BRASÍLIA.

O sargento Idalberto Matias, o Dadá, apontado como um dos chefes do serviço de espionagem do bicheiro Carlinhos Cachoeira, era mais que um simples interlocutor do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Numa entrevista ao GLOBO, quinta-feira, o ex-presidente da Infraero brigadeiro José Carlos Pereira disse que Dadá se apresentava como empregado de Demóstenes.

Os dois, o brigadeiro e Dadá, tiveram aproximadamente 20 encontros do final de 2008 a 2011.

Dadá está preso desde 29 de fevereiro.

Ele é apontado pela Polícia Federal como um dos principais integrantes da quadrilha supostamente chefiada por Cachoeira.

Dadá é suspeito também de encomendar até a interceptação de e-mails do deputado Fernando Francischini (PSDB-PR). — O Dadá me dizia que trabalhava para o Demóstenes — disse Pereira.

Segundo ele, os dois começaram a se encontrar durante a CPI do Apagão Aéreo, entre 2007 e 2008.

O brigadeiro deixou a presidência da Infraero em agosto de 2007, mas manteve conhecimento e certa influência no setor, onde trabalhou por muitos anos.

Nos primeiros encontros, o preposto do senador fazia perguntas sobre casos de corrupção dentro da Infraero, a estatal responsável pela administração dos aeroportos no país e que fora alvo da CPI.

Depois começou a se interessar especialmente sobre contratos e licitações na área de informática.

O brigadeiro disse que percebeu o “perigo” e mandou o sargento dizer a Demóstenes que não teria licitação alguma para compra de equipamentos ou contratação de serviços de informática na estatal. — Eu disse ao Dadá: “diga ao Demóstenes que não vai ter licitação na Infraero”.

A Infraero já tinha muita gente nessa área, produz seus softwares, não precisava de mais nada — afirmou Pereira.

Numa das investigações sobre a exploração ilegal de caça-níqueis e jogo do bicho em Goiás, a Polícia Federal flagrou conversas de Demóstenes e Cachoeira sobre um nebuloso negócio na Infraero, conforme revelou o GLOBO na sexta-feira da semana passada.

Numa dos diálogos, interceptados no dia 4 de abril de 2009, Demóstenes e Cachoeira falam em código sobre a estatal e sobre os encontros do sargento espião, Dadá, com o brigadeiro numa padaria da Asa Sul, em Brasília.

Aparentemente, Dadá foi escalado para negociar com Pereira, mas não estava tendo sucesso na empreitada.

O bicheiro ordena, então, que o senador assuma o comando da transação Numa das investigações sobre a exploração ilegal de jogos por Cachoeira, a Polícia Federal gravou conversas de Demóstenes com Dadá.

Em uma delas, os dois tramam a produção de uma polêmica no Senado.

Procurado quinta-feira para falar das declarações do brigadeiro sobre a relação de Demóstenes com Dadá, o advogado do senador, Antonio Carlos de Almeida Castro, não retornou.