Por Ayrton Maciel, especial para o Blog de Jamildo A sorte está lançada!.
Para quem gosta de correr riscos, o ditado popular traduz o jogo no qual o PT pediu cartas.
O racha e disputa interna, no PT do Recife, reverberando por osmose no PT estadual, pode deixar uma conta impagável.
Vencendo um ou outro a prévia do dia 20 de maio.
Se o secretário de Governo do Estado, Maurício Rands, derrotar o prefeito João das Costa, a cúpula de notáveis do partidos - senador Humberto Costa, deputados federais João Paulo e Pedro Eugênio, deputados estaduais e vereadores, presidências da CUT e da Fetape -, com expressão nacional, vai ser acusada de asfixiar a máquina burocrática do partido e a militância periférica das zonais e tendências corporativas, parte delas estável em cargos comissionados ou gratificados.
Vão se acusados de sufocar a democracia participativa, a renovação dos quadros.
A derrota será estrutural, mas, quem está estável tem sempre uma ponderação a mais para fazer.
Vai doer, mas o resgate pode ser administrativo, caso o PT vença em outubro.
Uma vitória de João da Costa, na prévia do PT, será um derrota política de uma cúpula histórica - que tem a mesma idade do partido -, com repercussões difíceis de prever, pois representará a perda de poder, a quebra da hegemonia interna, a desorganização da liderança partidária.
Um resultado que extrapolaria o PT, atingindo aliados, em particular, o Palácio do Campo das Princesas.
Afinal, é pública - na medida em que a versão não tem sido desmentida - a preferência do governo e do governador Eduardo Campos (PSB) pelo seu secretário Rands. É pública, mas não explícita , também, a preferência do líder dos partidos que defendem uma candidatura alternativa a João da Costa, o senador Armando Monteiro Neto.
E, ainda, é pública, notória e explícita, agora, a preferência do ex-prefeito do Recife, João Paulo, igualmente por Rands.
Prefeito com avaliação negativa da gestão, entre a população, ex-assessor de João Paulo, que nunca tinha tido vida política própria, e que foi ungido à Prefeitura do Recife pela força política, carisma popular e prestígio de dois mandatos do seu ex-padrinho político, João da Costa pode causar um estrago na organização conservadora do PT e um terremoto na Frente Popular de difícil ajuste.
De uma só vez, se ganhar a prévia, terá derrotado seus históricos líderes e do PT de Pernambuco, com influência nacional no partido, e aliados estaduais de maior expressão ainda.
De quebra, pode ascender ao comando estadual - o mínimo, dividindo espaços - a base periférica corporativa. É por cenário imprevisível, possivelmente, que o senador Armando Monteiro Neto, seu PTB e partidos alternativos da Frente Popular demonstram, até agora, esperar para aguardar o final jogo.
Em recente entrevista, o senador petebista foi claro: “E se Rands não ganhar?”.
O PT é realmente um partido diferente dos outros, os fisiológicos e os ideológicos.
Os primeiros decidem e intervêm conforme as conveniências, os segundos conforme a ortodoxia da hierarquia e da disciplina.
O PT é um partido sem disciplina partidária. É um colegiado de tendências oriundas ou com base no sindicalismo - a maior parte do serviço público, misturado com pitadas de ideologias esparsas de esquerda.
Uma mistura de feiticeira difícil de dar certo.
Em 1988, Lula - o nome que o partido já trabalhava para a presidência da República - concedeu entrevista a uma revista de circulação nacional, a Isto É, quando foi perguntado qual era a ideologia do PT.
Lula foi muito ou pouco claro, dá no mesmo: “o PT definirá a sua ideologia quando chegar ao poder”.
O partido chegou ao poder, permanece no poder, cresceu desproporcionalmente em relação aos demais - em parte alimentado por sua nuvem de tendências, em parte pela necessidade que o povo aspirava de ter uma alternativa aos partidos tradicionais e à prática e cultura políticas históricas, e não necessariamente ao conservadorismo -.
Esse tamanho desproporcional faz o partido perder, frequentemente, o controle sobre as instâncias hierárquicas inferiores.
Essa democracia sindicalista interna caracteriza o partido pela dificuldade de decidir.
João da Costa, hoje, insurge-se contra a cúpula partidária, e crendo que tem a seu lado a militância periférica, minimiza inclusive a avaliação popular da gestão, segundo as pesquisas de opinião.
Com a máquina pública da Prefeitura sob seu controle, agiganta-se, rebela-se e topa os personagens mais expressivos do partido.
Aposta que, se vencer, reverterá tudo o que hoje está contra.
Porém, isolado, pode se tornar o desastre para ele próprio.
Se ganhar a prévia, virá depois a eleição de outubro.
Pode ir para uma disputa à reeleição com uma tropa comandada por sargentos e cabos.
Os generais do partido e os cardeais da Frente Popular irão suar os uniformes e batinas?
Ou vão ficar se perguntando “o que é que vou dizer lá em casa?”.
O desastre pode ser estrondoso.
Mas, e se vencer também em outubro?
Propagando-se a ideia de que “Davi derrotou Golias”, João da Costa pode se sentir tão forte, tão onipotente, que o espaço do PT vai ficar pequeno em Pernambuco.
Vai precisar de tentáculos, e aí vai incomodar muito mais.