A situação do Partido dos Trabalhadores no Recife figurou constantemente no noticiário local e nacional.
A luta fraticida entre membros do maior partido da América Latina coloca em xeque a força eleitoral da sigla numa das principais cidades onde o PT está no poder - e há 12 anos.
A disputa pela candidatura à prefeitura da capital pernambucana ultrapassa as barreiras partidárias ameaça a estrutura da Frente Popular, coligação que tornou-se poderosa no Estado, dominando amplamente as câmaras municipais e a Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O cientista político Clóvis Miyachi e o economista Maurício Romão, com grande experiência política no Estado, conversaram com o Blog de Jamildo e fizeram suas análises acerca da briga do PT, da situação do partido no cenário local, da figura de João da Costa após o processo, falaram da Frente Popular e também de como a oposição se portou e deve se portar diante do momento de fragilidade petista.
Miyachi avalia positivamente a gestão de João da Costa, mas que sua imagem pública prejudica a avaliação de sua gestão.
O cientista diz também que Costa tem um “perfil técnico, mas não político” e que por isso não consegue dialogar bem entre lideranças partidárias.
Baseando-se na história recente do PT, Miyachi vê grandes riscos de João da Costa ser expulso do partido.
Já os oposicionistas, segundo ele, estão mostrando falta de articulação, focados em interesses pessoais e aguardando o fim da novela petista.
A GESTÃO JOÃO DA COSTA (2009-2012) - O cientista político Clóvis Miyachi afirma que é importante considerar na análise a existência de uma “evidente rejeição à pessoa física João da Costa”. “As ações administrativas da Prefeitura do Recife, resultantes do Orçamento Participativo, educação, saúde, habitação - que no geral apresentaram números positivos, pricipalmente nos subúrbios - acabaram ofuscadas pela imagem individual do prefeito”.
Miyachi resume afirmando que a falta de popularidade do gestor estaria relacionada ao deslocamento da imagem de João da Costa da “imagem de Mestre-Burgo”. “O prefeito é mais discreto, não aparece tanto.
Ninguém consegue vê-lo como prefeito.
Só lembram dele quando acontece algo ruim.
Isso não acontecia com os [prefeitos] anteriores, quando o problema era esse ou aquele secretário.” Mas também afirma que a gestão poderia ter sido melhor e critica o deslocamento para os órgãos públicos das várias lidernças históricas do partido para ocupar cargos comissionados e gratificados pela conquista do poder. “Assim, internamente os espaços vazios foram sendo ocupados pelos militantes sem a tradição de dirigentes.” A FALTA DE DIÁLOGO - O cientista político afirma que João da Costa não tem perfil político e não conseguiu construí-lo durante sua gestão. “Ele é uma pessoa técnica.
Tanto que na gestão João Paulo ele teve um trabalho amis técnico a frente do Orçamento Participativo.
Mas numa cidade como o Recife muitas vezes é necessário mais política que técnica para resolver problemas”, aponta. “E por ter sido uma candidatura pessoal de João Paulo [em 2008], não possuía espaço político para construir um diálogo entre a classe política, pois já sua candidatura não nasceu de uma negociação entre partidos e políticos.
Faltou diálogo desde lá”, lembrou o cientista político.
EXPULSO - Clóvis Miyachi vê grande risco do atual prefeito do Recife ser expulso do partido caso este se recuse apoiar Humberto Costa como candidato, e se baseia na história do próprio PT para justificar seu posicionamento. “A Executiva Nacional deverá optar pela expulsão de João da Costa alegando infidelidade caso ele não abra mão de sua reeleição.
O PT até hoje só admite lealdade às determinações do partido.
No governo Lula, quando os deputados federais Paulo Rubem [hoje PDT], Heloísa Helena e Luciana Genro [ambas atualmente no PSOL] não acataram a determinação do partido de fechar questão com a liderança da bancada do PT na votação da Previdência Social, todos tiveram que deixar o partido antes que fossem expulsos.
Mas João da Costa ainda pode ser leal à determinação e apoiar Humberto Costa como candidato no seu lugar.” A IMAGEM DE JOÃO DA COSTA - O cientista político vê como mais positiva para a imagem de João da Costa e do PT a opção de renunciar a sua reeleição. “Se renunciar, continua no PT e sai fortalecido como “o prefeito do Recife”, e o seu partido [também se fortalece] transmitirá a umagem de um partido orgânico e disciplinado.” A OPOSIÇÃO - Clóvis Miyachi, enquanto o PT briga os membros da oposição estiveram individualmente ligados no noticiário para, estando a par dos acontecimentos no PT, tentarem conquistar e também marcarem seus espaços na mídia.
Miyachi avalia ainda que desde a derrota de Roberto Magalhães (do extinto PFL) frente João Paulo (PT), no pleito municipal de 2000, a oposição esteve perdida, “digerindo a perda do poder, sem conseguir lidar com a “lidernça”, “carisma” e “capacidade de persuasão” da gestão João Paulo. É tanto que João da Costa foi indicado e eleito [já no primeiro turno] como candidato imposto por João Paulo”, relembra.
O cientista político chama a atenção para o fato de os oposicionistas (Raul Henry, Mendonça Filho, Raul Jungmann e Daniel Coelho) estarem aguardando o fim da novela petista para definirem seus destinos. “Os oposicionistas”, avalia, “até agora se mostram sem articulação, sem uma liderança que possa dar um norte à estratégia da oposição.
Cada um, dentro dos seus interesses pessoais, aguarda o desfecho da disputa no PT.” Leia a entrevista com Maurício Romão, que classifica a gestão de João da Costa como “medíocre” e diz que grande parte da culpa vem da briga com João Paulo