Com cerca de 50 especialistas brasileiros e de sete outros países realizou-se, no final de semana, no Recife, o Pernambuco no Clima, reunião preparatória do Rio/Clima – The Rio Climate Challenge.
O objetivo foi preparar a grande reunião dessa iniciativa paralela ao Rio + 20, dos dias 14 a 17 de junho.
Os trabalhos de preparação foram coordenados pelo deputado Alfredo Sirkis e pelo facilitador sul-africano Mark Young.
Foram acordadas a metodologia e a agenda da reunião de junho destinada a traçar as grandes linhas de um Acordo do Clima que atenda aos ditames da ciência para manter a concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera abaixo do limite de 450 ppm, mediante uma simulação de negociação entre os principais países emissores e alguns dos mais vulneráveis.
A reunião do Rio/Clima, durante a Rio + 20, terá uma sessão de abertura, no dia 17, presidida por Maurice Strong - que dirigiu a Rio 92 - com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do ex-secretário executivo das negociações do Clima da ONU, Ivo de Boer, da secretária executiva da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres e de alguns ex-chefes de estado ainda a confirmar.
Na noite de abertura haverá um concerto acústico com Gilberto Gil, Andy Summers & amigos.
De acordo com o encontro realizado no Recife, foi estabelecido que haverá três trilhas de negociação: mitigação, tratando a redução de GEE pelos vários países e segmentos da economia mundial; adaptação, buscando estratégias voltadas para águas e alimentos na previsão de uma aumento da temperatura de 4.5 graus até o final do século – a tendência atual – e de financiamento da transição para economias de baixo carbono.
Os grupos formados para o Rio Clima tratarão ainda de inovação tecnológica (energias limpas, novos produtos financeiros) e de uma nova métrica unificada na forma de medir os compromissos de redução de emissões dos diversos países.
As conclusões serão debatidas e negociadas por dirigentes políticos dos 15 países de maior emissão e quatro dos mais vulneráveis que esboçarão, durante a Rio + 20, as grandes linhas de um Acordo do Clima capaz de atender à ciência.
Também serão elaborados pontos de recomendação para o “segmento de alto nível” (chefes de estado) da Rio + 20, atinentes a economia verde e governança e recomendações para a COP 18, em dezembro, no Qatar.
O Rio/Clima – Rio Climate Challenge deverá constituir um think tank (um centro de reflexão) sobre mudanças climáticas, baseado no Rio de Janeiro, e destinado a interagir tanto com o processo da ONU quanto com outras instâncias que venham a tratar do Clima, que no consenso já formulado no Recife, deveriam incluir o G-20 e o Conselho de Segurança da ONU. “Demos um passo muito importante.
Agora é certo que a questão do Clima será abordada em profundidade durante a Rio + 20 e teremos, ao final, um instrumento de sensibilização da opinião pública internacional à disposição dos governos, mostrando que ‘sim, é possível’ um esforço planetário que consiga conter a concentração de GEE na atmosfera abaixo de 450 ppm com a possibilidade de limitar em 2 graus o aquecimento médio do planeta, neste século” afirmou o coordenador do Rio/Clima, deputado Alfredo Sirkis.
Segundo ele, “se a curva atual de emissões de GEE não for revertida vamos até o final do século para um aquecimento de 4.5 graus.
Pior: com os eventuais efeitos exponenciais, os feedbacks – liberação do metano do permafrost do Ártico e do fundo do mar, a perda da capacidade de absorção de carbono dos oceanos e das florestas tropicais, consequências do aquecimento já em curso – corremos o risco de que isso vá a 6 graus!
O cenário de 4.5 graus já será um inferno na terra, com colapso da agricultura em diversos países, fome, migrações descontroladas, guerras em torno da água e terras férteis, furacões, enchentes e aumento do nível dos oceanos.
Um aumento de 6 graus não dá nem para pensar…
Por isso temos que aproveitar a janela de oportunidade dos próximos 20 ou 30 anos, que os cientistas dizem existir, para prevenir essa catástrofe anunciada para a geração de nossos netos, viabilizando uma economi a de baixo carbono através de medidas duras de corte de emissões e precificação do carbono, um “Bretton Woods do baixo carbono”, trazendo os trilhões de dólares do sistema financeiro especulativo para as energias limpas e uma revolução na inovação tecnológica”.
Para Sirkis, “o Brasil está bem posicionado para liderar esse processo e o Rio precisa garantir seu lugar como a cidade de referência de tudo isso, afinal, foi aqui, na Rio 92 que foi negociada a Convenção do Clima”.
A reunião preparatória no Recife foi uma iniciativa das subcomissões Rio+20 no Congresso Nacional, com a realização do Instituto Ideação em parceria com a Fundação Ondazul, e o patrocínio do Governo de Pernambuco, da Prefeitura do Recife e da Chesf.
Participaram do evento o ex-ministro da cultura Gilberto Gil, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o prefeito do Recife, João da Costa, o secretário de meio-ambiente do estado, Sérgio Xavier, o secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), Luís Pinguelli, o secretário executivo do Fórum de Mudanças Climáticas do Rio de Janeiro, Sérgio Besserman – representando o prefeito do Rio, Eduardo Paes - o ex-presidente do FBMC, Fabio Feldmann, a responsável de economia verde do governo do Rio de Janeiro, Suzana Khan, o professor Emilio de La Rovere da COPPE, o ex-diretor do Serviço Florestal Brasileiro Tasso Azevedo, o professor Eduardo Viola, os professores do MIT e da Tufts University Travis Franck e Mieke van der Wassem, o presidente do Breakthrough Institute Michael Shellemberger, e o professor Bana e Costa, da London School of Economics, entre outros especialistas dos EUA, África do Sul, Índia, Suécia, E spanha, Portugal e Brasil.
Dois convidados especiais, o ex-ministro da Justiça de Israel, no governo Isaac Rabin, Yossi Beilin, e o secretário geral da OPL, Yasser Abed Rabbo, aportaram à reunião seu depoimento sobre a Iniciativa de Genebra, da qual foram ambos artífices, que consistiu em um abrangente e detalhado acordo de paz simulado entre Israel e os Palestinos, realizado em 2003.
Na cerimonia de abertura, presidida pelo governador Eduardo Campos, participaram também o senador Sérgio de Souza (PMDB) e os deputados federais Alfredo Sirkis (PV), presidente da sub-comissão Rio + 20 e coordenador da Rio/Clima, Zequinha Sarney (PV), presidente da Comissão de Meio Ambiente, Márcio Macedo (PT), presidente da Comissão de Mudanças Climáticas e Fernando Ferro (PT).