partido, controlada pela CNB, que tem Humberto Costa como seu (da Executiva Nacional) vice-presidente.

E de Eduardo Campos.

Não deu certo.

E a disputa foi para as prévias.

Mas estas também não resolveram o imbróglio petista.

Muito pelo contrário, agravou o impasse na medida em que João da Costa obteve a maioria dos votos.

E pior: o resultado foi questionado e levado para a Executiva Nacional, que, então, interveio na disputa, e a anulou.

A anulação das primeiras prévias e a marcação de novas também não contribuíram para a solução do impasse.

Nem muito menos sua anulação pela Exceutiva Nacional do partido e a posterior saída de Maurício Rands da disputa em favor de Humberto, o que, a princípio, parecia ter colocado João da Costa em xeque-mate.

Mas não.

De fato, desde então, João da Costa passou mais efetivamente a representar ou assumir o papel de vítima.

Ou seja, embora prefeito e passível de reeleger-se, passou a propagar: que não conseguiu ser o candidato natural à disputa e, apesar de ter aceito as prévias, e de tê-las ganho (ainda que o resultado tenha sido contestado), não conseguiu a homologação de seu nome.

E mais: apesar de ter aceito a anulação das primeiras prévias e a marcação de novas, viu o adversário (Rands) renunciar em favor de outro nome da própria tendência (Humberto), o que, para ele, deve ser entendido apenas como movimentos de peças de um mesmo lado do tabuleiro, ou seja, em clara colaboração para derrotá-lo.

Assim, de principal responsável pelos problemas do PT, no que diz respeito à sucessão municipal no Recife, João da Costa passou a dividi-los com outras lideranças, e, como já disse aqui, aceitou ou incentivou o processo de ‘vitimização’ em curso.

Ou seja, saiu da posição de xeque, passiva para uma postura mais ativa e parece ter colocado os adversários também em xeque, já que uma intervenção mais dura da Executiva Nacional agora, e um possível favorecimento da pré-candidatura do senador Humberto Costa, pode consolidar sua posição de vítima perante a militância petista, em particular, e do eleitorado, de modo geral.

Agora vislumbro, à luz dos últimos fatos, três cenários para os próximos dias que poderiam resolver o atual imbróglio; dois dos quais até certo ponto antagônicos.

O primeiro, que significaria admitir ainda algum grau de cooperação entre os atores políticos envolvidos na disputa, poderia significar igualmente uma saída honrosa para todos.

Nele, João da Costa sairia da disputa, a partir, por exemplo, de apelo público de Lula, negociando total apoio à sua gestão até o final, com envolvimento de todo o PT e das demais forças políticas relevantes da aliança governista em Pernambuco (a chamada Frente Popular), que ocupariam até algumas secretarias, e amplo apoio da presidenta Dilma Rousseff e do governador Eduardo Campos.

Assim, o Recife se transformaria em um canteiro de obras e sua gestão passaria a ser defendida por todos, o que ocorreria também durante toda a campanha eleitoral.

No final da gestão, João da Costa poderia até assumir uma secretaria no governo do Estado, o que lhe daria sobrevida política, além de emplacar aliados em secretarias municipais, em caso de vitória petista.

Este seria um “jogo” em que todos ganhariam algo.

No outro cenário, ocorreria uma intervenção no Diretório Municipal e a exclusão de João da Costa do processo, por não abrir mão de sua pré-candidatura.

E, consequentemente, a imposição do nome de Humberto Costa como candidato.

Neste caso, isso poderia até significar o fim da carreira de João da Costa, com uma possível expulsão, se não aceitasse a decisão da Executiva Nacional.

Este seria um “jogo de soma zero”, ou seja, o que um ganha, o outro perde.

Neste caso, perderia João da Costa, quase que exclusivamente (vide o que ocorreu, em São Paulo, com Luiz Antônio Fleury, apadrinhado de Orestes Quércia, e Celso Pitta, de Paulo Maluf; e Luiz Paulo Conde, afilhado de César Maia, no Rio).

No terceiro cenário, mantém-se o nome de João da Costa, o que evitaria mais e maiores constrangimentos ao PT, aos aliados e ao próprio senador Humberto Costa.

E seja o que Deus, no céu, ou Lula, na terra, quiser.

Mas como a política é muito dinâmica, e esta análise está baseada em fatos, esperemos as próximas horas para ver o que irá ocorrer. *Túlio Velho Barreto, cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco