Por Fernando Castilho, do JC Negócios No comando da gestão da cidade do Recife, o Partido dos Trabalhadores, ou melhor, uma parte significativa dele, decidiu dispensar o eleitor de julgar a administração, no caso a representada pelo prefeito João da Costa.
Sob o argumento de que ele não está bem avaliado nas pesquisas e não unir o partido, essa parte do PT decidiu escolher pelos eleitores se a gestão petista deve ou não ser mantida.
O motivo, naturalmente, é de uma obtusidade córnea.
Mas, é interessante: o prefeito João da Costa deve ser substituído para que, na campanha, o escolhido possa dizer que representa a nova proposta de gestão e que ela não tem nada a ver com a passada.
Ou de outra forma: que ele não seguiu os compromissos políticos do seu antecessor e fiador na vitória João Paulo.
Como se o eleitor fosse algum imbecil e passasse a achar que uma possível administração de um nome que não o dele, não fosse a continuidade de tudo de bom ou de ruim que o PT fez na capital pernambucana nos últimos 12 anos.
Ditaduras fazem conluios às escondidas e escolhem seus dirigentes em congressos fechados deixando ao povo a missão de avalizá-los.
Democracias fazem eleições livres e costumam mandar para casa, gestores medíocres e incompetentes e, não raro, até gestores sérios ou com boas propostas no calor da campanha.
Mas, em todos os casos, é o voto quem decide no final. É verdade que, abrigados em coligações, as cadeiras do parlamento podem manter os acordos políticos.
Mas, na chapa majoritária, é o eleitor quem decide e não raro surpreendendo os arranjos feitos pelos donos dos partidos.
O mesmo eleitor que o PT deseja tutelar.
Como se o cidadão, contribuinte, fosse militante do partido.
A absurda disputa, em que se envolveram seguidores e uma parte adversária à administração do prefeito João da Costa, não desrespeitou apenas seus pares no momento em que usaram palavras que a oposição teria constrangimento em proferir.
Desrespeitou o eleitor.
Quem tem que julgar a gestão petista é o eleitor, não o comando do partido. É ele quem deve decidir se o manda para casa ou se o mantém.
O que não pode é o partido constranger a cidade com uma campanha suja e irresponsável, que em nenhum momento, os dois grupos envolvidos tratou dos problemas dela.
Talvez, porque nenhum dos dois grupos tenha muito que falar em termos de propostas.
Certo, a forma como o partido faz isso é problema interno.
Mas, tentar enganar o eleitor e apresentar proposta como se a gestão não fosse a mesma, beira a desonestidade.
Sempre é bom lembrar: o prefeito João da Costa foi eleito pelo voto.
E isso foi feito, porque o eleitor entendeu que ele seria a continuação da administração de João Paulo.
E, ao que se observa nesses últimos anos, não há rigorosamente nenhuma mudança de foco.
Assim, ficará muito difícil imaginar que outro candidato possa ter credibilidade em se colocar a serviço da cidade, negando o que o PT fez no Recife há 12 anos.
Vai dizer o quê?
Bom, certamente não dirá menos de João de Costa do que já disse.
Até porque, o pântano em que os grupos enfurnaram, não será limpo apenas no decorrer de uma campanha. É claro que o prefeito terá dificuldade de defender a sua gestão.
Ela nunca foi das melhores.
Mas, é verdade que outro candidato do partido terá mais dificuldade ainda, tentando explicar politicamente o inexplicável: Que o PT de 2012 não é o PT de 2008 ou de 2004 quando derrotou Roberto Magalhães.
O fato novo dessa disputa absurda foi uma parte do partido entender que ele não deveria ser o representante na disputa de outubro e, para isso, produzir uma das mais desrespeitosas disputas internas, aliás, feita em público.
Soberano nas suas resoluções internas, o PT, naturalmente, poderá apear do prefeito João da Costa da disputa.
Mas, é bom ter presente que terá que inventar um discurso de desconstrução de tudo que fez no Recife até agora como gestor.
Sabendo que correrá um altíssimo risco, a começar pelo fato de outro nome, será sempre visto como um comissário do partido a serviço do interesse de um grupo.
Interesses que tanto de um lado como de outro até agora, passam a quilômetros dos reais interesses do que a cidade deseja e precisa. *A expressão Canalha foi usada pelo vereador do PT, André Campos, acusando os seus companheiros de partido e defendendo o prefeito João da Costa.
A expressão Kamikase foi usada pelo deputado Isaltino Nascimento ao criticar o prefeito João da Costa.