No Caderno de Cidades do JC Menos de 15 dias depois de a Prefeitura do Recife retirar da Praça Maciel Pinheiro 23 moradores de rua, outro grupo do mesmo tamanho ocupou a área, na Boa Vista, Centro.

Os sem-teto arrancaram parte dos tapumes que isolavam a praça para serviços de manutenção e também passaram a usar a Maciel Pinheiro como moradia.

Procurada pelo JC, a Secretaria de Assistência Social informou que enviou equipe ao local, ontem à tarde, e contou 22 pessoas. À noite, os tapumes tinham sido retirados, mas algumas pessoas ainda circulavam pelo espaço.

Pela manhã, havia dezenas de jovens com garrafas PET cheias de cola.

Outros dormiam em colchões espalhados na calçada da praça, no trecho da Rua do Aragão.

Os tapumes, os bancos recém-pintados e os arbustos haviam sido transformados em varal de roupa.

Protegidos pelo que sobrou das tábuas, tomavam banho, escovavam dentes e lavavam as vestes na água da fonte.

Por volta das 9h, uma moça ainda sonolenta era vista atravessando a praça segurando nas mãos uma escova de dentes e um copo de plástico.

Aproximou-se da fonte, abaixou o roupa para urinar e fez a higiene pessoal.

Duas horas mais tarde, sentou-se na beira da fonte, tomou banho, trocou de roupa e saiu às ruas. “Eles levam a vida na praça, fazem de tudo lá dentro, até cozinhar”, diz uma mulher que trabalha nas proximidades.

Segundo ela, o grupo tirou os tapumes no domingo à tarde e anteontem pela manhã.

A prefeitura isolou a praça dia 5 e até sexta-feira passada pintou bancos, gradil e luminárias, além de lavar a fonte.

De acordo com a prefeitura, o serviço está pronto. “Enquanto tinha movimento, nenhum deles reapareceu.

No domingo, quebraram tudo.

Uns gritavam que iam vender as tábuas, outros diziam que fariam barracos”, comenta uma comerciante.

Comerciárias viram, anteontem, uma menina drogada, aparentando 13 anos de idade, tentar agredir dois PMs na praça com um pedaço de pau que servia de suporte para o tapume. “Estamos perdendo clientes por causa dessa situação e não temos segurança para trabalhar”, destacam.

A secretária de Assistência Social do Recife, Niedja Queiroz, informou ontem à noite que um guarda municipal ficará no local para impedir depredação, já que os tapumes foram removidos. “Há muitos adolescentes e alguns homens, mas nenhum é do grupo antigo.

Vieram da Rua do Imperador, também no Centro do Recife.” Todos serão encaminhadas para tratamento contra dependência química, casa de família ou medida de proteção. “Vamos analisar os casos, ninguém vai permanecer na praça”, declara.

Dos 23 moradores recolhidos no início do mês, 17 continuam em abrigos municipais, com atendimentos em Centros de Atenção Psicossocial (Caps).