Por Helder Lopes, militante do PT pró-João da Costa “O grande desafio que temos pela frente é não incorrermos nos mesmos erros daqueles que pretendem falar em nome da classe trabalhadora sem ao menos ouvir o que ela tinha a dizer”, discursou o então operário Lula no auditório lotado do Senado Federal em setembro de 1981, na 1ª Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores.
O líder do partido alertava ainda para que os embrionários petistas denunciassem, “quantas vezes for preciso, certos desvios a que todos nós estamos sujeitos”, como o que chamou de “politicismo, que de cima para baixo quer impor seu dialeto ideológico aos nossos militantes, como se discurso revolucionário fosse sinônimo de prática revolucionária”, e o colonialismo “daqueles que se autodenominam vanguarda do proletariado, sem que os trabalhadores sequer os conheça”.
Ainda nesse mesmo discurso, o ex-presidente atentava para o eleitoralismo “dos que desejam reduzir o PT a um trampolim de cargos eletivos e de projeções políticas” e o “burocraticismo dos que criticam por ir à porta de fábricas e querem um partido bem organizado, mas sem bases populares”.
O que acontece no PT do Recife desde o anúncio das prévias é um velado descaso e descompromisso, Lulão, ao que disseste em meio à cuspes e pigarros.
A época, Lula ainda não falava bem como fala hoje.
Mas isso nunca foi motivo para que se deixasse de entender o que dizia o torneiro mecânico que se tornaria Presidente da República anos depois.
Enquanto ainda cuspia, muito, Lula e o PT combatiam a ditadura e exigiam o voto direto, defendiam a democracia a qualquer custo.
Hoje, quem diria, setores do Partido dos Trabalhadores vão a São Paulo, estado-berço do partido, para choramingar pela anulação de uma eleição.
Para pedir, com todas as palavras, que se desconsiderasse a vontade da maioria dos votantes.
Foram a São Paulo e num típico gesto de politicismo, como diria Luiz Inácio, disseram: “esqueçam, esqueçam tudo o que dissemos e intervenham!
Indiquem o nosso candidato! Ó, mestres dos magos!” A Nacional, com memória mais fresca, mas apesar do lobby randista, não abriu mão da democracia. É bem verdade que se estivessem mais apegados aos princípios de esquerda e democráticos os membros da executiva não anulariam a votação, mas seria extrapolar os limites da razoabilidade achar que o Recife teria seu candidato aclamado pelo colegiado.
O (ex)(novo)candidato a candidato Maurício Rands, da corrente Construindo um Novo Brasil, já tinha começado a pré-campanha há muito tempo.
Não seria justo uma “terceira via”, apesar de o próprio haver sugerido.
Há bastante tempo Rands tem se consolidado no PT, já, inclusive, desde 2008, quando Costa se elegeu no primeiro turno, o secretário cogitou lançar-se à Prefeitura do Recife.
Na ocasião, como agora, Maurício Imortal já conquistou de cara o apoio dos mais progressistas e liberais quadros da nossa cidade.
Quase todos, inclusive, às sombras da bandeira vermelha desbotada.
Verdadeiras relíquias e lideranças sem liderados.
Gentes suficientemente a anos luz de seu tempo para não perceberem o tempo em que vivem.
Principalmente agora, Lula, Maurício Rands conta com os colonos, ou, como ouvi recentemente, com os “coronéis do asfalto”.
Mas, quem é mesmo Maurício Rands? “Maurício Rands é aquele apoiado por Humberto”, me responderam.
Ah!
Então a vitória de Rands é um bom sinal para 2014, ou ainda mais a diante, pensei.
Lembrei logo que pessoalmente Humberto ganharia muito com a eleição de Rands.
Humberto, que quase foi o senador mais votado, teria apoiado o prefeito do Recife desde as prévias.
Só espero que o apoio a Rands não seja por pretensões pessoais, não lembro de ter ouvido da boca do senador seu interesse no Governo do Estado.
Humberto não fingiria - logo ele que assumiu a responsabilidade de ser o relator do conselho de ética do Senado -, é ético, - por tanto.
Somente no próximo domingo saberemos o candidato petista, devido às “falhas” na votação.
Falhas são coisas muito graves.
Falhas são inaceitáveis.
Prefere-se tudo à falhas!
Prefere-se fraudes à falhas?.
Os auditores garantiram em São Paulo que não houve fraudes ou irregularidades nas votações, apenas “falhas”, como as que existem mesmo nos corpos das mais lindas mulheres, e isso anulou a eleição: tudo em nome da perfeição.
Sabe de uma coisa?, Como reclamou Frei Betto em “A Mosca Azul”: “Talvez seja o momento de pensarmos em um novo modelo de partido, cujas estruturas democráticas prevaleçam sobre o caudilhismo e o caciquismo”.
Por falar em cacique, João Paulo onde fica nessa história toda?
João Paulo fica no grupo dos frouxos, eu diria.
Mas Lula batizou de “oportunistas” os que, como o ex-prefeito, “põem um pé no PT e mantêm o outro pronto para correr quando sentem que suas intenções não são aceitas pelos trabalhadores”.
Foi assim quando os petistas todos, inclusive Humberto Costa e Maurício Rands, lhe disseram que seu nome estava fora do debate de outubro.
Na oportunidade, João Paulo sentou-se com lideranças de todos os partidos e promoveu um verdadeiro leilão de seu decadente prestígio.
Depois, nas vésperas da votação do dia 20, o ex-prefeito espalhou que iria votar e partir para a África do Sul, ver zebras e pavões.
E, por fim, a última fugidinha de João Paulo foi da própria reunião com a Executiva Nacional. “Não fui convidado por Rui Falcão”, justificou-se esperando uma ligação de última hora ou um telegrama o convocando.
Por fim, ainda em seu discurso, Lula arremata e diz que o PT é o resultado “da consciência que os trabalhadores conquistaram, após muitas décadas, de servirem de massa de manobra dos políticos da burguesia e de vanguarda da classe operária.
Só os trabalhadores podem conquistar aquilo a que têm direito.
Ninguém nunca nos deu, ninguém nunca nos dará nada de graça”. À luta, companheiros!