Por Edilson Silva, especial para o Blog de Jamildo Das conclusões iniciais que podemos tirar das prévias petistas do último domingo talvez uma das principais seja que o Recife precisa reinventar uma esquerda política para chamar de sua.

A campanha das prévias, as situações percebidas durante o processo de votação, e agora os desdobramentos do resultado, com acusações e denúncias graves, mostram um salto de qualidade quase inimaginável na falência ética e política de um partido que ainda se mantém com grande relevância em importantes espaços sociais e políticos de nossa cidade.

Durante semanas os dois pré-candidatos petistas se digladiaram sem que abrissem a boca a respeito de quaisquer diferenças entre temas sobre os quais nossa cidade se mobiliza.

Divergiam sobre o projeto Novo Recife da Moura Dubeau?

Divergiam sobre os viadutos na Agamenom?

Divergiam sobre o Plano Diretor da cidade e a política municipal de transportes?

Sobre a política de valorização dos servidores, sobre o projeto Capibaribe Melhor, sobre a efetividade da participação popular na gestão da cidade, sobre a não concretização da Rádio Frei Caneca?

Enfim, sobre o que divergiam os dois pré-candidatos?

Foi tudo de uma pobreza extrema.

Para além desta pobreza, as acusações de lado a lado, na campanha, no dia das prévias e agora após o resultado, dando toneladas de argumentos para que opositores que já governaram a cidade arvorem-se a fazer apelos ao passado, foi e está sendo um capítulo trágico à parte.

Recife não merece debater-se entre um presente e um passado protagonizados por estes que agora se digladiam como “principais” pré-candidatos.

O passado que a cidade reivindica é aquele que a projetou para o futuro, é o passado que pode ser simbolizado por Frei Caneca, Pelópidas da Silveira e Gregório Bezerra.

O presente que o espírito rebelde e transformador de nossa cidade reivindica é o do #ocupeEstelita, da bicicletada, das marchas que se multiplicam, das lutas contra a opressão aos negros, mulheres, população LGBT, dos colaboradores do Observatório do Recife que buscam radiografar nossa cidade e sugerir soluções necessárias e possíveis, e de tantas outras intervenções não menos importantes. É para homenagear este passado e este presente que o Recife precisa resignificar uma esquerda para chamar de sua.

Uma esquerda não para materializar-se numa gestão, mandato ou partido somente – pois é impossível qualquer destes “invólucros” apreender esta riqueza -, mas num projeto societário libertário, que projete um Estado laico e acolhedor da diversidade e complexidade das subjetividades humanas – e Recife é de uma multiculturalidade espetacular; em algo que simbolize as parcelas transformadoras da nossa sociedade e possa enfrentar-se dialeticamente com o conservadorismo que vê na falência ou fadiga extrema do PT uma vaga para inflar o seu obscurantismo.

Não se trata, portanto, de termos agora uma atitude meramente moralista e denuncista, pois se assim o fizéssemos poderíamos ter ao nosso lado um udenista ou um fascista de plantão, gritando por ética na política.

Resignificar uma esquerda em nossa cidade é muito mais, e o PSOL tem compromisso com esta construção.

Presidente do PSOL-PE