Por Daniel Leite A expressão no rosto de Manuel Bandeira, ao pensar sobre a vida do Recife nos tempos de outrora, nos fazem lembrar que, um dia, a cidade fora um lugar onde se podia compartilhar das calçadas, das conversas, dos encontros, da vida.

Passados tantos anos desde a publicação de sua poesia “Evocação do Recife”, a cidade mudou.

E muito.

Ainda existem chiés à beira do Rio, no restinho de mangue, lutando para sobreviver.

Mas a calçada da rua da Aurora não é mais a mesma.

As famílias não fazem mais os seus passeios diurnos.

Tudo mudou.

Mas o que aconteceu?

A violência ganhou, os carros se impuseram, a ponte esvaziou, os sorrisos desapareceram, o sonho secou e as virgens correram.

Hoje, a estátua de Manuel faz questão de nos lembrar que o Recife já foi um lugar agradável.

Que tudo é uma questão de vontade.

E o Recife mudou por falta dela.

Não precisamos nos acostumar com o Recife que se impõe.

Não precisamos nos curvar ao “determinismo político” vigente.

Não precisamos aceitar tanta falta de dignidade em nossa cidade.

Não queremos deixar de viver o Recife.

Ou seja, queremos voltar a viver.

Viver a nossa cidade.

Viver em paz.

A mão no rosto de Bandeira nos remete ao Recife de antes.

Mas também pode sugerir um olhar mais crítico sobre o Recife de hoje.

Agora, Manuel é obrigado a conviver com a imagem do prédio da prefeitura ao fundo, dividindo espaço com o rio.

Esta composição nos traz outras interpretações, principalmente no momento atual de nossa política.

Parece até que a expressão do poeta mudou…

Não vamos deixar você ficar com vergonha da gente, Manuel.

Não queremos e nem podemos fazer você passar por isso.

A cidade deve ser vivida!

E o cidadão vai sentir que merece e tem o direito de vivê-la.

Não vamos deixar que interesses políticos e econômicos nos façam esquecer o Recife que queremos.

Nós temos o Recife no peito e podemos fazer algo para mudar esta situação.

Queremos um #recifelivre e vamos lutar até o fim por isto.

Por Manuel.

Por José.

Por Maria.

Por todos nós.

Pela nossa história!

Pelo nosso futuro!

Jornalista e mestrando em sociologia pela Sorbonne-Paris.