Por Paulo Santos Oliveira é escritor Discordo em quase tudo do brilhante jornalista Fernando Castilho, nas suas considerações sobre o processo de escolha do candidato petista às próximas eleições à prefeitura do Recife.
A começar pelo fato de que, ao contrário dele, entendo que um mandato eletivo, no sistema atualmente – e felizmente –, em vigor no País, pertence ao partido que empresta a legenda para que fulano ou beltrano se candidate.
Não existe “estabilidade no emprego” no executivo e legislativo.
Goza desse privilégio apenas o poder judiciário, mesmo assim submetido às lentes das corregedorias (e aqui, “en passant”, parabéns ao trabalho da brava desembargadora Eliane Calmon).
Portanto, quem pretende se candidatar a qualquer cargo nessas duas esferas, seja à eleição ou à reeleição, deve se submeter previamente ao crivo da organização à qual está filiado.
Este é um princípio de claridade “córnea”, usando a mesma expressão que o articulista utilizou (estranha, porém sonora e afirmativa): se uma agremiação entende que alguém, exercendo um cargo público em seu nome não está correspondendo ao desejado, não é apenas natural e legal como também esperado que ela o substitua por outro melhor.
Afirmar que o PT pretendeu trocar o prefeito João da Costa “para que, na campanha, o escolhido possa dizer que representa a nova proposta de gestão e que ela não tem nada a ver com a passada, ou que ele não seguiu os compromissos políticos do seu antecessor e fiador na vitória, João Paulo”, portanto, é um argumento senão falacioso, desprovido de significado.
Também não faz sentido dizer que “quem tem que julgar a gestão petista é o eleitor, não o comando do partido. É ele quem deve decidir se o manda para casa ou se o mantém.”.
Pelo contrário, seria irresponsabilidade da direção de qualquer legenda permitir que uma gestão fracassada, no seu entendimento, corresse o risco de se repetir.
Concordo plenamente, porém, com a afirmação de que o eleitor não é imbecil.
E cabe a ele, eventualmente, decidir se dará crédito ou não a um candidato que promete fazer uma administração diferente e melhor que o antecessor do mesmo partido.
Se não, ele escolhe outro.
Por outro lado, é direito do filiado que postula uma indicação defendê-la até onde for possível.
E existindo mais de um disputando a mesma vaga, que se submetam às prévias partidárias.
Pelo menos no PT, porque, como sabemos, na maioria dos outras agremiações não tem essa boquinha, não.
Vale lembrar que no PT até mesmo Lula foi peitado, por Eduardo Suplicy, sendo obrigado, muito a contragosto, a bater chapa com ele.
Nunca nesse país se viu nada parecido.
Então, a candidatura João da Costa foi questionada por um segmento do PT – um vasto segmento, aliás.
E esse debate, naturalmente, extrapolou os limites internos, ganhou as páginas dos jornais, as ondas do rádio e da TV e as telas dos computadores, porque discutir quem muito provavelmente vai mandar no Palácio do Capibaribe nos próximos quatro anos é um assunto de grande interesse, e não apenas para o recifenses. É uma questão nacional.
E aqui eu encontro mais um ponto de avença com o articulista: “em nenhum momento, os dois grupos envolvidos trataram dos problemas da cidade”. É verdade.
A discussão sobre políticas públicas para o Recife não têm sido de pobreza franciscana, mas de uma miséria haitiana.
Quais as posições dos postulantes a candidato sobre o Cais Estelita, o gabarito dos prédios, o trânsito caótico (do meu ponto de vista de classe média, é claro, para os moradores das periferias as preocupações devem ser outras)?
Ninguém sabe.
Assim como também não se conhece as posições dos postulantes de nenhum outro partido.
Espero que apareçam durante o processo eleitoral, para eu poder escolher em quem sufragar.
Caso contrário, anularei meu voto.
O debate entre os petistas também não foi caracterizado por um excesso de civilidade e polidez.
Já dizia o general Abreu e Lima, um grande polemista, que “em Pernambuco, até nas discussões filosóficas acaba se metendo a mãe no meio”.
E as coisas não mudaram muito nos últimos 150 anos.
Portanto, nada de muito estranho.
Infelizmente.
Mas quando vieram as prévias foi que de fato começou a “campanha suja e irresponsável que constrangeu a cidade”, definição de Castilho com a qual também estou de acordo.
Aconteceu que o senhor João da Costa levou para votar um número de filiados não aptos, segundo os estatutos partidários.
E para consegui-lo isso apelou para uma instância externa, o judiciário, o que também não é permitido pelo regimento.
O pleito, então, foi anulado pelos observadores nacionais.
O juiz e o bandeirinha “de fora” marcaram impedimento.
Entretanto, o senhor João da Costa saiu gritando que o gol valeu.
Que seu time ganhou a partida.
Que o juiz estava comprado etc. etc.
Amplificou, matreiramente, o papel de vítima, de coitadinho, de “achincalhado” pelos “poderosos” que já vinha assumindo.
Um discurso certamente de gosto popular, pois a massa em geral, avessa às sutilezas, aprecia os “cabras machos” e os “baixinhos marrentos”, como ele próprio se definiu.
Sem se importar, absolutamente, com o prejuízo que pudesse causar à imagem do partido que o pôs na cadeira de prefeito, E ao se comparar a Arraes e a Pelópidas, dizendo que ninguém o tiraria de onde está, a não ser à força, assim comparando o PT, por extensão, à ditadura militar, ultrapassou todos os limites aceitáveis, em minha opinião.
O outro lado, por sua vez, onde também não há nenhum santo, não soube como lidar com um problema desse tamanho e dessa natureza, e o embrulho cresceu até tomar a dimensão atual.
Mas alguém aí saberia?…
O artigo é em resposta à contribuição de Fernando Castilho para o Blog: Entre canalhas e kamikazes