Por Edilson Silva O sistema ético Aristotélico nos ensina que a virtude se encontra no equilíbrio, no meio termo, e que os vícios são fartamente encontrados nos extremismos.
Concordamos com Aristóteles.
Quando tratamos de política cremos que não se está a procurar a virtude num meio termo entre as categorias direita e esquerda.
O fundamentalismo do centro, neste caso, poderia ser interpretado como um vício.
Também o centro, entre a direita e a esquerda, deve ter seu ponto de equilíbrio virtuoso.
Com a esquerda política não deve ser diferente.
Encontrar um meio termo neste espectro, um ponto de equilíbrio, que conjugue e harmonize bem - a maior parte pelo menos -, de todos os tons e cores dos espíritos inquietos que se percebem como de esquerda, única forma de se trabalhar numa factível perspectiva transformadora da realidade, é o ponto de equilíbrio virtuoso que devemos perseguir. É o que seria uma esquerda de massas.
Muitos que nos acham demasiadamente radicais podem estar estranhando este texto.
Mas é porque a sociedade é muito plural, e o que é equilibrado para nós, pode ser desequilibrado (extremado) a outros.
Contudo, para outros, em número muitíssimo menor obviamente, esta busca de equilíbrio pode parecer uma postura moderada demais. É a vida.
E é por isso que Aristóteles, que viveu quase meio milênio antes de Cristo, permanece atual.
Quando começamos a fundar o PSOL, ainda em 2003, pensávamos exatamente neste equilíbrio.
Havia um vácuo virtuoso entre dois partidos com forte simbologia na esquerda brasileira: o PT e o PSTU, duas experiências que tinham muito a nos ensinar.
O equilíbrio estava entre a não adaptação ao oportunismo eleitoreiro do PT, por um lado, e o afastamento do dogmatismo esquerdista infantil do PSTU, por outro.
Após nove anos de intenso trabalho de construção, lutando bravamente pelo equilíbrio no PSOL, observamos orgulhosos a nossa obra.
O PSOL, este ainda pequeno partido, é a maior vitória da esquerda socialista brasileira nos últimos 10 anos. É o partido de Heloisa Helena, de Chico Alencar, Randolfe Rodrigues, Marcelo Freixo, Jean Wyllys, do Plínio de Arruda Sampaio, do Ivan Valente, da Janira Rocha e de tantos outros lutadores do povo deste país.
Apesar desta vitória, o PSOL não pode arrogar-se e autoproclamar-se o único portador das virtudes da esquerda transformadora do país.
Biografias como as da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), do senador João Capiberibe (PSB-AP), do senador Pedro Taques (PDT-MT), do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), do deputado Paulo Rubem (PDT-PE), da ex-ministra Marina Silva (sem partido-AC), só para citar algumas, são exemplos de que há vida de esquerda e transformadora fora do PSOL, e que precisamos ter a humildade e a capacidade de dialogar com estes atores.
Além destas biografias, há inúmeros movimentos - partidários, apartidários e suprapartidários -, que podem e devem compor um quadro de frente de intervenção na realidade brasileira. É o caso, por exemplo, do Partido Pirata, da Consulta Popular, do Grupo Direitos Urbanos de Recife no facebook, de movimentos juvenis como o MUDA-Direito e tantos outros.
O PSOL, se qualquer destes movimentos resolverem transformar-se em partido político, tem a obrigação moral de apoiá-los, pois fomos apoiados por muitos quando de nossa fundação.
Infelizmente, partidos como o PSTU se negaram a contribuir com nossa fundação chegando ao cúmulo de ir à TV em seus poucos segundos de propaganda pregar o boicote à legalização do PSOL.
O vício do extremismo, neste caso, foi gritante. É nesta perspectiva que trabalhamos no PSOL.
Sem autoproclamação, sem fundamentalismos, com humildade, reconhecendo nos atores externos ao PSOL as virtudes que podem se somar às nossas para transformar a realidade de nosso povo sofrido.
Aqueles que querem levar o PSOL ao abraço suicida com setores extremistas, dogmáticos, fundamentalistas, sectários, podem fazê-lo, mas precisam respeitar minimamente o nosso direito de apontar outro caminho para a esquerda brasileira.
Se Marina Silva, por exemplo, decidir fundar um novo partido, contará com nosso apoio total, o que não significa sair do PSOL, mas apoiar um aliado a nascer de forma autônoma para a luta institucional.
Presidente do PSOL-PE e Secretário Geral Nacional do PSOL