Por Beatriz Braga, especial para o Blog de Jamildo Mais de três mil novos carros foram matriculados, em uma média mensal, ano passado no Recife, correspondendo, no final de 2011, a 43.139 novos veículos circulando nas ruas da cidade, segundo o Departamento de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE).
Enquanto a frota de carros aumentou 8,2% ao ano, as ruas cresceram menos de 1%.
Com todos os projetos para melhorar a mobilidade no Recife, os donos de carros particulares sonham com um futuro mais “desafogado”.
No entanto, o Recife deverá seguir os modelos internacionais e, em um futuro próximo, o trânsito caótico deverá atingir os bolsos daqueles que se recusarem a migrar para o transporte coletivo.
Segundo o presidente do Grande Consórcio do Recife, Nelson Menezes, “o transporte individual ficará cada vez mais difícil.
Se a sociedade não quiser o transporte público, vai sofrer um pouco”.
A cidade está caminhando para uma intensa mudança cultural, em que a classe média deverá, aos poucos, enxergar com outros olhos o transporte público.
Para o presidente do Instituto Pelópidas Silvera, Milton Botler, “haverá a implantanção da mudança cultural dos delocamentos.
Em lugar nenhum do mundo há solução para o veículo individual como o modal hegemônico.
A cidade não tem espaço infinito e as frotas crescem indefinidamente.
Não dá pra ir todo mundo de carro, a gente está mostrando isso.
Nós moramos em um lugar onde o transporte coletivo é pensado como um transporte de pobre.Quando a classe média começar a usar o transporte coletivo, ela verá as melhoras”.
Com o objetivo de tornar o transporte público atraente, a cidade está recebendo várias intervenções urbanas para priorizar quem opta pelo sistema coletivo.
A exemplo do BRT (Bus Rapid Transit), que consiste em corredores exclusivos para ônibus e incorpora as características do metrô, porém com o custo reduzido, como o embarque em nível e bilhetes pré-pagos.
Enquanto um quilômetro do metrô custa R$ 350 milhões, no BRT, se paga R$ 17 milhões.
Botler prevê, à medida que o transporte público se torne mais eficiente e confortável, a implementação de medidas que “mexam no bolso” da classe média para incentivar a redução do uso de carros. “Existe a ideia dos edifícios garagens, por exemplo, que o governo deverá lançar uma chamada pública para isso em breve.
Serão implantados em áreas estratégicas e para cada vaga ocupada, se tira uma vaga da rua.
Para o motorista, termina acontecendo um acréscimo de custo, porque você paga o estacionamento. É preciso tirar o veículo parado na rua, colocar uma ciclovia no lugar de onde tinha a faixa de estacionamento, por exemplo", afirmou.
Segundo o professor de urbanismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), César Cavalcanti, as medidas restritivas serão de difícil aceitação na sociedade, mas deverão fazer parte, em breve, do planejamento urbano. “O problema é que toda cidade tem um limite na quantidade de carros, não é possível continuar indefinidamente.
Algumas cidades europeias já usam o pedágio urbano, a limitação do fluxo de determinados veículos e outras medidas para limitar o uso de carros”, explicou.
As medidas restritivas já se tornaram tendência ao redor do mundo, como na Suíca, em que foi imposta a redução do estacionamento nas cidades do país, diminuindo o número de vagas e restringindo o tempo de permanência nas remanescentes.
Londres, Oslo, Roma e Milão instituíram o pedágio para veículos em áreas específicas, Paris distribuiu 20 mil bicicletas em 750 pontos de embarque e implantou corredores exclusivos em várias artérias e Bogotá, na Colômbia, restringiu o trânsito de automóveis durante horários de pico e construiu corredores de BRT para ônibus.