Investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) chamou o procurador-geral, Roberto Gurgel, de “sem vergonha” durante o escândalo do caso Palocci, em 2011. Áudios obtidos pelo jornal O Estado de S.
Paulo mostram que, em conversa com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o parlamentar afirmou que tinha de “bater” em Gurgel para ele não se animar a investigá-lo.
Segundo a Polícia Federal, a interceptação foi feita na manhã seguinte a um pronunciamento no Senado em que Demóstenes criticava a atuação do procurador-geral, que arquivou a investigação contra o ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, Antonio Palocci, por enriquecimento ilícito a partir de consultorias supostamente prestadas por sua empresa, a Projeto.
A representação foi feita pelos partidos de oposição.
Na ocasião, o senador foi um dos maiores críticos à postura de Gurgel. “Se não der nele, ele (Gurgel) começa a pegar a gente também, você entendeu?
Agora, se ele está cumprindo obrigação do governo agora ele inocenta o governo e depois pega um da oposição.
Isso é sem vergonha.
Se não bater nele, ele anima”, disse Demóstenes, em conversa às 10h06 do dia 7 de junho de 2011.
Cachoeira elogiou o discurso do parlamentar e ressaltou que o procurador ficou “desmoralizado” depois da fala do senador.
Na época em que Demóstenes criticava Gurgel, a PF já havia remetido ao procurador peças do inquérito da Operação Vegas, que demonstravam a proximidade entre o senador e Cachoeira.
Nos grampos, o parlamentar pede dinheiro ao contraventor para pagar suas despesas.
Contudo, mesmo de posse do material desde 2009, o procurador só pediu autorização ao STF para investigá-lo em 2012 após a crise provocada pela Operação Monte Carlo.
Na quarta-feira, dia da primeira sessão da CPI do Cachoeira no Congresso, o senador Fernando Collor (PTB-AL) propôs a convocação de Gurgel, mas o requerimento foi rejeitado.
Questionado pela imprensa sobre por que não pediu autorização para investigar Demóstenes em 2009, Gurgel afirmou que o inquérito daquele ano dependia de informações que só viriam a ser obtidas na Monte Carlo, deflagrada há dois meses.
Ontem, a Procuradoria-Geral da República não comentou as críticas de Demóstenes relacionadas à atuação de Gurgel.
Por meio de seu advogado, o senador informou que não comentaria os áudios da Monte Carlo. fonte: Agência Estado