O articulista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, que escreve sobre política nacional a partir de Brasília, manifestou-se, de forma contundente sobre o impasse no Recife.
A referência foi feita em trecho da coluna publicada no sábado passado.
Veja o destaque abaixo.
Nhonhô Lula BRASÍLIA - O ex-presidente Lula foi festejado anteontem por 44 minutos no “Programa do Ratinho”, do SBT.
Há dois aspectos relevantes sobre essa aparição.
Primeiro, a abordagem legal e quase bizantina sobre se um político pode dizer em público o que de fato é.
No caso, Lula estava com Fernando Haddad a tiracolo, o delfim lulista escolhido para ser candidato a prefeito pelo PT em São Paulo. É surrealismo puro que um político não possa se declarar candidato a cargo público a qualquer tempo e hora.
Mas está na lei.
O caso acabará no TSE e em multas ridículas de R$ 5.000 por infração.
Outro aspecto a chamar a atenção é o ex-presidente de volta, em público, à sua condição de mandão do PT.
Lula virou um simulacro de ACM -o baiano Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), que comandou com mão de ferro o PFL (hoje DEM).
Sem o menor pudor, na primeira pessoa, o petista explicou a Ratinho a escolha de Haddad: “Eu achava que era o momento da [SIC]gente apresentar uma coisa nova. (…) Eu acho que São Paulo precisa ter alguém que tenha o entusiasmo que ele teve cuidando da educação”.
Ou seja, “eu achava”, “eu acho”.
Não é a opinião do PT. É a de Lula Não custa lembrar que o PT nasceu há 32 anos pregando o fim do caciquismo.
O conceito empalideceu.
Vale onde a sigla não enfrenta disputa.
Quando a cúpula quer, patrola quem vê pela frente, como agora em Recife.
Em São Paulo, um dedaço de Lula materializou Haddad.
Em democracias maduras é rara a existência de caciques.
Em benefício de Lula e em prejuízo do Brasil, registre-se que o PT não está só na promoção do seu nhonhô.
Trata-se de algo impregnado no DNA do país.
Brasileiros adoramos um chefão nos dizendo o que fazer.
Lula bajulado no Ratinho produz um pouco de vergonha alheia.
No fundo, ele só sintetiza o estágio rudimentar da política no Brasil.