O partido partido Por Alberto Lima, especial para o Blog de Jamildo, de Brasília Lembro de quando cobria eventos do PT, nos batentes do jornalismo político em Pernambuco, e ouvia da militância entusiasmada o seguinte bordão: “partido, partido, é dos trabalhadores!”.

Sempre ria comigo mesmo do trocadilho que a frase gerava porque, realmente, não conheço partido mais partido do que o dos trabalhadores.

O processo de prévias ocorrido recentemente no Recife externou bem essas fraturas, responsáveis pela autoimplosão da legenda no Estado.

As disputas internas para a escolha de um candidato são salutares e democráticas.

François Hollande, novo presidente da França, travou dois turnos de uma confrontação dura dentro do próprio partido, o Socialista, antes de ser ungido como concorrente de Nicolas Sarkozy e, numa memorável campanha de coesão em torno do seu nome, derrotar o postulante à reeleição.

Mas, sob as lonas desse circo petista montado no Recife, o que se viu foi uma bufonaria das piores.

Houve ali uma briga intestina por poder que jogou de um lado o inepto, combalido e alienado João da Costa e, de outro, um grupo de oportunistas encarnados por Maurício Rands, que viu na tibieza do prefeito o cartão vermelho com que poderia expulsá-lo do jogo e substituí-lo no cargo, como se o Recife fosse um feudo do PT.

Ficou absolutamente claro que o único fim dos dois grupos era a prefeitura, com o seu prestígio, seus cargos, seu polpudo orçamento. Às favas, o Recife, pelo qual nenhum dos lados se mostrou realmente interessado em zelar e propor soluções aos graves problemas que o assolam.

A verdade é que, na capital, o PT perdeu o gosto de administrar.

Doze anos de gestão jogaram o governo municipal numa inação e numa letargia sem precedentes, em prejuízo total da cidade.

O partido passou a girar em torno do próprio eixo.

E o Recife virou uma espécie de satélite, sem luz própria, servindo apenas para orbitar em torno dos caprichos do politburo petista.

Virou sua periferia.

O PT demonstrou, assim, que só tem interesse no poder pelo poder.

Não há resultado a ser tomado quanto às eleições do domingo que venha a redimir as imensas rachaduras na sua estrutura.

Ela está condenada.

Não há como repará-la.

Se ela não desmoronar sozinha, precisa ser destruída e refundada em novas bases, se o partido quiser seguir existindo em Pernambuco.

Mantida a vitória de João da Costa, ninguém supõe ver Rands, Humberto Costa e João Paulo, o doutor Frankenstein do atual prefeito, em seu palanque.

O fogo de fuzilaria aberto mutuamente inviabilizou qualquer possibilidade de reconciliação verdadeira entre as duas partes.

Da mesma forma, se uma decisão vier mudar o resultado das eleições e declarar derrotado o ganhador do domingo, é sensato acreditar que João da Costa não mandará flores a Rands.

A tudo, Eduardo Campos assiste confortavelmente do Palácio do Campo das Princesas.

Com os altos índices de aprovação de que dispõe, ele encarna para o eleitor a segurança da continuidade.

Mas sou capaz de apostar que não vai gastar seu capital político para salvar o PT do próprio lamaçal em que se meteu.

Cindindo com os petistas no Recife, ele encarnará também a vantagem da mudança com um candidato próprio, depois de mais de uma década de petistas na prefeitura.

O bom coelho que tem guardado na cartola não demorará a aparecer.

Com uma oposição tão ou mais aparvalhada quanto o PT, não duvido que passeie imponente, braços dados com o seu candidato, sobre tamanho mafuá de incompetentes.

Tem grandes chances de abocanhar a capital – eterno calcanhar de aquiles dos arraesistas – e aumentar seu poder político e pessoal na disputa de 2014, para onde lança gordos olhos.

O que seria uma lástima para o saudável equilibrio das forças políticas em Pernambuco.

Num cenário conturbado assim, em que os nomes não estão postos, é impossível arriscar que candidatos ou que partidos teriam mais chances de vencer a disputa pela prefeitura.

Mas, a cinco meses da guerra nas urnas, já se tem claramente o nome do grande derrotado das próximas eleições no Recife: o Partido dos Trabalhadores.

Alberto Lima é jornalista