Para Tasso Azevedo, que participa no Recife de reunião prévia para a Rio Climate Challenge, o sucesso de acordos para o meio ambiente pode ser mais importante para os líderes políticos do que deixar obras como pontes e estradas O consultor em florestas e mudanças climáticas Tasso Azevedo, primeiro diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro e um dos principais articuladores do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, do Fundo Amazônia e das metas nacionais de redução das emissões de gases do efeito estufa, é um dos participantes da prévia da Rio Climate Challenge (RCC), que acontece este final de semana no Recife (PE).

Para o consultor, o encontro é a tentativa de se buscar uma abordagem diferente para solucionar um impasse global. “Sabemos o que precisa ser feito, mas o caminho para chegar lá envolve questões econ??micas que travam as discussões”.

A RCC é uma iniciativa das subcomissões da Rio+20 no Congresso Nacional, a fim de simular um acordo válido para todos os países até 2015, como preconiza a Organização das Nações Unidas (ONU).

Ontem, no primeiro dia do evento no Recife, realizado pelo Instituto Ideação e patrocinado pelo Governo de Pernambuco, pela Prefeitura e pela Chesf, o destaque foi o debate em torno Protocolo de Genebra, a partir do testemunho do israelense Yossi Beilin e do palestino Yasser Abed Rabbo. “São atores que não são os negociadores oficiais, mas poderiam perfeitamente ser, representam esses interesses”, comentou Tasso Azevedo. “Se a gente conseguir tirar lições disso, embora seja um problema de outra dimensão, envolvendo muitas partes, e não apenas duas, poderemos encontrar um caminho para oferecer uma possível solução no processo da Rio+20”.

Nas atividades de hoje, a reunião que conta com participantes de sete países pretende desenhar a metodologia para a RCC, que acontece em junho em paralelo à Rio+20.

A metodologia diferenciada é considerada fundamental, embora, como recorda Tasso Azevedo, a conclusão de ontem foi de que o ideal é que não se tenha que planejar demais todos os passos. “Precisamos compor os grupos de tal forma que eles possam verdadeiramente representar as forças e os interesses dos principais atores do debate sobre o clima.

A partir daí o desafio será ter esses interlocutores interessados em desempenhar o papel, e garantir a presença deles”, explica Azevedo.

A tarefa é identificar alguém na China, por exemplo, que compreenda o processo de decisão política chinês, e que ao chegar aqui seja olhado de lá, por quem toma as decisões, como alguém de credibilidade para os interesses chineses. “Não acho que seja uma impossibilidade, mesmo sendo um tema difícil.

O envolvimento do Congresso, com a participação de ex-presidentes, ajuda bastante.

E é legal ver o Congresso protagonizando alguma coisa positiva nos dias de hoje no Brasil”, diz o consultor, que fundou o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Sobre a realização do encontro preparatório no Recife, Azevedo acredita que é resultado da ação de lideranças políticas comprometidas com o meio ambiente. “Sérgio Xavier (secretário estadual de Meio Ambiente) está nessa discussão há muito tempo.

Mais importante será se isso no futuro for algo de sucesso, porque poderá ser contado como legado, ao invés da construção de uma termelétrica, uma ponte ou uma estrada.

O único legado do Fernando Collor é a Rio 92.

Foi a conferência de maior sucesso na história”.

Para Tasso, isso pode influenciar outros tomadores de decisão, de olho em um legado permanente semelhante.